terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Kalandula


Mais uma vez de volta a terras de Malanje, desta vez finalmente para desfrutar. Após Cacuso encontrámo-nos numa recta que se estendia para lá do horizonte, bem, recta mais ou menos, pois em determinado ponto existe uma chicane, mas o piso é óptimo e o traçado também. O dia estava fresco, nebuloso, a ameaçar chuva. Ao cruzar o rio Lucala deparámos com uma ponte testemunha dos tempos atribulados porque esta terra passou, metade em betão, antiga e metade metálica, da engenharia militar. Subimos ao planalto e entrámos em Kalandula, via dupla com duas faixas em cada sentido, separador ao centro, casas relativamente cuidadas, da época colonial, seguimos para os derradeiros 4 km. Finalmente as quedas. São tudo aquilo que ouvira dizer. Maravilha da natureza. As fotos da praxe, e fica um gosto estranho na boca, fizemos 250 km “apenas” para ver um bolo de chocolate atrás de uma montra? Pode ser belo, mas falta-lhe o aroma e o gosto. O Domingos e o Mateus convenceram-nos a baixar à base da cascata. O início da íngreme descida mostrou-nos logo o que iríamos encontrar, muito verde, um ar de selva luxuriante, flores únicas, chilrear de pássaros desconhecidos e uma vista de cortar a respiração. Já nas margens do Lucala reparámos que havia que passar zonas bastante enlameadas, outras seria mesmo a vau, noutras ainda o mato era tão denso que nem se via o caminho. Finalmente chegámos ao destino. Visão fantástica. Um sorriso inundou a todos. Foi para isto que viemos. O vento resolveu então pregar-nos uma partida, pegou na água em queda livre, elevou-a e direccionou-a para nós. Num dia calmo, quente, com o sol a aparecer, vimo-nos completamente ensopados. Não nos levou a boa disposição contudo. O regresso fez-se por caminho, agora já conhecido, até ao distante topo do planalto, mais de 100 metros. Se a descida é rápida e tranquila, apenas requer cuidado para não ter uma queda, a subida exige fôlego. De volta ao topo e ao calor do verão africano, todos mais ricos, cansados, sujos e molhados, mas também felizes e esfomeados. O almoço foi uma deliciosa surpresa. Um belo cacusso grelhado, num restaurante aprovado pelo painel.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Balanço

Assim em jeito de balanço, que o 2014 já vai para desconto de tempo, vejo que o mundo ficou muito perigoso. Fundamentalismos avançam por toda a parte. Agendas escondidas governam grande parte dos países. Intolerâncias germinam. Polícias brancos matam negros nos EEUU diariamente. Desemprego. Desengano. Miséria. Milhares arriscam travessias suicidas em barcos apinhados, que afundam afogando sonhos. A Europa rica assobia para o ar, riscando do vocabulário palavras tão simples como: solidariedade, apoio, redistribuição, expectativas; numa sucessão de asneiras, que dariam vontade de rir não fora os efeitos devastadores em milhões de novos pobres. O mundo está a ficar perigoso. O novo passatempo dos meninos mimados europeus, é ir para a guerra no médio oriente, e postar filmes e fotos de decapitações e outras selvajarias inimagináveis no século XXI, vontade que subitamente pára quando o Iphone quebra e ficam sem conseguir estar nas redes sociais, nessa altura pedem ajuda aos papás para regressar aos países de acolhimento e voltar a usufruir do conforto burguês decadente…
África vai vendo o tempo passar e continua sem conseguir distribuir a riqueza que vai extraindo do subsolo pelas suas gentes, num ciclo de pobreza autofágico sem fim. As alterações climáticas começam a fazer-se sentir um pouco por todo o lado, num planeta sobrelotado em que algumas colheitas consecutivas falhadas podem ter efeitos devastadores. O planeta está vivo e começa a criar anticorpos para expurgar os parasitas que o violam incessantemente sem réstia alguma de respeito. Todos os sistemas caóticos tendem para o equilíbrio, pode demorar algum tempo, mas as leis da natureza também nos regem, por mais que tentemos olvidar.

Em termos pessoais o ano ficou marcado por um início absolutamente devastador, fruto de um acidente estúpido, que alterou as nossas vidas para sempre. Hoje somos outros, felizmente que nos momentos maus há alguém que diz presente, mesmo se tantos se vão. Há uma lágrima no canto do olho, permanente. Uma tristeza que tolda o olhar. Há sempre um som que nos faz recordar, uma loja que era os teus olhos, é certo que também há os novos amigos que nos fazem sentir bem, os teus amigos que nos abraçam, que nos dizem que devemos estar orgulhosos da filha que criámos. E os rios de lágrimas que descem em torrentes destes olhos que começam a ficar cansados… 

domingo, 30 de novembro de 2014

Carpe Diem

A questão do copo meio cheio ou meio vazio. Uns passam a vida a queixar-se como se todas as infelicidades do mundo lhes tocassem exclusivamente. Outros maravilham-se com cada dia, com o nascer do Sol, com a felicidade de por alguns momentos terem partilhado o caminho com alguém maravilhoso.
A vida é uma aprendizagem contínua, ainda bem que assim é, nada mais pavoroso que estar cá sem nada para aprender, para apreciar, para degustar, para escutar.
Tive o prazer de partilhar o caminho durante 18 anos com uma pessoa maravilhosa, que apenas desejava ser feliz, viver cada momento como se fosse o último, “Carpe diem”, que sabia o caminho que desejava percorrer.
A Inês era contagiosa, ninguém podia ficar indiferente às suas loucuras, tantas vezes ingénuas, às suas coloridas visões, à sua música, à sua boca torta tantas vezes referida, ao seu sorriso genuíno. Nunca vou esquecer a primeira vez que ouvi um solo seu, num concerto do Phydellius na Igreja dos Salesianos no Estoril, nem o estremeção que tal me provocou.
Esta madrugada completam-se 11 meses da sua prematura partida, é cedo para recordar um ano, mas como evitar um mar de lágrimas perante o aproximar desse marco que será a Terra estar a 30 dias apenas de completar uma órbita completa sem a Inês.
A vida é um caminho, maior ou menor, mas sempre com altos e baixos, pode sempre ser melhor, pode sempre ser pior. Embora por vezes só me apeteça rasgar o peito para extrair o coração dorido, outras sou capaz de sorrisos genuínos. A felicidade não é um estado permanente, é constituída por momentos, que há que saborear até ao fim, como quando chupamos os dedos após a degustação de algo extremamente saboroso.

