domingo, 16 de dezembro de 2007

Faltam dois dias...

5ª Feira, 13 de Dezembro. Comecei a marcar offset outra vez, cheguei ao 14+500. Finalmente cheguei a Jedida. O Zé Manuel começou a aplicar material do “nosso” empréstimo.
6ª Feira, 14 de Dezembro. Continuamos nos offset. Após uma hora, saltou um pedaço do guilho metálico, ficou cravado no braço do Haiba. Fomos ao hospital. A falta de higiene, no consultório do médico chinês era tão grande, que os mauritanos ficaram impressionados. A minha carrinha começou a fazer barulho na roda esquerda da frente, vim à oficina, não acharam nada. Voltámos a Jedida. Marcámos até ao 15+300. Quando regressávamos a Selibaby, a carrinha bloqueou. Não saia nem por nada. Chamei o Baltazar. Tinha um furo do reservatório do óleo do diferencial. Um rolamento gripado.
Sábado, 15 de Dezembro. Continuei a marcar os offset. Levei a carrinha do Jamaldine. Marcámos até ao 16+675. Está marcado o que foi pedido. Os voluntários do Peace corps estão de regresso a Selibaby, convidaram-me para jantar. Sabe sempre bem variar de cozinheiro e de companhia. Portugueses aqui em Selibaby somos só sete. Ao fim de algum tempo estamos fartos uns dos outros.
Domingo, 16 de Dezembro. Fui à obra de manhã, está tudo a correr bem. Pela segunda vez não vou a Bakel num domingo. Desta vez é por não ter o meu carro. E saímos daqui já na terça feira. Amanhã as máquinas voltam à base. Para ficarem seguras durante as férias.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Já só falta uma semana

3ª Feira, 4 de Dezembro. Tive que voltar a marcar os offset desde o Pk 4000 ao 4600, não restava nem uma estaquinha. Chegou o Eng. Jorge Ferreira com o Agrela.
4ª Feira, 5 de Dezembro. O Niang, chegou à obra, ao Pk 2+700 e mandou parar tudo. Tinha havido queixas devido ao pó. Passado um pouco, deixou recomeçar, depois do Zé Manuel, regar a pista. Disse mal do material, à tarde ficou de boca aberta, com a qualidade do aterro. O patrão começou a pôr as coisas a mexer. À tarde o meu porta-miras Niang, pôs a parabólica do Hispasat a trabalhar. Finalmente vamos ter TV Cabo.
5ª Feira, 5 de Dezembro. Tive que voltar a Tachot para marcar de novo as OA74 e 75, algumas estacas desapareceram e os tipos das sondagens estavam lá à nora.
6ª Feira, 6 de Dezembro. Fui com o Jamaldine e o pessoal dos furos, ver possíveis localizações para abrir os furos para termos água para a obra. Procurei também um empréstimo para o aterro do Pk 10000. Achei uma colina que me pareceu boa escolha. Levei lá o Jamaldine, que também achou promissor o local. Para ter os resultados antes de partir para as festas, o Hassan precisa das sondagens amanhã de manhã.
Sábado, 7 de Dezembro. Peguei no Zé Manuel e fomos para o local do empréstimo no Pk 10000. A giratória foi lá ter. Começou a abrir sondagens e decepção total, só dava xisto. Para não perdermos a viagem, decidimos ir ver outra colina perto, de caminho mandámos a giratória abrir sondagens na baixa. Continuava a dar xisto. Até que, surpresa das surpresas, demos com um filão de Laterite. Abrimos mais sondagens e isolámos a zona. Pensamos que terá cerca de 40000 m3 de Laterite. Como não somos especialistas, ligámos ao Hassan, dissemos-lhe que tínhamos encontrado Laterite e ele disse logo que já ia a caminho. Quando chegou, vi-lhe um sorriso rasgado. Disse “Parece que estou no Senegal, assim está bem.” Ganhámos o dia. Não estava previsto haver Laterite na zona. A Laterite está, a meio do traçado, a cerca de 400 metros do eixo, com um acesso fácil, e é só carregar e utilizar. Hoje vamos ter jantar na base. Já temos o que comemorar. O jantar correu muito bem, o Messias fez o jantar, veio toda a gente. O Agrela gostou. Vieram a Caren e a Amanda. Jantámos no nosso anexo. Matei um escorpião.
Domingo, 9 de Dezembro. Às 7 da manhã, saímos para Bakel. Três carros. O Messias mais o António, Eu o Jamaldine, o Hassan, a Caren, a Amanda e a Kim. Viagem boa, nos dois sentidos. Boa estada no Senegal. O Zé Manuel ficou a trabalhar. Fez cerca de 2.5 km de decapagem. O Luís hoje não foi connosco, foi levar o patrão a Nouakchot.
2ª Feira, 10 de Dezembro. Fui mostrar o empréstimo ao Jamaldine e ao Houari. O Jamaldine gostou bastante do que viu. À noite ligou-me a Joni, estava a fazer pizza. O Silvain chegou de Nouakchot com queijo. Levou também bom vinho francês. Soube mesmo bem.
3ª Feira, 11 de Dezembro. Chegou o Pedro. Partiram o Jamaldine e o Houari. Fui com o Mamouni fazer o ponto da situação mensal. Ele ficou de fazer o levantamento das cotas para dar uma aproximação melhor.
4ª Feira, 12 de Dezembro. Fui com o Pedro e o Hassan ver os empréstimos. De tarde fiquei com eles no laboratório. A minha carrinha fez a revisão. Só a levantei pelas 17h. E já só falta uma semana.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Já cheira a casa

3ª Feira, 27 de Novembro. Soubemos hoje que amanhã é feriado. Fixe. Tenho andado a fazer de intérprete.
4ª Feira, 28 de Novembro. Feriado na Mauritânia. Dia da Independência. Fizemos o almoço em casa. Dois cabritos. Guisados. Só a Caren veio, dos americanos. Gostou. Foi um dia calmo. Conversámos muito, a casa esteve sempre cheia.
5ª Feira, 29 de Novembro. O Messias telefonou a dizer que ia casar, no sábado, em Kaédi. O pessoal fartou-se de rir. Convidou-me para padrinho de casamento.
6ª Feira, 30 de Novembro. O dia começou mal. Dormi mal. Estava mal disposto. Ralhei com toda a gente. Chateei-me com o Michel. Já há uns dias que não usava o GPS, quando precisei a caderneta estava sem bateria. O Houari, disse-me que tinha as coordenadas da OA 84, Oed Salem. Parti para lá. Estava a chegar quando me ligou a dizer que tinha as coordenadas das pontes de Tachot. Tive que lá voltar. Mas ficaram todas marcadas. O pessoal das sondagens começou logo a trabalhar. Li as short stories, até ao fim. Gostei. Tenho que reler. Estou com saudades de casa. Começa a ser difícil suportar.
Sábado, 1 de Dezembro. Saí de Selibaby, pelas 8h da manhã. Com o Houari, o Khalid e o Luís Filipe. Fomos ver as OH’s desde o pk 28 até Gouraye. Dia de muito trabalho, com visitas a 30 OH. Saímos de Gouraye pelas 17h45m, ficámos atascados no sítio do costume. Chegámos a Selibaby pelas 20h45m. Após muitas peripécias. E muito ralhar, uns com os outros.
Domingo, 2 de Dezembro. Levantei-me às 7 e meia. Fui tomar o pequeno-almoço. Cheguei à base pelas 8h. O jipe do Houari tinha um furo. Pediu-me a carrinha para ir comer. Ligou-me pelas 10h a dizer que ia à obra. Ok. Pedi-lhe o carregador do Hassan, disse-me para ir a casa dele buscá-lo. Fui. Estava fechada. Ninguém abriu. Quando dei por isso, estava na base, sozinho. Sem crédito no telefone. Sem dinheiro. Sem carga no computador, tive que desligá-lo, quando falava com o Xavier. E sem carro. Quando dei por isso, já tinha bebido umas bejecas e uns whiskies, antes de almoço. Para primeiro domingo sem ir a Bakel… Quando o pessoal chegou, tratei-os mal. Depois do almoço, fui ter a casa do Nick, que não estava, e fiquei por lá a tarde toda. Estava a ficar admirado, por ainda não ter tido esta conversa. A Caren, Amanda e a Kim, são afro-americanas. Veio finalmente à baila a questão do racismo. Boa discussão. Penso que produtiva.
2ª Feira, 3 de Dezembro. Arranquei de manhã na direcção de Mbout, para marcar a OA40. Finalmente acabei de marcar as OA’s do lote 2. Dois meses e meio depois de começar. Marquei-as todas poucas horas depois de receber as coordenadas. Só não ficaram marcadas antes porque a Norvia não as enviou.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Equipa de topografia


