domingo, 13 de setembro de 2015

Um copo de gin na mão

“Que possas viver em tempos interessantes”
A Europa ao longo dos tempos foi palco de inúmeras invasões. Já foi invadida, já invadiu. Foi
conquistada, conquistou. Foi subjugada, subjugou. Foi palco de mortandades, por guerras, por doenças, por alterações climáticas. O que sucedeu poucas vezes foi viver tempos de acalmia, paz, prosperidade, de valorizar a cultura, as artes, a história. Esses tempos de tão raros são celebrados.
“Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal”
A Europa do século XIV era o continente mais pobre. Quase despovoado, fruto de incessantes guerras, pestes, atraso cultural de um povo manietado por poderes espúrios. Este ano assinala-se a passagem de seis séculos da aventura iniciada por um pequeno país, que contava apenas 1 milhão de pessoas, na sua esmagadora maioria de parcos recursos, materiais, técnicos, alimentares. Ceuta, foi um marco na vida europeia. Com esta conquista teve inicio um período de expansão, ocupação, conquista. A Europa pilhou riquezas por todo o globo, transportando-as de volta. Acumulando impérios, domínio sobre tantos povos, umas, (poucas) vezes consentido, outras, (tantas) forçado. Acumulou um excesso populacional, que espalhou pelo globo, mestiçando populações, mesclando culturas, alimentos, interferindo de forma (quase) irreversível na extinção de tantas espécies, na hegemonia de outras. Este sucesso fez-nos atingir um nível de bem-estar material nunca antes alcançado, acompanhado de uma quebra de valores apenas observada nos tempos finais dos impérios.
Os tempos actuais fazem lembrar os do século V, com a Europa unida numa estrutura política invejável e invejada, com povos bárbaros vindos de leste em busca das terras prometidas. A Roma da altura, abandonara a expansão seguida durante tantos anos e fechara-se sobre si própria, tentando negar aos bárbaros do leste a entrada. Sabemos como foi. Mil anos de escuridão, de degenerescência, de subjugação, mas também de miscigenação e de aculturação dos recém-chegados.
De novo, após mil e quinhentos anos, conseguiu-se unir a maioria dos povos europeus numa estrutura política invejável e invejada, acossada por povos do leste.
Faz lembrar uma roda, ao rodar sobre o seu eixo vai permitindo a deslocação do veículo ao longo do caminho, no entanto relativamente ao eixo está sempre a repetir o percurso.

Como sou mais pró-positivo, encaro esta situação como o pôr do sol, sabemos que um dia será o último que poderemos apreciar, mas hei-de apreciar todos os que puder ver, sempre voltado para ocidente, até ao último, se puder ser com um copo de gin na mão, tanto melhor.

Tem os que passam

Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...