Mesmo que esteja tudo predestinado independentemente da nossa vontade, quero continuar a pensar que a minha vontade conta, que a minha actuação é importante, que as minhas escolhas são na realidade feitas por mim. Sejam elas boas ou más. Sou o responsável pelos caminhos, bons ou maus, que tenho trilhado ao longo da minha vida. Quero continuar a desempenhar esse papel. E sei que a Inês me vai sempre acompanhar nesse trajecto.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Amarelo

Amarelo.
Ontem era amarelo que me sentia. Por dentro e por fora. Líquido, sólido, material e imaterial. Hoje não. Só por dentro. Só liquido, e não, não me refiro a cerveja.

As cores são curiosas, pois apresentam não o que são mas o que rejeitam. Assim se passa também com muitas pessoas. Não apresentam soluções, pensamentos, utopias, desenvolvimentos, mas apenas traições, recalcamentos, entropias, ressentimentos…

Mas ontem sentia-me amarelo. Integralmente amarelo. Tão amarelo como o Sporting esteve em Guimarães…
Há dias assim, mal coloridos, tal como os pães, por vezes saem mal cozidos. Há dias assim.
Ontem estava tão amarelo, que mesmo tentando, não consegui escrever, que… me sentia amarelo.

Hoje é completamente diferente. É outro dia. Como só estou amarelo por dentro, já consigo escrever como me sentia, ontem. 

domingo, 21 de setembro de 2014

Caminho

Descaminhou longamente rio abaixo, num serpentear flagelado pelo capim alto da beira de água. O calor húmido fazia desacreditar que a água estava lá dentro das margens, a transpiração era tanta que acreditou ter uma nascente de rio nos interiores recônditos da alma. Só as cantorias chilreadas por esvoaçantes seres lhe amenizavam as dores provocadas por capins de elefante, enormes, cortantes e omnipresentes, não podia escolher caminho melhor, só pior… Os olhos rasos de águas escorridas não conseguiam contemplar paisagens através de vislumbres deslumbrantes, nos raros momentos livres de capim. A fadiga lhe fazia despensar sobre o que fazer em caso de encontro com algum mastodonte naquele fim de mundo com os movimentos tolhidos pela densa mata. Após longas horas de catanadas pouco tinha avançado. O rio se lhe servia de guia orientativo, lhe impedia a marcha tal a densidade vegetativa no seu entorno. Resolveu afastar-se um pouco do rio, para ver se conseguia deslocar-se melhor. Após poucos minutos deparou-se com uma terra vermelha áspera, árida, despida, podia correr se lhe aprouvesse. Assim o fez. Em pouco tempo atingiu o seu destino. Ao banhar-se na água salgada do oceano sorriu e pensou como uma pequena inflexão no caminho pode ter resultados tão imediatos e significar a diferença entre caminhar indefinidamente por entre obstáculos intransponíveis e encontrar um caminho que realmente leve a algum lado.

Entre tantos defeitos do Homem algumas virtudes teriam que existir, a diversidade de opinião é a que mais valorizo. O apontar de caminhos alternativos. Quando existem muitas unanimidades a sociedade está doente e manipulada. Há sempre outro caminho. Há sempre alternativas. Por mais disparatadas que pareçam. Por mais ridículas que as queiram fazer parecer. O melhor caminho do mundo, se único, não será trilhado por mim. Quero ter sempre a alternativa de escolher o pior caminho, o meu!

domingo, 6 de julho de 2014

Maria

Maria, são teus sonhos imortais
Coloridos e geniais
De harmonia e orquestração sonora
Perpetuadas na Aurora

Eu sei,
Por isso te ajudei
Da tua ansiedade
Em partir para a cidade

A cumprir o teu tempo
Breve lamento
Cantado com alegria
Como há muito se não via

Qual primavera festiva
Felicidade furtiva
Meu amor presente
Meu futuro ausente

Minha lágrima salgada
Minha vida assaltada
O meu fado vindouro

Despojado do meu tesouro!

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Verdade

“A verdade dói, mas só ela cura. Dá um nó na garganta. Há uma lágrima que cai. O tempo não dá tréguas, nunca abranda. Seis meses já lá vão, desde que incompletámos. Por vezes parece uma luta desigual, qual D. Quixote a lutar contra moinhos de vento. Outras são prantos interiores, que deixam mossa. Outras fazemos parecer que tudo vai bem, embora as almas doloridas se arrastem miseráveis por catacumbas interiores inalcançáveis para observadores desatentos. Graças à energia absorvida de alguns (poucos) bons amigos destas horas adversas, vamos levantando do chão, embora por vezes outro tombo surja logo de seguida. Só podemos tombar se não estivermos já tombados. Presto homenagem aos que ajudaram neste período tão difícil, estão no nosso coração. Bem hajam.”

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Quem sou eu?

Quem sou eu? 