Equipa de porta-miras, do moi. Sow, Brahima, Heiba e Maktour

Anos do Aires

3ª Feira, 20 de Novembro. Logo de manhã vou marcar as pontes de Moudji, agora já está tudo, podem fazer as sondagens à vontade. Depois de almoço, fico na base com o Luís para ver se conseguimos deixar as coisas mais ou menos. Começamos a preparar tudo mais o Aires, quando chega o Jamaldine a pedir para ir com ele fotografar o D8 ao aeroporto, lá vamos também é perto e não custa nada. Depois das fotos pediu-me para ir com ele à obra, e as horas a passar, chego à base já são quase 6h, fui pedir o jipe ao Houari e arranquei para ir buscar os amigos americanos, vieram 9. O Messias estava fulo por ter chegado e apanhar a casa fechada, faltarem os espetos, a cerveja não estar fria… tudo se resolveu a bem. A festa foi excepcional. Só me deitei por volta das 3h, depois de longa conversa com a Amanda. Quem havia de esperar vir para um fim do mundo destes e encontrar malta tão porreira. Posso-me considerar um homem feliz, tenho amigos verdadeiros, até aqui. E finalmente dormi bem.
4ª Feira, 21 de Novembro. Ir à obra dar um apoio ao Zé Manuel, ver como estão as coisas e esperar que isto comece a aquecer. Mais uma noite bem dormida, só acordei com o despertador e ainda me apetecia mais.
5ª Feira, 22 de Novembro. Mais uma manhã a acompanhar o Zé Manuel, o gajo não consegue fazer nada do operador da niveladora, que é só a máquina mais importante da obra. Hoje foi o dia do “Thanks Giving” feriado importante na terra do tio Sam, os Américas convidaram-me para jantar e lá fui eu. Noite bem passada, boa conversa, boa música, bom vinho – trouxe o Silvain – e eu fartei-me de dançar.
6ª Feira, 23 de Novembro. Fui mostrar as localizações das sondagens ao Houari e à equipa que as está a fazer, das pontes de Moudji. Ligou o Messias a dizer que tem a carne já temperada para o jantar de amanhã.
Sábado, 24 de Novembro. Trabalho de manhã, despachei o que havia e da parte da tarde preparei as coisas para o jantar. Belo jantar, feito pelo Messias. Quando chegou fui com ele comprar carne num “talho”, com 1 milhão de moscas por m2, mas estava boa. Casa cheia outra vez. Fiz a receita do Michel, “Pommes de Terre au Papillon” ficaram boas. A Madame Imane gostou, bem como os outros, para além dos marroquinos e do pessoal da casa veio o Baltazar e a Caren e a Amanda.
Domingo, 25 de Novembro. Dia de memórias em Portugal. Já faz 32 anos. O tempo passa. Aqui foi tempo de ir a Bakel. Eu, o Aires, o Luís e o Messias. Às 9h30m estávamos a pedir a 1ª Flag grande. Quando fomos trocar dinheiro, o Ahmed não estava e o funcionário dele não esteve à altura. 1 Hora à espera e não conseguiu trovar Ouguias por Francos, esteve quase a dar molho. Fomos ter com o Malik, que resolveu o problema. É a nossa salvação em Bakel. Bendita Guiné. Saímos cedo, às 15h estávamos junto ao rio. O nosso barco estava a descarregar a carga, esperámos ainda algum tempo e depois saímos, já com o barco carregado de gente que aproveitou a nossa boleia. Já deste lado, saímos com o Messias à frente. Depois de Boutanda, ia mesmo atrás dele, a nuvem de pó pairava no ar, não se via quase nada, o Aires disse “não foi aqui que ficámos à duas semanas?” e pumba, voltámos a ficar presos na areia. Desta vez foi difícil sair, demorámos muito. Quando conseguimos sair, andámos 3 ou 4 km e disse o Aires “não era por ali?”, pumba outra vez atascados. Ele disse que não voltava a falar até ao fim da viagem. Mas dali não conseguimos mesmo sair. Após uma hora de trabalho árduo, sem resultados, vi um camião e corri a pedir ajuda. O tipo tirou-nos num instante. Agradeci-lhe e ele respondeu-me, “fiz isto pela Mauritânia, sei que estão aqui para ajudar.” Inch Alá. Quando cheguei a casa fiz esta cara de chateado, que assustou quase toda a gente, o sacana do Messias, disse, outra vez, que Deus é grande. E deve-se pagar nesta vida todas as dívidas. Quando chegar a sua conta, quero ver o que vai dizer.
2ª Feira, 26 de Novembro. Tal como prometido, entreguei as medições ao Jamaldine. Consegui, porque o Hassan, nosso novo chefe de laboratório, felizmente, não tinha o computador ligado, na noite da desgraça. E o carregador dele é de 19v, como o meu. Fui jantar a casa do Nick, bebemos umas garrafinhas do Silvain, e foi uma noite agradável.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Casa nova

2ª Feira, 12 de Novembro. Acordei com a boca a saber a papéis de música. Bebi litro e meio de água, logo de manhã. Não vou aos treinos, e depois … Fui mostrar ao Jamaldine o desvio acordado com o Niang. À tarde voltei aos offset cheguei ao 13+500.
3ª Feira, 13 de Novembro. Saí de casa para ir buscar o meu pessoal e a carrinha começou a falhar, depois de apanhar o Maktour já só andava em 1ª e 10 km/h. Parti para a base e ainda dentro da cidade parou 3 vezes. Na base o mecânico viu o filtro e este estava completamente entupido. Comprei um novo, por 6€. Fui mostrar o Toutvenant ao Jamaldine, vi-me aflito para dar com o local, mas acabei por encontrar um caminho novo, para lá chegar, muito bom. Entretanto o Jamaldine e o Niang chegaram a um acordo para aprovação do projecto e poder dar início aos trabalhos. Andei para trás e para a frente até ter o documento assinado. Quando cheguei a casa a carrinha parou outra vez.
4ª Feira, 14 de Novembro. Pelas 8 horas da manhã liguei para o Xavier, para lhe dar os parabéns, pelo seu sétimo aniversário. Custa estar longe. A carrinha teve que ser rebocada para a base. Levámos o equipamento para a obra e esta começou. Finalmente. Começámos ao Pk 3100. O Niang, pediu-me para alterar o projecto na zona do Pk 2700, para evitar uma casa. De caminho acordámos também alterar o eixo no Pk 13400, para salvar um grande Baobab, com cerca de 10 metros de perímetro, achei que seria um crime não o fazer. Fiz as primeiras fotos da obra. Estava o pessoal todo contente.
5ª Feira, 15 de Novembro. Finalmente tenho a carrinha reparada. Está a andar bem agora e com todas as luzes. Na zona já decapada recoloquei algumas estacas que tinham sido arrancadas. Implantei a alteração do Pk 2+700. O Niang gostou. O dono da casa, esse, então rejubilou. Nunca esperou que alterassem o projecto para lhe salvar a casa. Há dias de sorte.
6ª Feira, 16 de Novembro. Dia de visita. Hoje o pessoal da União Europeia veio ver a obra. Estavam à espera de encontrar um bando de atrasados mentais, mas lixaram-se. O estaleiro está a ficar bonito. Tem boas condições, já lá está muita gente a viver. A Obra começou e tem bom aspecto. Quem pareceu que não gostou foi o Carlos Cunha… O Belga da União Europeia, disse ao Michel que vai voltar e trazer cerveja belga com ele, gostou de ver como foi empregue o dinheiro que tem a seu cargo.
Sábado, 17 de Novembro. Finalmente mudámos para a nossa casa. Depois de almoço, mudámos tudo para a Base. Chegou a internet móvel. Só a minha não funcionou, é do Vista. Começa a tomar forma, o local onde passaremos dois anos.
Domingo, 18 de Novembro. Dia de Bakel. Saímos pelas 8h. Finalmente pude mostrar a planta que tanto me fascinara, um arbusto que parecia seco e está agora cheio de flores rosa. Parámos todos para tirar fotos. Levei o nosso canalizador, um togolês, foi comprar artigos que não se encontravam em Selibaby. Passámos o dia no Chez Jeanne. Apareceu lá um chato, cristão, que parecia que me queria converter. Disse que em Bakel há aulas de português no liceu, e domingo próximo, vai lá levá-lo para nos apresentar. Para cima viemos sete na minha carrinha, Eu, o Luís, o Zé Manuel, a Joni, a Karen, a Chauncey e o nosso togolês. Mais a carrada de estacas. Pronto agora é que é, temos carta-branca e mais não digo… Chegou o projecto das obras de arte, disse ao Houari que às sete da manhã, pode ter a certeza que a primeira estará marcada.2ª Feira, 19 de Novembro. 4h30m, despertar. Arrancar na direcção de Mbout. Às sete a OA16, estava marcada. Pelas 11h30m estava de volta a Selibaby, os projectos que tinha, estavam marcados. Depois de sair o Jamaldine trocou comigo, ficou com o cartão PCMCIA e deu-me a placa USB. Finalmente tenho internet. E funciona. Ainda me surpreendo neste país. Falo então para casa, pelo Skype. Está lá uma grande trovoada e frio. Falta lá a luz. Aqui estão 38 graus. Amanhã é a festa dos anos do Aires.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Carta do Governador

5ª Feira, 8 de Novembro. Atravessámos uma zona muito complicada, a erva seca tinha cerca de 2 metros de altura, o Mamouni vinha logo atrás e levantou os perfis à medida que nós marcávamos. Chegámos ao 10825. Comecei o levantamento do terreno para a alteração da variante a Selibaby.
6ª Feira, 9 de Novembro. Acabei o levantamento da variante. Depois com o Houari e o Zé Manuel fomos com o Niang e um representante do governo ver o desvio que teremos que fazer para passar de estaleiro para a obra. À tarde com o Houari e o Luís fomos ver um empréstimo, o Houari deixou o carro cair num buraco muito grande, mas conseguimos sair de lá.
Sábado, 10 de Novembro. Fiz uma proposta ao meu pessoal, quando tivéssemos 2 km marcados o dia estava ganho. Acabámos às 12h45m. Nunca tinha visto mauritanos a correr… À noite o Mamouni veio com uma carta, escrita em árabe. Disse-lhe que conseguia ler apenas a data. Ele respondeu que a carta era para mim e não para outro responsável da empresa. Pedi ao Houari para me ler o que estava escrito. A carta estava dirigida ao comissário da Polícia de Gouraye, para nos facilitar a passagem de, e para Bakel. Chegaram os AFA’s de Kaédi. Mais o Messias, porque amanhã é domingo.
Domingo, 11 de Novembro. Dia de S. Martinho. Saímos cedo para Bakel. O Messias ia à frente a fazer pó e eu atrás. Depois de Boutanda, ele seguiu por um caminho e eu por outro. Passado algum tempo ligou o Luís a perguntar por nós, mas estávamos muito à frente deles. Chegámos a Gouraye e eu muito contente, fui ter com o Chefe da polícia, dizendo-lhe que era portador de uma carta do governador para ele. Pediu-me a carta procurei por todo o lado e não achei. Logo de manhã a primeira coisa que fiz foi uma cópia da carta, para memórias futuras. Deixei a preciosa carta em cima da secretária. Felizmente já tinham telefonado para Gouraye a avisar da nossa chegada com a tal carta. Mas devo ter feito uma cara de parvo de todo o tamanho. Depois fui falar com o director da alfândega, agora já sabendo que não levava a carta. Mas foi cinco estrelas e chegámos a acordo. Temos via verde. O Luís e o Messias nunca mais chegavam, decidimos seguir. Quando eles chegaram ao Chez Jeanne, estavam pior que estragados connosco, mas não podíamos falar com eles porque nenhum tinha rede. Ficaram atascados na areia e o Luís teve que andar 6 km a pé para pedir ajuda. O Messias rogou-me uma praga. Na volta, enquanto fui ter com o Malik, para buscar as estacas, os gajos vieram embora. Ficaram a Karen e o Aires à minha espera. Em Gouraye um polícia pediu-me transporte para uma mulher, para Boutanda. Andámos uns 3 km e fiquei preso na areia. Toda a gente a tirar a areia debaixo do carro e lá saímos. Deixámos a senhora e pouco depois voltei a ficar preso na areia. Desta vez foi mais complicado e demorado, mas lá saímos. Não tinha água. A boca começava a latejar. Perdi a concentração e o norte, porque já fiz umas 10 viagens destas e nunca me tinha perdido. Fez-se noite. Uma simples viagem que demorou 1 hora para baixo, demorou muitas para cima. Nunca mais achei o caminho, chegámos muito tarde e cheios de pó. Ainda havia um restinho do cabrito do messias, vá lá. Mas o “sacana” quando ouviu a nossa história só dizia, Deus é grande. Tomei um duche. Fui comer e acabei por beber um pouco demais.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Bolo de Chocolate

