Como posso explicar a dor causada por um ferro em brasa? Que
palavras utilizar para exprimir o que sentimos, quando somos atingidos por um
raio num dia de sol, quando nem uma nuvem cruza o horizonte?
Como posso explicar o que me vai na alma, quando 300000
portugueses saem da “zona de conforto” e partem em busca de sustento no
exterior e ilustres governantes se congratulam pela descida do desemprego?
Quando outros 300000 deixam de “procurar activamente” emprego e deixam de
contar para a estatística?
Como posso explicar se não tenho palavras. Como pôr sons no
papel? Como explicar as cores sem tintas? Como explicar os cheiros sem perfumes?
Como posso explicar um sorriso, numa alma dilacerada? Como
me posso sentir único e, agora, saber que tantos atravessaram o mesmo deserto
escuro, o mesmo dilúvio grosseiro, o mesmo abismo sanguinário?
Como posso explicar que a dor de um ferro em brasa é nada.
Que um raio nem necessita de sol para nos atingir.
Como posso explicar que os portugueses podem escolher partir
ou ficar, manter tudo igual ou mudar. Que podem procurar activamente a verdade ou
esperar pelas “verdades” das agências de comunicação.
Como posso explicar que um olhar vale mais que mil palavras.
Que os sons são colocados no papel. Que as cores estão todas no arco-íris. Que as
flores valem mil perfumes.
Como posso explicar que um sorriso é um bálsamo para uma
alma sofrida. Só me posso sentir único no meio da multidão, de outro modo
estarei apenas só.
Só posso explicar, compreendendo. Só posso compreender, conhecendo.
Só posso conhecer, aceitando. Só posso aceitar, explicando.
Só posso amar, amando. Só posso caminhar, caminhando.
A lua ameniza a escuridão da noite, lançando abraços de
prata.
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