Nestes quatro anos africanos, se algo percebi sobre a pessoa que sou, compreendi que sou realmente português. Revejo-me no passado luso, independentemente, de episódios hoje politicamente incorrectos, das barbaridades cometidas. Sei que há episódios bastante tristes na história dos portugueses. Mas todos têm telhados de vidro. Além do que a história não é um conto de fadas, mas sim um registo factual de factos passados. Só conhecendo a história poderemos compreender o presente. Assim quem sou eu? Provenho de uma pequena comunidade agrícola. Limitada nos seus horizontes, porque auto-suficiente durante séculos. Educação baseada em princípios, tais como honra, trabalho, família, respeito. Gente modesta mas impoluta. Gentes de costas direitas. De princípios. Apanhei uma geração de mudança, com a industrialização da região. Cresci rodeado de livros. De música. Apanhei uma revolução antes de completar a primeira década. Assisti à primeira novela brasileira em Portugal, a Gabriela, Cravo e Canela, que nos mostrou outros modos de falar o português. E o gosto pelos livros do grande Jorge Amado. Embora já não tenha sido criado “à luz do candeeiro a petróleo” pude vivenciar o modo de vida dos meus avós, um, camponês que me passou o amor à terra, outro, sapateiro que sempre foi amigo de quem mais precisava, mesmo que a minha avó tivesse que andar atrás dos caloteiros para alimentar os filhos. Vi como se recebem “reis” em casas humildes, exactamente como os pedintes. Sempre houve um prato quente para quem dele precisou. A solidariedade nunca foi para mostrar nas colunas sociais, inexistentes de qualquer modo, mas sim algo intrínseco, como o ar que respiramos. Quem sou eu? Alguém para quem a honra não é uma palavra vã. Orgulhoso. Alguém que dá a camisa, independentemente de vir a precisar dela mais tarde. O único na família nesta actividade. Um idealista. Um amante das artes, das viagens. Alguém que adora a geografia, a sociologia, a história. Sou incapaz de ir a um lugar sem saber o que representa.

Como estou?

Retomei os sonhos. O gosto pelo pôr-do-sol. A geografia. A história. A filosofia. Sei que continuo incompleto. Talvez para todo o tempo que me resta. Estou grato. Mesmo se tantos me desapontaram, nestes quase, seis longos meses. Pois compreendi que mais importante que ter muitos amigos, é ter pelo menos um que conte, que faça a diferença, que se importe, que chore connosco, que nos passe energia. Estou incrédulo. A verdade continua a doer. Uma dor latente. Invisível. Presente. Estou mais sensível, mais frágil, mais forte, mais preparado, mais endurecido, mais próximo da verdade. Estou vivo e isso faz toda a diferença.

De que forma estou funcionando?

Uns dias a pilhas. Noutros em busca do Santo Graal. Nuns dias com vontade de chorar, noutros de ajudar. Ainda não sei por onde vou. Há muitos caminhos. Por um lado ainda bem, nunca gostei de unanimidades. Melhor uns dias, pior noutros. A rir e a chorar. Talvez mais extremo, agora não me basta o mais ou menos, o assim-assim. Estou mais exigente, mais ciente. Em busca. Com muitos sonhos, como uma criança solta no mundo, que se apercebe da sua pequenez, como um grão de areia numa praia. Não é nada. Mas a praia sem ela não é a mesma.

domingo, 15 de junho de 2014

Seis de Outubro de 1963

Aos seis de Outubro de 1963 foi inaugurada a barragem de Cambambe. Por Américo Tomás,  presidente da República. 

domingo, 8 de junho de 2014

Love caught me

Love caught me
Gave me no chance to run
Life brought me
To the arms of my hun
Wind send me
Wise notes of fun
Music gave me
Shades of the sun

Your voice melted frozen heart
As a rainbow over a golden sand ocean
Or the scent of a million flowers
Enlightening biggest towers
Like snow white’s potion

Was to Da Vinci’s art

terça-feira, 3 de junho de 2014

Reflexões

De volta ao cacimbo. O céu volta aos tons de cinza. As manhãs refrescam. As temperaturas sufocantes partiram para paragens distantes. A vida suaviza. A roda da vida gira sem cessar. Tão depressa estamos no alto da mais alta montanha, como estamos no fundo do vale mais profundo. Com o sufoco dos dias a afastar-se voltam os momentos de reflexão, agora possível, depois do início de ano inesperado, desesperado, transtornado e revoltado desde que nos conhecemos como gente.
Todos reclamamos contra a injustiça da vida. Ninguém está satisfeito com o que tem. Enquanto o mundo gira e avança, sucedem-se episódios dramáticos para quem os vive, rapidamente esquecidos por quem os rodeia. É assim que somos. É assim que é possível viver. A cada um as suas dores. Não podemos, nem queremos, acumular sofrenças alheias, que com certeza iremos necessitar sofrimentos próprios, mais cedo que mais tarde, na altura devida.
A cada inverno sucede sempre a primavera. A vida exige o recomeço, o ciclo, a morte. Quando tudo parece desesperar, surge a luz ao fundo do túnel. Quando a vida parece um conto de fadas, levamos um murro no estômago que nos tira o fôlego e nos faz tombar. Talvez a vida não seja injusta, talvez seja apenas vida. À falta de expectativas sobre o além, talvez devamos aproveitar esta vida do melhor jeito possível, com verdade, com tranquilidade, absorvendo cada instante como único e irrepetível.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Etosha


Uma diferença grande que sempre tive dos meus filhos e da Inês em particular, eu sou campo ela cidade, eu natureza ela betão, eu pó ela ar condicionado. O que temos em comum é o gosto pelo belo, cor, música, cinema, livros, amor.
Este fim-de-semana sempre fomos até Etosha, na Namíbia. Fiquei apaixonado. Um país cheio de espaço. Pouca gente, nenhuma confusão. Muita natureza. Arrumado. SEM LIXO. Gente tranquila. O parque é enorme ¼ de Portugal! Milhares de animais e muito espaço. O local certo para quem gosta de ver longe. Quilómetros de nada! Etosha, significa “Grande lugar branco”, não necessitamos de explicações quando lá chegamos, a terra é branca e o lugar é enorme.



Esta zona corresponde a um antigo lago, na época em que o rio Cunene corria para aqui, o branco é calcário e sal. A sensação de liberdade é incrível. Quilómetros de nada. No entanto Etosha abriga uma quantidade enorme de animais selvagens, que já perderam a batalha pela sobrevivência noutras paragens. Podemos percorrer todo o parque e não se vêm guardas em nenhum lado, nem lixo, nem turistas a desrespeitar as regras e passam por aqui 200.000 por ano. Quando o homem quer sabe respeitar o que o rodeia. A natureza é uma maravilha e é bom apanhar pó nestas demandas, mas tudo o que é de mais parece mal, ficámos no Mokuti Etosha Lodge, um rincão do paraíso.