6ª Feira, 2 de Novembro. Mais um dia no campo, a marcação correu muito bem, já estão marcados 5 km. Não é por mim que a obra não começa. Fui comprar tomadas com o Zé Manuel, para colocar no meu quarto, pois a quantidade de equipamento é muita.
Sábado, 3 de Novembro. Levantar cedo dá saúde e faz crescer, era o que se dizia, pois devo estar cheio de saúde. Hoje às 6 h já estava a caminho. Cheguei à OH 16, perto de Mbout às 8h. O Carlos e o Sérgio chegaram apenas às 9 porque tiveram um furo pelo caminho. Fizémos os levantamentos todos que a Norvia pediu. Cheguei cedo a Selibaby, pelas 14h. O Sy apareceu a dizer que a dor que o apoquenta não passou com os comprimidos que o médico lhe receitou e queria ir a um curandeiro tradicional. Perguntei-lhe se sabia onde era, não, mas havia um tipo lá no estaleiro que sim. Fomos ao estaleiro procurou o tal tipo, foi-nos então indicar o caminho. Caminho é uma forma de expressão, porque se há coisa que não existe para tal lugar é caminho, nem trilho. Depois de muito andar o gajo lá disse que estávamos perto, e chegámos a um Oed onde não havia passagem, deixei lá o Sy.
Domingo, 4 de Novembro. Para não variar, levantámo-nos às 6h, que o dia ia ser longo. Como combinado com o Hassan, fomos para a frente do posto da polícia junto à Willaya. O Vadel nunca mais chegava. Liguei para o Hassan, ele disse que o amigo estava quase a chegar, tinha acabado de lhe falar. Depois de muita espera e muito telefonema, fomos buscar o Hassan, para nos levar à casa do Vadel. Afinal o Hassan percebeu mal, o Vadel esteve à nossa espera uma hora junto ao comissariado da polícia, que era noutra parte da cidade. Fomos buscá-lo e partimos para Diagili. Saímos de Selibaby pelas 8h30m, às 9h30m estávamos a chegar à cidade onde o Vadel era o comandante da polícia. Não estava à espera de encontrar nos confins da Mauritânia uma terra tão arejada, soube que tinha sido habitada pelos franceses. O chefe da alfândega chamou-nos uma piroga, atravessámos para Koeni, no Senegal, aqui não há polícia, entrámos no Senegal sem mostrar um único documento. Apanhámos um táxi para Bakel. Chegámos à Chez Jeanne antes do pessoal que veio directamente para Gouraye. Encomendei as estacas ao Malik e partimos no nosso táxi com todo o material. O pessoal de Gouraye não levou nada. Chegámos a Diagili e fomos muito bem recebidos, não olharam para nada, a Karen voltou connosco e ninguém ligou. Trouxemos um polícia para Selibaby, o que se revelou seguro porque me corrigiu a direcção duas ou três vezes.
2ª Feira, 5 de Novembro. Às 6h30m, liguei para a Joni, para saber quem me iria fazer o bolo de chocolate. Não atendeu, deixei mensagem. Mais um dia no campo a marcar offset. O Alsam deixou cair o GPS, com a brincadeira, fiquei pior que estragado.
3ª Feira, 6 de Novembro. O Alsam ficou a guardar a base do GPS. Fiz uma coisa que não devia, deixei a chave na ignição. O gajo resolveu abrir a porta da carrinha e deixou-se ficar com a mão encostada, veio uma rajada de vento que fechou a porta e lhe entalou o dedo. Para me ir dizer que tinha o dedo entalado, deu-se ao trabalho de fechar os quatro vidros e as quatro portas. Quando dei por isso estávamos a 10km de Selibaby com a carrinha trancada e sem rede de telemóvel. O Maktour foi a correr pedir um arame a um camião que passava. Surpreendentemente coloquei o arame pelo meu vidro, que felizmente tinha ficado com um bocadinho aberto e abri o carro à primeira. Não comi o almoço. Recusei. Galinha cozida com arroz branco, pela enésima vez, é de mais. À tarde estava pior que estragado, ligou a Karen a dizer que seria a Kim a fazer o meu bolo de chocolate. “Convidou-me “ para jantar com eles. Fui buscá-la e à Kim ao Restaurant de L’Hopital. Fui à casa de Mr. Muller, que simpaticamente me dispensou três garrafas de vinho. Muito bom, como viria a verificar. Chegámos à casa da Joni e do Nick, toda a gente foi muito simpática para mim. Jantámos, depois chegou a Amanda com o Silvain, um francês. O pessoal adorou o vinho. Eu adorei o bolo de chocolate. Nunca pensei estar com tantas carências, para ficar tão radiante com um bolo de chocolate. Quando cheguei a casa o pessoal estava preocupado com a minha ausência do jantar, o Luís foi buscar uma garrafa de whisky, que eu fiz o obséquio de beber até à última gotinha. Afinal o dia que tinha começado tão mal acabou em beleza.
4ª Feira, 7 de Novembro. Fui buscar o Alsam e disse-lhe que a partir de hoje ele ficaria a trabalhar no estaleiro, depois fui buscar o novo elemento, parente de Niang. O Alsam não quis ficar a trabalhar no estaleiro, recusou, deve pensar que é importante. Pelas 11h levantou-se uma grande ventania e a quantidade de pó no ar era enorme, parámos a marcação no PK 9650, já temos 7km marcados. À tarde deixei-os a pintar estacas. O nosso T4, já chegou e começou a ser montado. Vai ter churrasco e tudo.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Santos e lorpas

3ª Feira, 30 de Outubro. Dia no computador com o João do outro lado para verificarmos o que se podia fazer, com as poligonais. No final do dia chegámos à conclusão que teria que voltar a fazer tudo de novo, com os ficheiros de conversão que a Topgomes me enviou. Preparei a obra para marcação de offset.
4ª Feira, 31 de Outubro. Mais um dia com problemas para dormir, acordei às 5 da manhã. Só que desta vez com a solução para o problema das poligonais. Fui para o computador e resultou. Às 7 e meia fui buscar o pessoal e fomos para o campo. Começámos a marcar em grande estilo e por volta das 10 o Alsam partiu o cabo da marreta. Tive que ir comprar um novo, só havia redondos e fomos a um menuisier para o ovalar. Ao chegar a casa estava lá o Niang, com o CD que eu gravei com o eixo da variante para lhe explicar, pois ele ia partir para Nouakchott, para o ministério, para aprovação do traçado. Mesmo assim conseguimos marcar 1400 metros de offset.
5ª Feira, 1 de Novembro. Dia de todos os santos, dia de trabalho aqui. E muito. Marcámos 1800 metros de offset, os gajos estavam todos rotos. Porque todas as estacas precisam de guilho antes. Ligou-me o Jorge, tal como antevi há uma semana, a Norvia, não vai levantar o GPS da alfândega em Nouakchott, pois um milhão e meio de Ouguias é muito dinheiro (4500 €) para trabalhar dois ou três dias. O Carlos Dias está há duas semanas em Kaédi sem nada para fazer. Queria que eu lhe emprestasse o meu GPS no domingo, para ele fazer a completagem dos levantamentos que faltam. No domingo não, vamos a Bakel, mas como isto aqui está controlado, vou lá no sábado. Porque eu não sou mau diabo, só não gosto que me tomem por lorpa.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Cerveja, Bakel, Peles, Polícia

