domingo, 27 de janeiro de 2013

Mundo Redondo


Só de gargantas cheias ouço lamentos. As verdadeiramente necessitadas estão fracas de mais para chiar. É espetacular ver como tantos se armam em bandeiras. É incrível verificar como os herdeiros se multiplicam... depois.

Esse oceano não tem poder aqui! Aqui só vale a palavra.

É engrançado ver como “a palavra” tem tantas variegadas conotações. Tudo pode ser o que desejares. És tu o grande arquitecto do mundo.

Até tinha piada. Infelizmente se é verdade que nada se faz sem nós, também o é, que tudo se faz sem nós. Mas também quem é que se lembraria de “fabricar” um mundo redondo?

domingo, 20 de janeiro de 2013

Mina


Detinha-se a ouvir os lamentos daquela leoa. Continuava a ter as quenturas, mas desde a guerra ficara só, nenhum leão ouvia aqueles rugidos há bastantes anos. Só, a Mina ficara, só, a Mina ficaria, até à terminação dos seus dias. Mas fazia-lhe um dó, de partir alma. Mina des-sabia que nenhum macho restara por aquelas terras anteriormente tão férteis de zebra ou palanca. Nas noites intermináveis que duravam as quenturas, nenhuma alma descansava na aldeia. Dava uma dor na espinha saber que uma leoa lutava só, pelo futuro que não chegava nunca. Dava uma falação sem fim. O Kimba, jovem a procurar a sua primeira esposa, ainda pediu ao mulôji para lhe transformar em leão por uns dias, que dava fim àquela lamentação toda, ajudava a Mina. A aldeia podia então descansar seus fantasmas. Mas o mulôji lhe atirou que o dunda de tal serviço não lhe estava no alcance. Este ano os roncos soavam mais alto. Também duravam mais semanas. Soavam a desespero. De quem percebeu que futuro não chega mais, nunca. Ninguém punha um pé fora da aldeia, com receio de lhe afrontar, no meio de tanta dor. Mina nunca atacara ninguém, mas agora um receio grosso baixara logo após as primeiras árvores.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Descalço


Descalço de sapatos e de calças, só eu e este sol, num frente a frente. Num desafio intervalado pelas brancas nuvens, que água vertem por estas verdejantes planuras. Descalço sinto a pulsão da terra. Terra vermelha, terra verde, terra negra, terra branca. Terra chão de tantas ilusões. Descalço. Terra chão de tantas desilusões. Sensações inebriantes. Paisagens de pertos distantes. Horizontes descalços. Pedras negras. Águas quentes. Águas rápidas. Cachoeiras. Margens. Quentes. Descalço. Olho o sol. Milhões de cores. A mão, primeva razão da nossa evolução, tanto de bom feito tem, tanto de mau sabe fazer. Descalço de juizos, olho minha mão. Surpreendo-me. Ainda me surpreendo, com pequenos nadas. Gestos. Brisas. Pássaros azuis. Flores vermelhas. Nuvens negras. Estórias d'enternecer. Aquelas montanhas no horizonte. Quero ir lá. Ainda tenho esperanças. Quero ouver, respirar, gritar, sentir aquele chão. Os fantasmas passantes insinuam-se.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Ilusão


Já se questionava se a realidade não seria mera ilusão, se a sua memória, agora que tanto dela necessitava, não estaria a desconsiderar-lhe.

Após tantos anos com o colono a impor as regras, após tantas vidas de guerra, após tantos vivas à revolução. Via passar de novo branco, como água. Até lhe sentia aquele comichão, aquele que só branco provocava. Para quê tanta desconsideração, tanta vida desavisada, para descobrir que “eles” estavam de volta.

Pior, os novos falavam uma língua estranha. Lhe custara tanto aprender língua de branco, agora que tal lhe podia dar vantagem, chegou novo branco falando língua estranha.

E estes desconheciam tratos antigos, daqueles que passam de pais para filho.

Os camaradas informavam que estes eram “amigo!”

Meu comichão não passava...

Experimentei uns “patrão” uns “sinhô”, mas nada, eram duro de ouvido...

Tomavam tudo, sem respeito pelos mais velho. Só desconsideravam, como explicar pois aos jovem, se mesmo nós só escuro via...

Resolvemos partir os espelhos, a ver se a ilusão ia junto, se aquela gente sem conhecimento dava lugar aos tempo antigo...


Tem os que passam

Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...