Uma cozinha excepcional a juntar à cortesia do staff e à natureza omnipresente , com esquilos, e suricatas a correr por todo o lado, mais uns veados aparadores de relva.




O esquilo irrequieto



Para onde estarão todos a olhar?



Os aparadores de relva.

Cereais, mueslis, tábuas de queijos, frutas, carnes variadas incluindo caça, peixes saborosos, uma cozinha maravilhosa.
Fica a prova que quando respeitamos a natureza ela é pródiga e devolve-nos tudo com juros. Até o bem estar e a tranquilidade interior, o equilíbrio e a saudade.

Senti-me branco, imerso naquele mar de branco com uma miragem permanente ao longe…

domingo, 27 de abril de 2014

Etosha

Na próxima semana vou visitar e conhecer um parque de vida selvagem na Namíbia. Após mais três anos em África, finalmente vou ter, espero, a oportunidade de conhecer algo que até hoje só vi pela televisão. Coloco aqui a tradução que fiz de um prospecto do Parque Nacional de Etosha. Veremos se as expectativas são preenchidas, ultrapassadas ou apenas uma ilusão... Mas lá que promete, isso é inegável.

Antes de o Parque ser um Parque

O nome surge naturalmente, invocando imagens de caçadores-recolectores que estavam entre os primeiros residentes do Etosha National Park. O nome Hai||om é devido aos problemas experimentados pelos Hai||om com mosquitos e malária. Para afastar os mosquitos eles construíam andaimes de madeira com uma plataforma chamada ‘#heeb’ numa árvore e por baixo queimavam plantas que afastavam os mosquitos. Isto explica porque os Hai||om também são chamados ‘povo das árvores’ ou ‘moradores nas árvores.

Os homens caçavam usando uma combinação de sorte, perseguição paciente e o poder de uma seta envenenada para matar. As mulheres recolhiam comida a partir das plantas. Enquanto apenas três em cada dez caçadores Hai||om eram verdadeiramente especializados, a mulher nunca regressava a casa sem algo para comer – mesmo que isso representasse andar mais de 20 km em território de leões carregando uma criança às costas!


Hoje o Projecto Xoms |Omis, uma iniciativa que trabalha com os Hai||om para preservar a sua história cultural, económica e ambiental em Etosha, tem como objectivo proteger os laços dos Hai||om’s ao passado e à terra.



Namutoni

A construção do primeiro forte em Namutoni foi terminada em 1903. Era utilizado como posto de controlo num esforço para conter o alastrar da peste bovina que dizimava o sul e leste da África.

Em 1904, 500 soldados Owambo do Rei Nehale lya Mpin - gana de Ondonga, comandado pelo Capitão Shivute, atacou Namutoni. As tropas alemãs que nãp foram mortas durante os combates, fugiram a coberto da noite e o forte foi completamente queimado. Em 1905 o forte foi reconstruído e em 1906 o Primeiro Tenente Adolf Fischer tomou o comando. Fischer tornou-se o primeiro Guarda-de-Caça de Namutoni, e a depressão vizinha exibe o seu nome.

Em 1996, o primeiro Presidente da Namíbia, Dr Sam Nujoma, descerrou uma placa à entrada dos antigos estábulos de cavalos logo a norte de Namutoni. Honrando os 68 soldados Owambo que perderam as suas vidas na batalha de 1904, os 40 guerreiors que desapareceram e os 20 que regressaram a casa feridos.


incrível diminuição das fronteiras de Etosha


Em 1907 quando o Parque nacional de Etosha foi proclamado, estendia-se por aproximadamente 90 000 km2, na direcção noroeste até ao Rio Cunene e à costa. Isto transformou-o na maior reserva de caça do mundo. Mas em 1958 a área diminuiu para cerca de 55 000 km2. Em 1963, as fronteiras foram novamente redefinidas, reduzindo Etosha à sua área actual 22 935 km2, cerca de um quarto da área inicial.

Regresso ao futuro

As boas notícias são, mesmo abrangendo apenas uma fracção da sua área inicial, o Parque Nacional de Etosha é um ecossistema vital, suportando uma enorme variedade de plantas e animais. Outra boa notívia é que o Governo Namibiano, em estreira colaboração com o Conselho Regional do Kunene, as autoridades tradicionais, áreas comunais de conservação e outros proprietários locais, está neste momento a trabalhar para estabelecer o Parque do Povo do Kunene. O objectivo e interligar o Parque Nacional de Etosha e o Parque da Costa dos Esqueletos proclamando as três actuais áreas de concessão (Hobatare, Etendeka e Palmwag) e as zonas de conservação vizinhas. O Parque do Povo do Kunene visa não apenas restaurar rotas migratórias para a vida selvagem, mas também assegurar que muitas mais pessoas beneficiem das estratégias progressivas de conservação da Namíbia.


Rietfontein

Enquanto a abundante vida selvagem aprecia o alívio refrescante da charca de Rietfontein, há uma placa a poucas centenas de metros de distância que comemora os pioneiros de Dorsland, estes resistentes pioneiros que sairam da África do Sul em 1874 enfrentaram doenças, morte e outras calamidades imagináveis , chegaram a Rietfontein em 1879. Aqui descansaram, recuperando forças através da água doce providenciada pela fonte artesiana, e da abundante caça, antes de partir de novo, desta vez para Angola. Eventualmente muitos destes duros pioneiros regressaram aos campos dentro e à volta do que é hoje o Parque nacional de Etosha.

Sabia que…

…há muitos significados diferentes para o nome Etosha? Nas línguas locais o nome significa ‘ir para uma depressão’ ou ‘Onde a depressão está. O nome tem várias interpretações em Português: o local da Água Seca, o Grande Lugar Branco, ou Lugar do Vazio; Lago das Lágrimas de uma Mãe (isto explica a dor ilimitada de uma mãe Hai||om quando o seu filho morre); ‘Correr de modo titubeante através (ilustrando a fadiga que os primeiros caçadores sentiam quando tentavam atravessar a depressão); e o Hai||om ‘chum-chum’ do ruído feito pelos pés das pessoas ao andar através da depressão.