Sábado, 27 de Outubro. Levantamento da poligonal, correu bem. Consegui ler a 10 km. Todo o dia a andar. Chegou o Messias, fez o jantar. O pessoal já não comia uns bifes assim há muito tempo. O irmão do comandante da policia, acabou por ficar a trabalhar comigo, porque não tem carta de pesados. À noite fiz uma visita guiada a Selibaby, para mostrar a cidade ao Messias.
Domingo, 28 de Outubro. Alvorada às 6 e meia. Saída de casa às 7. Viagem para Gouraye. Chegámos lá tão cedo que o pessoal da alfândega ainda não tinha chegado. Chegámos a acordo com a polícia. Puseram-me a única cadeira do posto à disposição. Tudo graças ao meu Hadj. Eu grande chefe. Em Bakel fomos direito à casa do Ahmed, irmão do Hassan, para trocar dinheiro. Depois Chez Jeanne. Almoçámos lá. Conhecemos o Remi, tunisino, compra peles para uma empresa turca. Acompanha o abate de animais em Selibaby, deu-me o nº de telefone para podermos contactá-lo e comprar carne boa. Dia bem-disposto. No regresso a alfândega mauritana chateou-me muito. Deu-me três hipóteses para o futuro: 1ª Solicitação da embaixada de Portugal, para a importação de bebida. Portugal não tem embaixada na Mauritânia. 2ª Autorização do governador para abastecimento, (não pode pôr bebida porque é interdito aqui) em Bakel. Uma para cada vez e cada pessoa que lá vá. Coitado do homem, começava a ter mais trabalho connosco, que o que tem com toda a província. 3ª Passarmos onde ele não nos veja, também não nos procurará. O polícia que me acompanhava, só dizia “ça c’est pas bon”. A ver vamos, começo a estar farto destes gajos. No entanto a viagem correu bem.2ª Feira, 29 de Outubro. Segunda poligonal feita. Dia em cheio. À noite grande confusão com o João. Estava tocado, muito chato, faz-me lembrar alguém quando está com os copos e não admite. O problema é que ele é motorista. Faz centenas de km por dia. Bebeu-me quase metade da minha cerveja e às 2 da manhã, arrancou para Kaédi. De manhã já lá estava.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

De volta a Selibaby

2ª Feira, 22 de Outubro. Fomos testar a teoria da poligonal e voilá funcionou. À tarde fomos marcar offset e tivemos muita dificuldade. A bateria deu o berro. Fomos ao marche procurar uma nova, como encontrámos igual à que levávamos e custava só 1500 Ouguias comprámos duas, isto são 9 €, em Portugal custaria cerca de 100.
3ª Feira, 23 de Outubro. O Carlos pediu-me se podíamos ir fazer uma completagem do levantamento a Lekseiba, fomos. O Rodrigo chegou com a antena do GPS. À tarde o Rui Gomes solicitou a remarcação de offset, do 9+300 ao 10+100, foi feito. À noite bebemos uma garrafa de Ballantines em casa do Rodrigo.
4ª Feira, 24 de Outubro. Fizemos então o levantamento das poligonais entre o P1 e o PP5, cerca de 20 km. Foi o dia todo a dar gás. À noite tivemos conhecimento que a Norvia finalmente enviara as localizações das sondagens. Fomos ver e eram do lote 1, que supostamente não tinha problemas. As do lote 2 nem vê-las. Continuámos em casa do Rodrigo, para a despedida.
5ª Feira, 25 de Outubro. Viagem para Selibaby. Correu bem, à hora de almoço já cá estávamos. O Carlos não pode vir, porque não há quarto para ele. O Jorge e o Touré, tiveram que ir dormir fora, porque também não havia quarto para eles.
6ª Feira, 26 de Outubro. O Mamouni veio ter comigo para fazer o levantamento de uma alternativa à variante de Selibaby. O eixo anterior arrasava muitas casas novas e o dono de obra não achou piada. Depois tentei criar um eixo que passasse pelos pontos levantados, não está a ser fácil. Ainda tenho que calcular a poligonal 2, para o Rodrigo e tenho que levantar a minha primeira, porque está a dar erros muito grandes.

domingo, 21 de outubro de 2007

Fim de semana - Kaédi by night

Sábado, 29 de Outubro. Tentámos em vão colocar o GPS a funcionar. Fui com o Carlos Dias ao “Marché” comprar uma bateria nova. Achámos e comprei duas, por 9€. Experimentámos e o GPS funcionou. Fomos testar a teoria do João, a respeito das poligonais, funcionou. O caminho é esse. Fazer novas poligonais de apoio à obra, com troços maiores. Falei com o Carlos e esclarecemos todos os mal entendidos. Agora “só” falta explicar aos engenheiros, coisa que venho tentando à um mês, que não podemos marcar as sondagens sem projecto… Já desisti. O Carlos Dias tentou explicar ao Carlos Cunha, depois de ter tentado fazer o mesmo ao Luís Filipe, e ficou desanimado. Conseguimos leitura com a antena improvisada a 5,5 km. O Michel ficou todo inchado. À noite fui ver um concerto, é verdade, em Kaédi. De Ousmane Hamady Diop. Grande artista local. Pelo menos, o público esgotou a casa na Alliance Franco-Mauritaniene. Nunca tinha visto as pessoas levantarem-se e dirigirem-se ao cantor em plena actuação e entregarem-lhe dinheiro!
Domingo, 21 de Outubro. Dia em Kaédi, sem fazer nada. O João ainda não recuperou da tosga da véspera e está chato como o caraças. O pessoal dividiu-se, parte foi ao Senegal, a Matama, outros fizeram o seu petisco, fiquei com o grupo do bacalhau.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Antena do GPS

5ª Feira, 18 de Outubro. O Fernando fez a antena pelo modelo do Michel, fui experimentar e funcionou a 4 km. Faltava-me um suporte para a antena, fui falar com o Baltazar, mas ele estava de saída. O Agrela, dono do AFA, ouviu o meu pedido, percebeu, pegou no aparelho de soldar, depois na rebarbadora e fez-me um suporte para a antena. Espectáculo. Agora já posso trabalhar. O Jorge Ferreira entregou-me a carrinha do Jamaldine, para eu trabalhar. Amanhã vou começar.
6ª Feira, 19 de Outubro. Arrancámos às 7 horas. O Moctar foi ter comigo. Marcámos 850 metros de manhã e fizemos o levantamento conjunto. À tarde o GPS não funcionou, tentei mas quando cheguei ao electricista estava tudo bem. Quando voltei ao campo nada. Desisti. Chegou o Carlos Dias, topografo da Norvia, vem para verificar a poligonal. Amanhã é outro dia. À noite assaltámos a adega do João. Ele tem muito.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Chegou o GPS

2ª Feira, 15 de Outubro. Fui entregar a minha carinha para a revisão e a notícia não podia ser pior, não têm peças para ela. Tem que ficar parada, não sabem quando volto a ter carro. Aproveitei para descansar.
3ª Feira, 16 de Outubro. Chegou o Suleymane com o GPS. Falta o bastão e a antena. Fui ter com o Fernando à oficina, para ver se podíamos fazer uma. Ajudou-me. Fui experimentar e não funcionou. Chegaram os gerentes da AFA e da Tâmega. Separaram as obras. Lote 1 para a Tâmega e lote 2 para a AFA. Os AFA’s devem mudar para Selibaby em duas semanas. O Eng. Mestre quer um relatório sobre os problemas da topografia. Quando lho vou entregar à noite, O Carlos Cunha chamou-o, iam embora para Selibaby, o Lopes da Tâmega não queria ficar em Kaédi. O Agrela da AFA tinha ido para Selibaby, com o Baltazar. Vamos ver o que isto dá.
4ª Feira, 17 de Outubro. Continuo sem carro. Experimentei a colocar um bocado de lata de coca-cola na antena… e voilá, funcionou. Consegui sinal a 2 km. Ainda não é suficiente mas já é alguma coisa. O Michel percebe de antenas e ficou de me ajudar a fazer uma, vamos ver. O sentimento geral aqui no estaleiro é estranho, com esta divisão entre AFA e Tâmega. Ninguém sabe o que vai dar.

Saint Louis

5ª Feira, 11 de Outubro. Às 6h o pessoal já está todo a pé. Ninguém encontra a chave da dispensa. Ficamos só com o café. Até 100 km de Rosso é sempre a andar. Estrada asfaltada, pouco trânsito. Depois entramos no troço da Zagope. E nos primeiros 50 km eles ainda não mexeram. Por isso a deslocação foi difícil, ainda há muitas zonas com água, que tiveram que ser contornadas. Chegámos ao estaleiro da Zagope pelas 12h. Só lá estavam 3 brasileiros. Também pararam como nós. Conversámos com eles um pouco, explicaram-nos o caminho até Rosso e partimos. O Jorge ia à frente e perdeu-se. O Michel levava o GPS ao contrário… Voltámos para trás. Fizemos 45 km em todas as direcções e nada. Até que demos com o caminho. Vimos uma família de javalis, pai, mãe e 8 bácoros. Chegámos a Rosso. Passar a fronteira foi uma confusão. 3 Horas depois e muitas chatices lá passámos para o Senegal. Lá chegados, a confusão era maior ainda. O trânsito para a Mauritânia era imenso. Demorou até termos os nossos passaportes de volta. Eu, o Messias e o João ficámos a tomar conta dos carros. O João foi procurar umas fresquinhas. Demorou bastante a voltar, mas chegou com 3 geladinhas. Souberam que nem ginjas. Partimos. Caminho fácil, plano. Paisagem agrícola de arroz e cana-de-açúcar. A determinada altura passou por nós uma carrinha e um dos ocupantes pôs a cabeça de fora e pôs-se a gritar. Era o Augusto, o irmão do Baltazar. À entrada em Saint Louis, a polícia mandou-nos parar. Fomos multados por falta de cinto de segurança. Mal sabíamos o que nos esperava… Um pouco à frente estava o Augusto à nossa espera, à porta do escritório da empresa onde trabalha. Parámos e fomos logo ao café ao lado beber umas cervejas e o patrão do Augusto pagou a rodada. Levaram-nos a um hotel conhecido deles, onde nos fariam um preço em conta. Tinha bom aspecto. Saímos para ir jantar ao Flamingo. Um restaurante com uma localização espectacular, na “Ile Nord”, uma ilha no meio do Rio Senegal. Depois fomos ao “Café Iguane”, onde existe um culto a Che Guevara. Há muitos europeus em Saint Louis, o pessoal das ONG’s, da ONU, das embaixadas, especialmente em Nouakchott, está cá todo. Bendito Ramadão. A noite é longa e dura.
6ª Feira, 12 de Outubro. Levantámo-nos cedo, seis de nós. Arrancámos à descoberta. Eu ia a indicar o caminho. O Messias, o Zé Manuel e o João iam na caixa aberta, a gozar a aragem. A polícia mandou-nos parar, pediu-nos para ver o triângulo e o extintor… Depois reparou no pessoal lá atrás, eram brancos, iam em “infraction”, mais uma multa. Seguimos, toda a gente a ralhar comigo, porque estávamos a andar muito. Só se calaram quando chegámos ao ZebraBAR. Local espectacular. Na foz do Rio Senegal, junto à sede do parque natural da “Langue de Barbarie”. Bebemos lá umas louras geladinhas. À hora de almoço, saímos para ver se encontrávamos o Jorge e o Michel. Conseguimos encontrá-los. Os rádios de obra servem para alguma coisa. Nomes de código: Land Cruiser “RAPOSA VELHA” Hilux “ZEBRABAR”. Almoçámos no Flamingo. À tarde levámos os dois a conhecer o ZebraBAR. Voltámos a ser multados, não tínhamos seguro do Senegal para as viaturas. Mas depois do pagamento, explicou-nos que no sábado estávamos tranquilos porque a polícia estava de folga, devido às festas do Ramadão. Chegámos ao ZebraBAR, estava muito bom. Tomei um banho no rio. Pusemos o Messias a fazer o jantar. Macarronada de camarão. A dona do espaço, uma senhora suíça, esteve a falar connosco. A época alta começa em Novembro e dura até Junho. Agora estavam lá poucas pessoas, só dois casais com crianças pequenas e um casal jovem sem filhos. Tem uns Bungalows com muito bom aspecto. Um bom local para passar férias. Tem uma plataforma metálica sobre as árvores, com uma vista espectacular. À noite fomos ao Flamingo e depois ao Iguane. O Messias está a ficar louco, quer pôr tudo a falar português. A Muriel, gerente do Flamingo, uma belga, acompanha a brincadeira e atira o Messias para dentro da piscina. Hoje é a festa do fim do Ramadão.
Sábado, 13 de Outubro. Saímos todos de manhã, direitos ao Hotel de la Poste, beber um café expresso. Soube como o melhor do mundo. Têm lá uma sala com troféus de caça, muito antigos, espectacular. Há lá animais que nunca tinha visto, são é todos enormes. Continuámos com um destino bem definido, ir fazer um dia de praia. Seguimos pela estrada até um sítio com bom aspecto. Entrámos, era um “campement”, tinha restaurante, e palhotas de cana para dormir. Tomámos conta. Foi um dia memorável. O Messias foi com o gerente comprar peixe, apareceu com carne de vaca… Era o dia após as festas do fim do Ramadão e os pescadores não trabalhavam. Fizemos um churrasco espectacular. Tudo acompanhado com muita Gazelle. A praia é espectacular, quilómetros de areia, água quentinha e umas ondas boas para surf. À noite passámos pelo Flamingo, o Messias apanhou dois cocos e abriu um para bebermos água de coco. Fomos jantar ao Casino. Comi uma pizza calzone, que saudades… Acompanhada de vinho tinto de Bordéus, antes bebemos Martini. O Messias e o João apareceram a dizer que tinham passado num depósito de bebidas… Fui lá com o Zé Manuel, comprámos toda a cerveja que tinham e uma garrafa de JB. Ficámos depois com um problema nas mãos, como passar a fronteira com aquilo tudo? A noite continuou no Iguane, via-se que o Ramadão acabara, estava a rebentar pelas costuras.
Domingo, 14 de Outubro. Pelas 7 horas tudo a pé. O João ia pagar os quartos, porque não sabia o código do cartão e recebia dinheiro de todos para pagar as suas despesas. O terminal não funcionava. O funcionário do hotel ligou para o banco e resolveram o problema. Não esquecer que estávamos num domingo às 7 horas da manhã. Saímos e fomos logo multados outra vez, a quarta em quatro dias. Chegámos a Rosso, demorou muito a despachar os documentos no Senegal. O Messias é brasileiro e precisava de visto para o Senegal, sorte dele que só deram por isso à saída. Passámos, na Mauritânia foi rápido, tínhamos contratado um auxiliar que veio à frente com os passaportes e já tinha tudo tratado. Não viram as viaturas. Respirámos de alívio. Estávamos safos. Comprámos água, há 4 dias que não tocava em tal líquido. O calor apertava. Seguimos, já conhecíamos o caminho, não houve enganos. Assim que tive rede recebi um telefonema da FED EX, o meu GPS chegou, temos que pagar 250000 Ouguias. Chegámos a Kaédi pelas 17 horas. Vinha tudo cansado, mas feliz, valeu a pena.

Kaédi

Domingo, 7 de Outubro. Dia de não fazer nada, nem sequer ir a Bakel. Fui dar uma volta a Kaédi. Voltei a passear por Kaédi com o Jorge, o Michel e o Zé Manuel. Fomos ao “Marché”, comprámos um cadeado para por na porta de casa, que está aberta e o guarda já foi dispensado. À tarde fomos à casa azul, comer uma chouricinha e beber uma cervejinha gelada.
2ª Feira, 8 de Outubro. Continuamos a marcar offset. Dia normal.
3ª Feira, 9 de Outubro. Dia de grandes novidades. O fim do Ramadão é na 6ª e as festas decorrem a partir de 5ª. Logo temos um fim-de-semana de 4 dias para preencher. Vai um grupo a Saint Louis, é nesse que vou. Vamos ao Senegal.4ª Feira, 10 de Outubro. Mais um dia no campo, correu bem. As máquinas acompanham a nossa marcação, arrancando as árvores e fazendo logo a decapagem. Surge gente de todo o lado para cortar as árvores caídas. Fui com o Rodrigo ver auto rádios, custam 3500 Ouguias. Mas são de sintonia manual ainda… É melhor ver o que há em Saint Louis. O meu GPS, chegou, mas às Maurícias… os bastões que saíram de Portugal a 25 de Agosto e já foram duas vezes às Maurícias, acabam de chegar… a Portugal. Estes gajos são uns incompetentes. A FED EX é uma treta. O Jorge muda hoje de casa, vamos ver se fico só ou se vou também para o estaleiro. Amanhã saímos às 6 da manhã. Mudei também.

sábado, 6 de outubro de 2007

5 de Outubro


5ª Feira, 4 de Outubro. Hoje as coisas não correram muito bem. Não encontrei vários marcos, tenho que utilizar o GPS, para os localizar, sem isso não posso continuar. Hoje o Sr. Niang veio à casa. Fim do mês… Combinámos ir verificar a poligonal com o Mamouni.
6ª Feira, 5 de Outubro. Fui para o campo com o Mamouni. Então é assim. Ele tem, um motorista, um transportador para o nível, outro para a pasta, mais um para a mira e outro ainda para a base da mira! Querem tudo verificado a nível. Não acreditam que em Portugal, cada topógrafo só tem um porta-miras. Ligou-me o Jorge Ferreira. Tenho que ir para Kaédi hoje. Arrumar tudo. Saí à 1 e meia. Cheguei às 8h. Todo partido. O Rodrigo deu-me o ficheiro de marcação. Ainda preparei a estação para amanhã.
Sábado, 6 de Outubro. Comecei a marcar offset. O Haiba e o Sow, vieram comigo de Selibaby e não estão muito contente com o Sidi, o novo daqui, confesso que também não. Fiquei na casa onde estava o Rodrigo com o Jorge Ferreira. Vou ficar em Kaédi por três semanas. O Rodrigo vai de férias a Portugal. Lixaram-me a ida a Bakel no domingo. Casa hoje o Ricardo. Já lhe telefonei. Espero que tenham um dia bom. Aqui está um calor do caraças!

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Pássaros, bichos e outros


3ª Feira, 2 de Outubro. Mais um dia no campo, esta zona é espectacular para quem gostar de aves. São fantásticas. Há de todas as cores e feitios, tamanhos e formas. Tenho que incluir na agenda uma câmara com teleobjectiva. E os sons são fantásticos. Estamos a começar a trabalhar às 7 da manhã, hora a que nasce o sol por aqui. Até às 8h ainda se aguenta, depois… Mais um dia a correr bem, tão bem que acabei as estacas e tivemos que voltar à base. Finalmente. Depois de chatear o Houari, todos os dias para ver se o governador me passava a autorização de importação de cerveja, fomos à Willaya. O governador ainda não veio de Nouakchot mas o vice recebeu-nos. E perante o nosso pedido, a sorrir com malícia disse “bebam água” vou ligar para Gouraye para informar que não têm licença de importação. Obrigado. Para isso era melhor estar quieto. Só com auxílio diplomático. Foi assim que a China resolveu a questão. Mas a China tem muitos interesses na Mauritânia e Portugal nem embaixada… Disse ao Luís, desilusão completa. Vamos ver o que arranja. 4ª Feira, 3 de Outubro. Já passei o km 11. Embora fosse uma zona difícil, o trabalho correu bem. Os putos receberam hoje o ordenado, ficaram todos contentes. O Sy está-se a der bem com a retroescavadora. A temperatura lá continua nos 39. A minha osga de estimação, continua a olhar para mim. A minha relação com a bicharada vai mudando, lentamente, que isto não é um dia para o outro que uma pessoa muda de convicções bichanais. Mas a respeito de bichos é assim: Dois sapinhos na casa de banho, penso que são um casal. Uma osga GRANDE e uma pequenina no escritório. Gafanhotos, agora são aos quilos. O dia de hoje é importante porque o meu GPS foi despachado de Lisboa e se não for parar às Maurícias, como os bastões que nunca mais chegam, breve posso começar a trabalhar com ganas. Decidi tentar aprender alguma das línguas que se falam aqui. Mas como são muitas e o ouvido já é um bocado duro, procurei na Net e encontrei um grupo de Soninke, língua falada aqui, no Senegal, mo Mali, na Gâmbia e na Guiné. A ver se não desisto já amanhã. Jam na wui. Eh, eh. Boa noite.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Fim de semana - De péssimo a excelente.