…Embora Etosha seja mais conhecida hoje como um espectacular refúgio para muitos animais, é também parte de um mundo que fornece evidência importante para a existência e evolução de animais ancestrais? As rochas nas colinas em redor de Halali revelaram vida fóssil com 650 milhões de anos!

…Em 1955 Etosha abriu as suas portas aos turistas pela primeira vez? Embora Etosha tenha existido como área protegida por mais de cem anos, só foi proclamado parque nacional em 1967.

www.met.gov.na

domingo, 6 de abril de 2014

Domingo

Após um dia de pesadas plúmbeas nuvens, impermeáveis ao sol, que mesmo nessas condições conseguiu aquecer os ares, não tanto como usualmente, mas o suficiente para as almas desejarem refrescar. A tranquilidade oferecida pelas notas do “Cherry on my cake” continuou a maré iniciada cedo pela manhã. Vi uma fantástica história narrada por um anjo que quase teve vontade de ser humano por uma vez… e que começou assim: “Um simples facto. Você vai morrer. Apesar de todos os esforços ninguém vive para sempre. Lamento ser tão desmancha-prazeres. O meu conselho é: Quando chegar o momento, não entre em pânico. Ao que parece, não ajuda nada. Julgo que devia apresentar-me adequadamente. Mas por outro lado, acabará sempre por me conhecer. Não antes da sua hora, claro. Tenho por hábito evitar os vivos.”
Mais um período, mais um ciclo, mais uma viagem que se aproxima prometendo resolver um défice de abraços. É nestes dias de quase viagem que as saudades apertam, que o coração fica pequenino, que as lágrimas assomam no canto do olho. É quando as memórias desabam qual cascata de águas tumultuosas despenhando-se na direcção de mares vagamente pressentidos.
Tempo de balanço. De balança. Prós e contras. Deve e haver. E as palavras do anjo a ecoar “Apesar de todos os esforços ninguém vive para sempre.”
No meio da amálgama em que tudo se transforma uma certeza emerge, “Vale a pena? Claro que sim. Quando estamos seguros do caminho que trilhamos, por mais obstáculos que surjam, por mais dúvidas que nos atinjam, continuamos a caminhar, sabendo que após uma das muitas curvas virá a recompensa “uma vista para o vale de leite e mel”…

Pode-se viajar tanto e sentir-se sempre em casa? Cada vez acho mais que sim. A minha casa é todo o mundo e todo o mundo é a minha casa. E há o regresso. A maravilha que é regressar a casa, só sabe o sabor que tem, quem tem o destino marcado por partidas e chegadas. Aos apertos no coração das partidas seguem-se cascatas de emoções nos regressos…

terça-feira, 18 de março de 2014

Desabafo

Somos razão. Somos emoção. Somos altruístas. Somos egoístas.
À compreensão (que não aceitação) do que se passou, seguem-se momentos de impotência, de desespero. Fraquejam as pernas. Fica um nó na garganta. A lágrima assoma no canto do olho.
Foi só um momento. Vários momentos.
Dou por mim a pensar como poderia ter sido. Que raiva, não poder voltar atrás…
Que faço agora?
Eu sei que tenho que seguir em frente. Isso é o óbvio.
Que faço agora?
Choro? Fecho-me ainda mais? Imploro? Solto uns ais?
Porquê?
Somos amigos. Somos inimigos. Somos bons. Somos maus.
Pensamos em nós como o centro do mundo. Mas o mundo não sabe. Nem sequer desconfia. Irrelevantes. Grão de areia no deserto. Gota de água no oceano.
Como conciliar sol e sombra? Água e sede? Frio e calor? Bem e mal? Amor e ódio? Dia e noite? Vida e morte?
Tudo isto existe, tudo isto está à nossa volta. Como é tão fácil perceber o conceito e tão difícil aceitar a realidade?
Como posso rir chorando? Como posso ir caminhando sabendo que me estou a afastar? Como posso não ir caminhando? Que faço?
Tremo de frio nesta quentura, qual navio numa aventura, não sei se tenho estrutura, nem sequer desenvoltura.
Temo que esteja a andar em círculos, para me não afastar. Como posso me afastar? Não sei para onde vou, só sei que tenho que andar. Um dia vou encontrar a direcção, um dia vou escutar meu coração, um dia vou ouvir a razão, um dia…
Yin e yang, preto e branco, bem e mal, razão e coração?

Contradições, quem as não tem? Não estou tão mal assim. Só  precisava desabafar.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Aniversário

Hoje é o teu primeiro aniversário sem ti.
Virão depois, a primeira Páscoa sem ti.
O primeiro natal sem ti.
O dia 10 de Março de 1995 foi, sem qualquer dúvida o mais feliz da minha vida, não o trocaria por nada, foi quando pela primeira vez chorei copiosamente de felicidade. Quando deixei de ser eu e passámos a ser nós. Quando deixei de me sentir no centro do mundo. Quando passei a ter receio por aquilo que pudesse acontecer a outro.
Em Agosto de 1995, ficava tudo espantado, como uma pirralha assobiava tão bem e andava, tão pequenina, na praia da Salema. A primeira surpresa que nos reservaste numa passagem de ano foi logo na primeira, em casa do Tomé, resolveste andar sem ninguém a ajudar. Ficaste independente aos nove meses, nunca mais deixaste de o ser.
Em 2000 disseste-me que fumar fazia mal, como qualquer viciado retruquei que comer chocolate também fazia, no dia seguinte o avô disse-me que a Nocas estava doente, perguntei porquê, respondeu que pela primeira vez tinha recusado o chocolate. Custou-me na altura, mas orgulho-me de dizer que deixei de fumar porque a minha filha de cinco anos me pediu.
Ficaste desapontada por ter nascido um irmão e não uma mana, os rapazes são uns chatos…
Em 2003 surpreendeste-nos quando quiseste entrar na escola de música da banda, a tua primeira grande paixão estava encontrada, era o clarinete.
Faz hoje 9 anos que tiveste a tua primeira audição de clarinete, no auditório do Phydellius.
Entraste para o coro, um bocadinho obrigada pela mãe, mal sabias que a tua segunda grande paixão estava ali, quantas pessoas passam uma vida inteirinha sem saberem o que é a paixão e tu com doze anos já tinhas encontrado duas…
Nunca esquecerei o momento do teu primeiro solo no coral, na igreja dos salesianos no Estoril. Estava a filmar o concerto e de repente ouvi uma voz celestial, foi uma tal emoção que a recordo como se fosse hoje.
E quanto às aulas de canto? Sei que não gostavas que assistisse mas adorava ir um pouco mais cedo para te ir buscar e ficava cá em baixo a ouvir-te.
Recém-descobriste o prazer dos concursos.
Por uma vez foste atrás do teu irmão, quando eu vim para Angola e tocaste com ele na Smooth Vibrations, na Figueira da Foz, ele nunca esquecerá.
Conseguiste entrar na Metropolitana, em clarinete na aula do Nuno Silva, tal como querias, porque ultrapassaste os medos de uma miúda de 18 anos e conseguiste chamar a atenção dele. Que só te aceitou devido à tua coragem e garra.
Conseguiste entrar no Conservatório Nacional, em Canto, a tua verdadeira paixão, pela mesma razão.
Já conhecias todos os alfarrabistas de Lisboa, onde incessantemente procuravas partituras antigas. Começaste em Torres Novas, na loja do Adelino e nunca mais paraste.
Quando os outros faziam a paragem das férias de verão, tu não. Ias para a biblioteca de Torres Novas, onde a Joana te “aturava”, aprender a arte do restauro das queridas partituras. A propósito não chegaste a saber, mas sabes agora, vem aí uma Inês a caminho.
Foi um privilégio ter-te acompanhado ao longo destes curtos anos, tantas vezes ausente, bem sei, mas sempre estiveste no meu coração, sei que também eu estava no teu.
É com orgulho que te digo que amo a tua mãe e o teu irmão e todos nós somos mais ricos por termos partilhado parte do nosso caminho contigo.
Já sabia, mas agora sei-o ainda mais, és rica, só alguém muito rico tem os verdadeiros amigos que tu tens. De todas as idades, por todo o país. Quero agradecer a todos, as palavras sentidas que te têm dirigido.

Um grande bem-haja para todos, estão no nosso coração.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Partiste sem avisar

Partiste sem avisar,
Ainda recordo o teu olhar
Prenhe de felicidade,
Com a recém-adquirida maioridade.

A recente ida para a grande cidade preencheu a tua vida,
Disseste que nunca voltarias
Apenas não sabias
Que o reencontro serviria de irrevogável partida.

A dor que ficou,
As lágrimas vertidas,
As vidas sofridas,
São aquilo que restou.

Tantas questões por responder
Quantas cores para ver
Tantos livros por ler
Quantas viagens para fazer.

Às cores presentes na música, respondias
Com a textura dos sentimentos, mal sabias
Que silêncios eternos viriam, reclamar
Subitamente o teu lugar.

A minh’alma sofrida, com a beleza
Deste mundo se espanta, com tanta certeza
Assumida, tantas palavras de conforto proclamadas
Com aspereza escutadas.

Partiste sem avisar,
Querias voar,
Deixaste a tristeza a pairar,
Sobre o nosso lar.
A tua voz vejo, sem cessar
Qual passarinho a chilrear,
As tuas cores, escuto sem parar

Qual eco do mar.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Como posso explicar

Como posso explicar a dor causada por um ferro em brasa? Que palavras utilizar para exprimir o que sentimos, quando somos atingidos por um raio num dia de sol, quando nem uma nuvem cruza o horizonte?
Como posso explicar o que me vai na alma, quando 300000 portugueses saem da “zona de conforto” e partem em busca de sustento no exterior e ilustres governantes se congratulam pela descida do desemprego? Quando outros 300000 deixam de “procurar activamente” emprego e deixam de contar para a estatística?
Como posso explicar se não tenho palavras. Como pôr sons no papel? Como explicar as cores sem tintas? Como explicar os cheiros sem perfumes?
Como posso explicar um sorriso, numa alma dilacerada? Como me posso sentir único e, agora, saber que tantos atravessaram o mesmo deserto escuro, o mesmo dilúvio grosseiro, o mesmo abismo sanguinário?
Como posso explicar que a dor de um ferro em brasa é nada. Que um raio nem necessita de sol para nos atingir.
Como posso explicar que os portugueses podem escolher partir ou ficar, manter tudo igual ou mudar. Que podem procurar activamente a verdade ou esperar pelas “verdades” das agências de comunicação.
Como posso explicar que um olhar vale mais que mil palavras. Que os sons são colocados no papel. Que as cores estão todas no arco-íris. Que as flores valem mil perfumes.
Como posso explicar que um sorriso é um bálsamo para uma alma sofrida. Só me posso sentir único no meio da multidão, de outro modo estarei apenas só.
Só posso explicar, compreendendo. Só posso compreender, conhecendo. Só posso conhecer, aceitando. Só posso aceitar, explicando.
Só posso amar, amando. Só posso caminhar, caminhando.

A lua ameniza a escuridão da noite, lançando abraços de prata.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Pico

"A nossa maior glória não reside no facto de nunca cairmos, mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda."
Confúcio

Quando caímos num abismo da altura do mundo, primeiro pensamos que tudo acabou,
[Negro]
Quando percebemos que a terra continua a girar, por maior que seja a queda,
[Cinza]
Por maior que seja a nossa perca, é apenas um grão no infinito.
[Prata]
Um rasgão na pele, sabemos que cicatrizou,
[Amarelo]
Fica a marca, como uma linha na paisagem, qual vereda
[Laranja]
Qual caminho para o pôr-do-sol mais bonito.
[Vermelho]
Prometendo amanhãs de esperança, como os dias após um fogo que tudo queimou
[Rosa]
Visitados por chuvas mães de riachos, cheios de vida, qual tela
[Verde]
Observada a partir do mais alto Pico.