Sábado, 29 de Setembro. Noite muito má. O nariz não deu descanso, pingava continuamente. Fui calibrar a estação. Doía-me o corpo todo. Definitivamente não ia conseguir trabalhar. Às 10 horas, dei o dia por terminado. Fui-me deitar. A Febre começou a atacar. Arrepios de frio. Dores por todo o lado. Levantei-me para almoçar. Estive um pouco no escritório. Definitivamente não era o meu dia. Deitei-me cedo, umas 8 horas. Acordei pelas 9 e meia, estava completamente encharcado, ouvi vozes parecia ser muita gente. Fui tomar um duche para arrefecer. Depois fui ter com o pessoal. Estavam no refeitório com os americanos. Devem ter pensado que era um extraterrestre que entrou. Estava a transpirar tanto com a febre, que mais parecia ter vindo directo do duche, vestido e tudo. Vimos o filme Borat. Nunca tinha visto tanta parvoíce junta. A noite foi muito difícil.
Domingo, 30 de Setembro. Levantei-me de manhã, 7 e meia, despachei-me e lá fomos nós para Bakel, buscar estacas. Levámos dois carros, porque muita gente quis ajudar. O Baltazar, o João, o Luís, mais o Hassan e o seu irmão Ahmed e a americana Karen. Quando chegámos a Gouraye, lá tive que voltar ao calvário, de falar com a alfândega e a polícia. Ainda não tenho autorização do governador para importação de bebidas alcoólicas. Ele tem estado sempre em Nouakchot. Depois de tudo muito bem falado e conversado, lá partimos. Em Bakel fomos direitos à casa do irmão do Hassan, o pessoal queria todo trocar dinheiro. Depois só queriam um bar para beber cerveja. Como nestas coisas, acontece sempre, achámos logo um, o “Chez Jeanne” claro entrámos e foi logo a matar cinco “Flag” de 65 cl. E eu não queria, mas… E olha, saímos de lá quando esgotámos as “Flag” e experimentámos as “Gazelle” mas o pessoal não gostou muito. Fomos almoçar ao “Hotel Islam”. Só tinham quatro doses. De peixe com arroz. Que venha. O João só dizia e cerveja? Mas nada. Não tinham. Saímos e fomos ter com o Malik, verdadeira razão da nossa ida a Bakel. Grande festa. Toda gente se meteu com ele. Paguei-lhe. Ficou a atar as estacas em molhos. Foi-nos levar novamente ao bar da semana passada. Havia “Flag”. Mais duas para o caminho. Cada um comprou uma grade da Holandesa. Porque queríamos lata e a Flag só em garrafa com depósito. A Karen mesmo assim comprou um monte de Flag. Alugámos um táxi. Parecia que estávamos no filme do Borat. Atravessámos de barco e direito a Selibaby. Nunca pensei que fazer 45 km vezes dois fosse tão duro. Duas horas para cada lado. A areia já está seca e solta. Os carros têm dificuldade de tracção. O pó fica no ar por longo tempo. Mas a doença passou. Na véspera um americano perguntou-me o que tinha e respondi “flu, i hope” e felizmente era. Passei uma noite muito melhor.
2ª Feira, 1 de Outubro. Fui buscar os putos. Fomos para o campo. As coisas hoje correram bem. Marquei 1.5 km. Deixei-os em casa ao meio dia. O calor estava insuportável. E embora eu leve sempre água para eles, não a bebem, por causa do Ramadão. Mas não podem com uma gata pelo rabo. Quis-lhes fazer ver que se trabalharem bem são recompensados. Estou cansado, mas recuperado. A cerveja acabou de curar a constipação. Ligou o João a contar detalhes da reunião com o Eng. Mestre e a Eng.ª Helena. O ambiente está complicado com a Norvia. O meu GPS vai ser colocado na alfândega na 4ª feira. A minha primeira reacção à Mauritânia foi negativa, passei um mau bocado. Estou mais à vontade agora que passei essa fase, para o dizer. Então hoje levantei-me e fui cortar a barba e o cabelo. A máquina quase não trabalhava, não sei se era da corrente ou se já deu o que tinha a dar… Como fui eu que cortei o cabelo e não vejo atrás, não faço prognósticos de como terá ficado o corte na face oculta. Mas o que interessa é que, sinto-me outro. E o que vejo diz-me isso. O Baltazar quer que lhe arranjemos trabalho para sexta-feira… lá terá que ser. É porreiro. Os AFA’s são quase todos.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007


Semana esquisita

2ª Feira, 24 de Setembro. Voltámos ao campo com o pessoal do laboratório, eles fizeram as sondagens que queriam e nós encontrámos os marcos da poligonal com o GPS. O Sy trouxe a máquina para Selibaby.
3ª Feira, 25 de Setembro. Tenho um furo. Não sou mais que os outros. Não quero ir para longe sem roda suplente. O Sy fica a trabalhar com a Retroescavadora no estaleiro da fiscalização e eu levo o Luís, madeirense, à Pá carregadora. Liga-me o Jorge Ferreira, tenho que marcar sondagens para as obras de arte. O Rodrigo dá-me os elementos pelo telefone.
4ª Feira, 26 de Setembro. Vou para lá de Mbout, 150 km em “estrada” muito má. O trabalho corre mal. Uma ponte calha fora do rio. Devo estar mal da cabeça. À noite o Rodrigo ligou-me, houve alteração nos pedidos, deu-me os novos elementos. As sondagens no Pk 96 do lote 1 iriam ser feitas no dia seguinte, descansei-o.
5ª Feira, 27 de Setembro. Às 9h da manhã já lá estávamos. Correu bem. O Messias trouxe uma lata de óleo de motor, para a Retro. Vinha roto, tinha a carrinha cheia de óleo. Claro que fiquei eu com óleo por todo o lado. Cheguei a ter medo pelo caminho, o óleo caia em cima do escape quente e deitava muito fumo. Cheguei a Selibaby com um bocadinho de óleo. A ponte ao Pk 20 do Lote 2, calhou 60 metros ao lado do rio… a do Pk 29, só 20 metros. Desisti, dia de m… Em dois dias 600 km percorridos e duas estacas válidas. Deve ser recorde. Expliquei o que se passava. Amanhã não vou a Mbout.
6ª Feira, 28 de Setembro. Terceiro dia a levantar às 5h30m. O físico queixou-se. Dor de cabeça, má disposição. Tentei aproveitar o dia. Íamos para a estrada de Gouraye, continuar a marcar eixo. Péssima ideia. Chateei-me com os putos. Ficaram todos de castigo. Um camponês veio ter comigo e ofereceu-me espigas de milho e feijão. Obrigado. Expliquei a toda a gente o que se passava. O Luís Filipe da Norvia, tem uma bomba nas mãos. Preparei um relatório. Afinal praticamente todas as pontes têm problemas. Amanhã vou a Bakel buscar estacas. O Malik cumpriu.