[Branco]

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Like a waterfall

 

Anger
Pain                      
Stranger
The brain
Very slowly
Choking at first
Suddenly, millions of memories fall over her like a waterfall
So many feelings, tastes, smells, colors
So bright, it is like you trying all
Same time
Wine, beer, bourbon and rum
When you just wanted
To feel the drum
Focus
Explosion of colors
Focus
Big bang
When am I?
Torrents unseen
Stop!
Who am I?
Do you think I’m crazy?

Luís Pereira

domingo, 12 de janeiro de 2014

Quando amanhã começar sem mim

Quando amanhã começar sem mim,
E eu não estiver lá para ver,
Se o sol nascer e encontrar os teus olhos
Cheios de lágrimas por mim;
Desejo ardentemente que não chores
Como choraste hoje,
Enquanto pensavas nas muitas coisas
Que nunca pudemos dizer.
Sei o quanto me amas,
Tanto quanto eu te amo,
E sempre que pensares em mim,
Sei que também terás saudades minhas;
Mas quando amanhã começar sem mim,
Tenta entender
Que um anjo apareceu e chamou o meu nome,
E me levou pela mão,
E disse que o meu lugar estava pronto,
No céu lá nas alturas
E que eu teria de deixar para trás
Todos os que tanto amo.
Mas quando virei costas para partir,
Uma lágrima rolou-me dos olhos
Pois toda a vida pensei
Que não quereria morrer.
Tinha tanto por que viver,
Tanta coisa por fazer,
Que parecia quase impossível,
Estar naquele momento a deixar-te.

Pensei em todos os dias passados,
Nas boas e más notícias,
Em todo o amor que partilhámos,
No quanto nos divertimos.
Se eu pudesse reviver o passado,
Por um momento que fosse,
Dir-te-ia adeus e beijar-te-ia
E talvez te visse sorrir.
Mas foi então que percebi
Que isso nunca aconteceria,
Pois o vazio e as memórias
Tomariam o meu lugar.
E quando pensei nas coisas mundanas
Que poderia perder amanhã
Pensei em ti, e quando o fiz
O meu coração encheu-se de dor.
Mas quando cruzei as portas do céu
Senti-me tão em casa
Quando Deus olhou para mim e me sorriu,
Do seu imenso trono dourado,
Disse: «Isto é a eternidade,
E tudo o que te prometi,
Hoje a tua vida na terra pertence ao passado
Mas aqui vai começar de novo.
Não te prometo amanhãs
Mas este dia vai durar para sempre,
E uma vez que todos os dias são o mesmo,
Não tens por que chorar o passado.
Foste sempre tão fiel,
Tão confiante e tão verdadeiro.
Ainda assim houve alturas
Em que fizeste coisas
Que sabias que não devias.
Mas foste perdoado
E és finalmente livre.
E partilha comigo a minha vida.»
Assim, quando amanhã começar sem mim,
Não penses que estamos afastados,
Pois, sempre que pensares em mim,
Estarei aqui, no teu coração.


David M. Romano

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Inês

Depois do brutal rasgão na minh’alma, que considerava à prova de bala, ocorrido às primeiras horas deste ano de 2014, fomos objecto da mais espantosa acção de carinho, solidariedade, respeito, amor.
As manifestações espontâneas vindas de todas as partes, logo que foi pública a notícia da morte da “nossa” Inês, nunca serão esquecidas. Dar-nos-ão a força para continuar a caminhada por esta terra.
Os testemunhos de quem privou mais ou menos tempo com a Inês, alguns desde a creche, outros da primária, da secundária, do conservatório, mais recentemente da universidade, mas também das bandas filarmónicas, dos coros, das orquestras, grupos de gaiteiros e grupos de animação, tocaram o nosso coração.
A família por vezes não apreende o impacto que um dos seus tem na sociedade, não digo que seja o caso, mas algumas frases escutadas, durante os longos três dias entre o acidente e o funeral, tanto nos encheram de orgulho, como nos fizeram cair num pranto.