Semana esquisita

quarta-feira, 26 de setembro de 2007



As aventuras de um Riachense na Mauritânia

18 De Agosto de 2007
6:00 am – Tocou o despertador. Acordei para um dia completamente inesperado apenas duas semanas antes. O dia da minha viagem para a Mauritânia. Foi o dia em que mais me custou levantar e despachar em muitos anos. A Guida fez-me dar um beijo ao Xavier, coitado estava de tal modo a dormir que não deu qualquer sinal, quando o agarrei para o beijar. A Inês, como sempre aparenta maior autocontrolo e deseja-me boa viagem.
Vou para baixo às 7:00, a Guida ajudou-me a levar a mala, subiu e voltou passados segundos com os óculos, que eu tinha esquecido lá em cima. A emoção foi das mais fortes que já sentimos alguma vez. As lágrimas rolaram, ela subiu.
Chegou o João, carregámos as malas e seguimos para Lisboa.
O Sr. Duarte foi ter connosco junto ao bar, no aeroporto, fomos ter à alfândega pegámos nas embalagens de material e seguimos para o check-in.
A confusão era enorme, a rádio tinha difundido a notícia da greve, da Groundforce, e as pessoas acorreram antecipadamente ao aeroporto.
Fizemos o check-in, o excesso de peso iria representar uma despesa adicional de 1500€, que seriam justificados com a viagem na Air France via Paris / Charles de Gaulle, desta forma evitaríamos Marrocos e as suas percas de bagagem.
Despedi-me do João, segui para a zona de embarque, comprei A Bola, o Sporting tinha ganho à Académica por 4-1, na abertura do campeonato.
Embarcámos à hora prevista, tudo estava a correr bem.
O Comandante falou, explicou que devido à greve as bagagens iriam demorar a ser carregadas e a viagem iria atrasar cerca de 40 minutos.
Eu só iria estar em Paris uma hora…
Chegámos ao Charles de Gaulle, o avião ficou a grande distância dos terminais, seguimos de autocarro, quando cheguei ao terminal, comecei a seguir a placa do terminal 2F, o terminal da partida para Nouakchott.
Passei por todos os terminais do gigantesco aeroporto, o 2F era o último, dentro deste havia 80 portas de embarque a minha era a 47, nunca mais lá chegava. Quando finalmente vi a placa portas 43 a 56, corri para a direcção da seta, tinha uma verificação de bagagem à minha frente e 20 japoneses…
Quando pude corri para a porta 47, estavam lá os funcionários da Air France, para me dizerem que esperaram 10 minutos por mim, que me chamaram pela instalação sonora e que o avião já era. Restava-me ir ao guichet 56A, expor a causa.
Fui atendido por uma senhora simpatiquíssima, que assumiu todas as culpas para a Air France e me despachou para Casablanca e para a Air Marroc, que nós tanto quiséramos evitar, saí de Paris depois da hora prevista de chegada a Nouakchott.
A viagem decorreu muito bem, tal como a estada em Casablanca, um aeroporto quase europeu, como depois percebi.
O voo na Air Marroc decorreu bem. A chegada à Mauritânia foi o primeiro choque, ao sair do avião, fiquei a transpirar como se tivesse corrido a maratona.
Percorremos a pé a distância até ao edifício, entrámos e distribuíram-nos um impresso para preencher, não levava nada para escrever, pedi uma esferográfica emprestada.
Coloquei-me na fila para entregar o impresso mais o passaporte.
O funcionário perguntou-me qual a minha morada na Mauritânia… Olhei pela janela e vi um pedaço de papelão com uma inscrição “PEREIRA”, de pernas para o ar, fiz logo sinal, o Mohamedu teve que entrar onde estávamos para dizer a morada.
Saímos, as bagagens já estavam a sair.
A primeira coisa conhecida que vi foi uma marreta, pensei o pior…
Finalmente, recolhemos a bagagem, faltavam os bastões, apresentámos a reclamação, nas bagagens perdidas.
O Mohamedu trouxe-me para o “Hotel”, nunca pensei sentir saudades daquele hotel…
No dia seguinte, 19 de Agosto. Apareceu-me o Afonso, um madeirense, passei o domingo com ele. Fomos para o escritório, ele cozinhou um coelho, biológico, como fez questão de afirmar.
Deixou-o a apurar e fomos à praia, o lixo é uma constante em África, na Europa não se fala deste problema quando se refere África, mas ontem já era tarde, para enfrentar esta situação abjecta, quem não viu não pode imaginar, é indescritível. As cabras e os burros, alimentam-se de lixo, plástico e papel, estão gordos, dizem-me que é do fígado.
Ligou o Jorge, teve um acidente em Bogé, vai demorar. Vamos comer um crepe “poulet” ao café Savana, surpresa agradável. Fomos a um hotel beber uma cerveja.
Chegou o Jorge, comemos o coelho, voltámos ao Savana, beber um “thé de Menthe”, levámos o Jorge ao Aeroporto, foi de férias a Portugal.
Chegou o João, madeirense e o Baltazar, levámo-los a jantar a um restaurante onde bebemos uma garrafa de Bourdeaux…
Na 2ª, 20 de Agosto. Chegaram o Lopes e o Pereira e mais o Suleymane, foram todos para o porto descarregar contentores. Almocei com o Afonso umas belas gambas.
Fui com eles jantar a um hotel onde comemos um belo bife de vaca e bebemos cerveja. Fui depois com o Afonso levar o jipe do Cunha ao hotel, ele chegou nessa noite com o Eduardo. Seguidamente fomos a um clube beber umas cervejas e jogar snooker.
Terça, 21 de Agosto. Às 11h chegou o Eduardo ao hotel, carregámos as coisas, fomos ao escritório, falei com o Cunha, fomos todos almoçar ao Savana outras boas gambas.
Partimos de Nouakchot, eu e o Eduardo, finalmente ia para Kaédi, a terceira cidade do país, local de início da nossa obra. Nouakchot estende-se por muitos quilómetros, o sahel começa às portas da cidade, a paisagem pouco muda ao longo da viagem, dunas espectaculares, vão-se sucedendo. Surpreendentemente em quase todos os vales há aldeolas, não sei o que comem aquelas cabras, burros e camelos. Nota-se que choveu, começa a ver-se erva verde. De repente está tudo verde, o Eduardo diz que quando passou ali na viagem para Portugal, era só areia, agora parece o Alentejo em Maio. Passámos em Boutlimit, pelo mapa parece importante, é uma decepção, a pobreza, o lixo, é tudo imenso… Perto do final da viajem a paisagem finalmente muda um pouco, As barreiras da policia sucedem-se, temos que parar e cumprimentar, mandam-nos seguir, depois de dizermos quem somos, “goudrom” – alcatrão.
Kaédi, é um buraco infecto, a pobreza é extrema, o lixo ergue-se omnipresente, qual deus do consumo, é só plástico por todo o lado. Semanas antes a obra tinha colocado 5 camiões, uma pá carregadora, uma giratória e uma niveladora, durante três dias a tirar lixo da cidade, só com trinta dias…
O que impressiona é que aqui há água, há muita terra, os agricultores de Riachos fariam aqui fortuna…
Toda a gente tem telemóvel, muitos têm carro, o contraste é gritante, a miséria é um estado de espírito.
Chegámos ao estaleiro, conheci o pessoal, finalmente conheci o Rodrigo, o meu colega, tinha ficado atascado, foi um camião da FAO que o desatolou.
À noite fui a casa do Eduardo e do Pedro, caiam pequenos escaravelhos, como se fosse chuva, à porta de casa estavam 5 sapos, a limpeza tinha sido feita nesse dia e os sapos tinham sido varridos para a rua…
Fomos à casa do Fernando, comer chouriço assado, queijo de Azeitão e da serra. Bebemos cerveja, SuperBock e uma garrafa de Old Parr de 12 anos. Soubemos que o Pedro, numa noite anterior tinha ido ao Senegal buscar 8 grades de cerveja, a polícia mauritana aprendeu-lha mais o passaporte, estava revoltado.
O Eduardo costumava ir com eles ao Senegal, mas não iam em Kaédi, iam mais afastados, aqui foi complicado.
O Pedro fez amizade com as americanas do Peace Corps, anda todo feliz.
Conhece o Carretas e o Caiado, já nos devíamos conhecer de Ovar.
O Filipe, administrativo, trabalhou com o Adelino e o Nuno, o mundo é pequeno.
4ª Feira, 22 de Agosto. O Rodrigo mostrou-me os elementos que tem sobre a obra, o mais importante é o relatório da poligonal GPS, enviei para o João por correio electrónico.
O João recebeu e reenviou para o pessoal do GPS para estudarem, de forma que o aparelho seja logo configurado em Portugal e venha já com os parâmetros inseridos de forma correcta.
O Rodrigo tem andado a adensar poligonal.
Foram 4 camiões para Selibaby, demoraram cerca de 12 horas a chegar lá, levaram contentores para o estaleiro de lá.
Voltei para o Hotel Faboly, onde um monte de miúdos tinha estado de manhã a olhar para mim como se fosse um extraterrestre. Se calhar sou.
5ª Feira, 23 de Agosto. Fomos a Mbout, quando se pensa que já se viu tudo chegamos. Mbout é mil vezes pior que Kaédi, a viagem é longa, 115 km, toda em pista de terra batida, nossa obra, a travessia dos rios e riachos, por vezes é difícil e tem que se passar a vau, como estamos na época das chuvas, há alturas em que não se passa, por vezes passamos para um lado e já não podemos passar de volta. Em Mbout fomos ver o estaleiro que serviu para os americanos fazerem a mesma obra que estamos agora a fazer, há trinta anos, deixaram lá muito equipamento, que agora não serve para nada. No regresso fomos ver a britadeira que está a ser montada, está a correr bem. Chegamos ao estaleiro, já são duas horas.
6ª Feira, 24 de Agosto. Vi finalmente chuva, sabia que tinha chovido, por estar tudo verde, quando em Julho pelas fotos nem sequer havia erva, só areia. Comecei a preparar elementos para começar a marcar a obra. Os primeiros vinte quilómetros, já cá estão, em projecto.
Foi o primeiro Sábado (25 de Agosto), que trabalhei em obra, desde há muito tempo. Para nós foi mais um dia igual aos outros, continuei a preparar os elementos para a obra.
Domingo, 26 de Agosto. Levantei-me e saí a pé, fui conhecer Kaédi. Percorri quase toda a cidade, o que há mais são quartéis, há o da Policia, o da Guarda Nacional, o da Alfândega e o do Exército, deve ser a única coisa que funciona na Mauritânia. O mercado fervilha de gente, o ar está irrespirável, o cheiro a lixo, animais mortos e porcaria inunda tudo, de repente chega um cheirinho agradável, cheira a pão. O pão é bom na Mauritânia, não morro de fome aqui, não enquanto o pão tiver este cheirinho.
Fui ter a casa do Eduardo e do Pedro, já lá estava pessoal, bebemos um gin tónico, como aperitivo. O almoço foi bacalhau assado, acompanhado por vinho tinto. Foi um dia de convívio. O Guarda da casa deles cultiva uma pequena horta no quintal, tem lá melancias, feijão, amendoim, inhame, milho… Dia de aniversário do Rui, procurei o seu numero de telefone mas reparo que não o tenho, quando troquei de telemóvel, perdi muitos números.