- A Inês não tinha 18 anos! Muita gente com o dobro da idade dela nunca chegará a viver o que ela já viveu.
- Hoje percebi que devemos aproveitar a vida ao máximo, enquanto podemos, pois nunca sabemos qual o dia do nosso fim…
- Do pouco que te conheci e falei contigo, sempre te achei uma "miúda atómica" tipo divertida etc., mas a vida traiu-te…
- Minha querida amiga e vizinha, dói (muito!) a ideia de que nunca mais nos vamos cruzar por Alcântara ou nos Riachos, que nunca mais me vais fazer rir com os teus comentários inesperados, que nunca mais me vais surpreender com os teus talentos: quer fossem na música, no teatro ou na cozinha! Guardo em mim as memórias dos momentos (e foram todos bons momentos!) e queria que fossem mais, muitos mais! Que tivesses ido mais vezes jantar lá a casa e que tivéssemos feito mais ateliês de teatro juntas! Agarrada à tua memória lembrar-me-ei sempre de outra singularidade tua, a cor que vias em mim: verde-lima! Obrigada por tudo, Inês!
- Ainda não acredito no que te aconteceu Inês Pereira... A vida foi mesmo injusta contigo meu anjo, levou-te cedo demais. Descansa em Paz minha querida, e contagia o céu com a tua alegria e com o teu sorriso lindo, e acima de tudo, enche-lhes o coração com a tua música.
- Ontem, dia 1, primeiro dia do ano, um dia que supostamente deve ser cheio de felicidade, partiu uma grande rapariga do nosso mundo, a Inês Pereira. Não a conhecia muito bem, mas era uma rapariga muito talentosa, divertida e gostava daquilo que fazia. Na altura, tinha um sonho: ser uma grande clarinetista. Ela tinha medo de não ser bem-sucedida mas quem luta conquista, e decidiu realizar o seu sonho. Num acidente, tudo acabou...
Era uma rapariga espectacular, grande clarinetista e, sobretudo, era feliz!
- Um dia ainda nos encontraremos novamente meu doce. Deixas um legado que transmitirei “ad eternum”, nas aulas: a vontade de viver cada dia, como a coisa mais importante das nossas curtas vidas. Até sempre meu anjo.
- Tenho medo de me esquecer da tua voz, do teu riso, do teu cabelo, dos teus olhos, das tuas roupas, do teu clarinete, das tuas tonteiras. Tenho medo de me esquecer dos nossos curtos momentos, mas felizes e divertidos. Fazes-me muita falta, Inês.
- Infelizmente, uma grande amiga minha deixou-nos neste mundo e brilha agora com muita força no céu. Partis-te mas já não voltarás. Revivi todos os bons e maus momentos que partilhámos, todos os sorrisos, todas as lágrimas. Foi uma grande perda que me afectou bastante. Troco tudo, não consigo fazer nada direito. Estou muito nervoso e não consigo parar de comer devido ao nervosismo. Inês Pereira é uma amiga com um lugar especial no meu coração (e espero que também no vosso), que sempre me ajudou quando precisava. Simpática era a sua personalidade e muito brincalhona... Tenho tanto para dizer mas não existem palavras para expressar o que sinto... Sofrimento, dor, tristeza... tanta coisa... Certamente que vais cuidar e guiar todos nós na vida que nos segue, pois tu és uma estrela que brilha fortemente lá em cima, a olhar por todos nós. Não vou dizer «adeus», simplesmente um até breve e que me ajudes neste meu futuro que espero que seja grande. Obrigado por teres feito parte da minha vida! A ti brindo um copo de champanhe pela amizade que cultivei! Até breve!
- As nossas maluqueiras inesquecíveis que irão ficar sempre recordadas! A tua energia contagiava-me a mim e a toda a gente que falavas! Nós os dois tínhamos um desafio e prometo que hei-de conseguir cumprir!
- Ao menos viveste cada dia como se fosse o último.
- Nunca olhes para trás... A não ser que seja uma boa vista.
Eu acho, assim de vez em quando, que vou olhar um bocado...
- Hoje os meus pensamentos estão apenas e só com a Inês Pereira. Como da última vez em que a ouvi cantar. Assim...
"Voy a viajar, voy a bailar, bailar, bailar, quiero bailar, voy a vivir en el medio del campo y a las mañanas me voy a levantar.”
- As minhas palavras pouco acrescentam ao que aqui está escrito. Só prova que deixas muita gente atordoada com a tua partida. Se há injustiças do mundo que não se admitem, uma delas é a tua. É incompreensível.
Fica bem, onde estejas, ainda que por aqui tenhas deixado uma história a meio.
- Apesar de já saber há algumas horas o que se passou ainda não consigo acreditar, talvez não queira encarar a realidade! Custa-me que aconteça este tipo de coisas a pessoas como tu. Não conheço ninguém que seja tão alegre e que aproveite tão bem a vida como tu o fazias. Acredito que se isto aconteceu foi porque tinha mesmo que ser e acredito também que estás muito bem onde quer que estejas. Inês olha por todos nós aí de cima. O céu ganhou mais uma estrelinha. Descansa em paz! Adoro-te.
- Há coisas que realmente não se conseguem explicar. Eras irreverente e primavas por um sorriso inigualável. Quem vai agora dizer-nos "a cor dos nossos nomes"?
Descansa em paz pequena Inês. Mais uma estrela no céu, desta vez bem brilhante e "colorida".
- Eras a minha coisinha linda, uma artista muito maior que a tua altura, uma amiga verdadeira, uma clarinetista do melhor que já ouvi e não só. Estou mais pobre. Estamos todos mais pobres.
- Ainda estou a tentar mentalizar-me do que aconteceu. Não merecias partir tão cedo. Conhecemo-nos num dos melhores estágios de orquestra que já alguma vez fiz e tu foste das poucas pessoas que o tornaram tão especial. Ajudaste-me a crescer enquanto ser humano das melhores maneiras possíveis e tornaste-me uma pessoa mais feliz. Marcaste a minha vida, Inês. Nunca te esquecerei! Vou lembrar-me de ti de uma maneira feliz, tal como sempre foste, pois a felicidade que transmitias era maior que tudo o resto. Sempre foste uma sonhadora! Uma enorme clarinetista! Uma cantora fenomenal... És das pessoas mais únicas que conheci e estarás sempre no meu coração! Serás das estrelas mais brilhantes do céu! Descansa em paz.
- Não tenho palavras, não tenho reacção mental. Não consigo descrever o que sinto neste momento. Mas uma coisa sei, foi um prazer enorme ter-te conhecido, foram momentos incríveis e inesquecíveis que passamos juntas. Fui uma sortuda em ter estado contigo nesta última fase da tua curta vida. Nunca te vou esquecer, estarás sempre no meu coração e vou sempre pensar em ti. Vais-me fazer imensa falta, e tenho a noção que vou morrer de saudades, mas não me resta mais nada senão aceitar que partiste e lágrimas. Obrigada por tudo. Por teres sido o que eras, e que para mim nunca vais deixar de ser. Obrigada. Descansa em paz minha querida, vou ter muitas saudades.

- in memoriam Inês Pereira (1995-2014)

um dia escrevi o teu nome assim...


Inventaste um lugar e da tua voz
Nasceu o hino, cântico nobre que
Entoas quando sonhas, dando cor ao
Silêncio que se curva sob os teus passos.


Povoaste esse recanto com ternura em flor
Elevaste toda a terra a poesia primordial
Recebeste todos os sons no teu olhar -
E em teu redor a felicidade assumiu a forma
Inebriante de um sol de pétalas infinitas,
Reflexos multicolores que anunciam a tua chegada -
Aurora que embala todas as madrugadas.


Hoje de ti me despeço com o teu nome na alma, com a tua luz que nunca me abandonará, querida.

Até sempre, 'Nês.


Tem os que passam

Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...