Na Segunda, 27 de Agosto. Continuei a preparar os elementos, com o Rodrigo. Chegou o Cunha, disse-nos que tínhamos que ir a Selibaby, marcar a variante, que tem um novo traçado, para desviar de um quartel. Dia de aniversário do Mário.
Na Terça, 28 de Agosto. Fomos para o campo, marcar sondagens para o laboratório, almoçámos no mato, umas sandes, o Hamady e o Sy, rezaram às 3 horas. Consegui telefonar para a Norvia, para me enviarem o projecto da variante de Selibaby. Falei com o Mário no Messenger.
Na Quarta, 29 de Agosto. Acabámos de marcar as sondagens, regressámos ao estaleiro e já cá estava o projecto de Selibaby, preparei-o no Sierra. O Cunha regressou de Selibaby, demorou 12 horas para fazer 230 km, esteve 6 horas à espera de conseguir passar um Oed, em Garfa.
Combinámos tudo para partir no dia seguinte, a minha roupa já estava lavada. Durante a noite os meus vizinhos no hotel fizeram uma farra valente. Durante a noite houve uma trovoada como nunca tinha visto. À meia-noite começou a chover muito!
Na 5ª Feira, 30 de Agosto. Choveu 85 litros em Kaédi e em Lekseiba foram 98. As ruas em Kaédi pareciam rios. A área onde choveu foi muito grande e a estrada ficou muito danificada.
Na 6ª Feira, 31 de Agosto. Não pudemos sair. Preparámos tudo, o Sy Amadou disse que se podia passar para Selibaby, segundo ouviu.
No Sábado, 1 de Setembro. Enfim, partimos às 6 e meia da manhã. Avançámos à velocidade de 25Km por hora. Locais já trilhados em dias anteriores, estavam irreconhecíveis. A água fez bastantes estragos. Chegámos a Lekseiba, a água do Gorgol estava a meio metro das pontes. 2Km depois a estrada estava cortada. Havia acampamentos por todo o lado, carros, 4x4 e camiões. Da margem onde nos encontrávamos até ao outro lado eram 200 metros. O Rodrigo olhou, e disse nós passamos. Passámos e ficou tudo a bater palmas. A água chegava à altura do capô, conseguimos atravessar. Depois de passarmos, outras viaturas nos seguiram. Andámos cerca de 10 km até Jericaia, onde vive a mulher do Sy. Deixámos lá o arroz, o sal, o óleo e o resto. Continuámos, a estrada estava cada vez pior, assemelhava-se a uma pista de trial.
Após Mbout a estrada melhorou e pudemos aumentar a velocidade, as travessias dos rios fizeram-se sem grandes dificuldades. Vimos embondeiros, grandes árvores, que estavam no meu imaginário desde os bancos da escola.
Quando pensávamos que o pior já ficara para trás, chegámos a Garfa, a estrada estava cortada. A quantidade de água era enorme, o ruído da água a passar por baixo e por cima da ponte era tão grande que impressionava. Chegaram dois gendarmes junto a nós, um deles era de Lekseiba, conhecido do Sy, disse-nos que se não chovesse a norte da nossa posição talvez pudéssemos passar perto das 14 horas, eram 12, achámos que estávamos com sorte, estavam ali pessoas há três dias…
Fomos almoçar, frango assado. De repente vimos uma giratória a deslocar-se na direcção na ponte e pensámos que seria da ENER, o que muito nos admirou. Terminado o almoço dirigimo-nos à zona do corte, estava lá a máquina, era da AFA, o operador, estava ali há três dias…
A força da água estava igual. O nível da água também. Começava a escurecer o dia, para norte, onde não podia chover. Não havia como passar, voltámos atrás. A trovoada seguia à frente, zonas onde tínhamos passado havia pouco estavam agora alagadas. Deixámos o Sy em casa com a esposa. Em Lekseiba o nível da água subira, desta vez a água passava sobre o capô… Chegámos ao estaleiro já de noite, tínhamos demorado 13 horas para fazer 320 km… A degradação da estrada aumenta cada dia.
Informámos o Jorge Ferreira, que o caminho para Selibaby estará inoperacional por longo tempo.
Esperamos por informações de Selibaby, sobre o caminho de Kiffa. São 770 km, convém saber como está antes de tentarmos a deslocação.
Domingo, 2 de Setembro. Fui dar uma volta com o Rodrigo aos arrozais de Kaédi, fiquei impressionado. A área é muito grande e vimos muita gente a trabalhar lá.
2ª Feira, 3 de Setembro. Fiquei na casa do Rodrigo e do Filipe, pois o Hotel Faboly está reservado pela embaixada dos EUA. Liguei à minha mãe, dei-lhe os parabéns, fez 71 anos. Falei também com o meu pai, disse-me que já tentara ligar, mas não conseguiu.
Jamaldine ligou-me a informar que um fornecedor partiu de Kiffa em direcção a Selibaby, quando ele chegar ele diz-nos se a viagem pelo norte é viável.
3ª Feira, 4 de Setembro. Finalmente chegou o dia da viagem para Selibaby. O Rodrigo vai na “pick-up” com o Hamady e eu vou no jipe com o Houari e o Sy. Saímos pelas 10h30m, depois de o Fernando ter reparado três furos na roda esquerda dianteira do jipe. O Rodrigo tinha saído pelas 9h. A viagem decorreu bem pela estrada asfaltada, a velocidade era boa. Via hoje muita água, fruto dos aguaceiros dos últimos dias. Quando após Bogé, começamos a afastar-nos do Rio Senegal, a paisagem começa a mudar, cada vez tem um ar mais árido, vemos os primeiros camelos e as primeiras dunas de areia. Junto Aleg, há uma lagoa, onde o Houari viu um pequeno lagarto.
Apanhamos o Rodrigo numa localidade mais à frente, reabastecemos e paramos ao fim de meia dúzia de quilómetros, para comer.
A carrinha do Rodrigo não tem força, está muito carregada e só anda a 80 km/h, reduzimos também a nossa velocidade para irmos juntos. Começamos a ver montanhas, junto a elas um oásis e as primeiras palmeiras que vejo na Mauritânia. Subimos as montanhas, a paisagem é muito bonita. Quando chegamos a Kiffa, já andámos mais de 550 km, acabou o asfalto. Perguntamos a direcção para Selibaby, o que dá origem a muita discussão, na altura não percebi porquê. Partimos de Kiffa, passámos a uma pista tipo Dakar, com os rodados de muitos carros. Ao fim de 20 minutos, cruzámo-nos com um carro, cujo condutor nos disse que íamos na direcção errada, ele prontificou-se para nos colocar no caminho. Voltámos a Kiffa, e desta vez partimos bem. A estrada estava em muito mau estado, após uns quilómetros desapareceu de vez…
Começou a aventura. Íamos uns quilómetros à frente de Rodrigo, a pista por vezes dividia-se em muitas e tínhamos que saber qual era a nossa. Já anoitecia quando perguntámos a uma senhora se estávamos no caminho certo, não! Foi a resposta. Recuámos à aldeia anterior e recuperámos a pista. Já noite fechada, vemos várias viaturas paradas e muita gente, estavam em apuros e pediam-nos para os tirar da lama. Acedemos de imediato e quase de imediato ficámos lá também. O jipe assentou no solo e não havia hipóteses de o tirar. Foi necessária uma pá, para tirar o jipe do atoleiro, o Rodrigo já tinha chegado. Partimos desta vez com a viatura que socorremos a servir-nos de guia. A zona parecia bonita, mas era de noite e os olhos tinham que estar na pista a 100% ou podia ser perigoso. Os animais utilizam a pista para dormir, quando encontramos uma manada de vacas é complicado tirá-las do caminho e o pior é que depois perdemos a pista.
São quase três da manhã quando chegamos a Selibaby, Temos direito a um jantar quente e um banho.
4ª Feira, 5 de Setembro. O meu telefone toca às 8h, era a Guida a contar-me que tinha recebido uma carta do tribunal, para ir lá informar qual a situação do IVA e do IRS, para eles pagarem o trabalho dos Resgais, para o Dr. Cabeleira.
Fui com o Jamaldine e o Houari falar com o Subdirector regional dos transportes, entidade responsável pelos trabalhos, fomos muito bem recebidos em sua casa, levou-nos depois ao “palácio” do Governador de Guidimaka, região da qual Selibaby era a capital. Aqui tive que me descalçar, fomos muito bem recebidos a disponibilidade foi total, a única coisa que não sabíamos até então era que o governador ia ser substituído no dia seguinte… Simpaticamente ele disse-nos que o seu substituto era seu amigo e iria dar as melhores referencias.
Chegou o Baltazar, veio de Kaédi, pelo caminho normal, a estrada abriu ao meio dia.
5ª Feira, 6 de Setembro. Finalmente íamos começar a poligonal. Reconhecemos os marcos existentes, colocámos novos e depois de almoço iniciámos as leituras. À 2ª estação abateu-se sobre Selibaby uma tempestade de areia, a minha primeira, seguida de muita chuva. Tivemos que parar, não somos nós que mandamos…
Fomos ao estaleiro, recebemos um pedido de ajuda, uma “pick-up” tinha ficado no rio, fomos tentar puxá-la. Não deu, só um camião podia fazer tal tarefa.
Ligou o João, estava na Topcon a configurar o GPS e havia dúvidas. Esclarecidas estas, podiam configurar finalmente o GPS, com os parâmetros que enviáramos dias antes.
6ª Feira, 7 de Setembro. Fizemos então a poligonal. Leituras de campo e cálculo no computador.
Sábado, 8 de Setembro. Comecei a marcar o eixo da variante de Selibaby, o Rodrigo começou a colocar marcos para a poligonal da variante. Interrompemos a marcação devido à chuva. Fui ver um pouco do traçado do Selibaby – Gouraye, com o Sy. Chegaram o Kalid e o Luís Filipe, para verificarem no terreno o projecto de drenagem entre Selibaby e Gouraye e para analisarem as obras de arte entre Mbout e Selibaby. Fica combinado no Domingo irmos todos a Gouraye.
Domingo, 9 de Setembro. Grande expedição a Gouraye. Vamos em 4 carros, dois nossos e dois da “Mission de Controle”. Vou na frente da comitiva, engano-me no caminho e o Mamouni – Topografo da “Misssion de Controle” passa para a frente. Passamos por zonas com muita água, o avanço é difícil. No km 15 o Mamouni fica atascado, tentei tirá-lo mas a minha Mitsubishi não consegue, é o Sr. Niang, Chefe da “Mission de Controle” no seu Toyota GX quem o tira. Perto do km 20, sucedem-se as passagens por zonas com muita água, quando deparamos com um autêntico mar de água, entramos nela, são mais de 200 metros com água ao nível do capot. Após muitos sustos chegámos a uma ponte que estava fora de água, pensávamos que já estávamos safos. Depois da ponte a água continuava e continuava. A cada curva seguia-se mais água. De repente a viatura da Topografia da “Mission de Controle”, praticamente desapareceu na água e eu logo atrás… O pessoal começou a sair pelas janelas. A minha carrinha começou a meter água. O Rodrigo abriu a porta e inundou a carrinha. Foi ajudar mais o Hamady. E eu não podia deixar a carrinha ir abaixo porque o escape estava debaixo de água. Não havia saída. Voltámos os três carros para trás. O pessoal que estava na outra carrinha conseguiu, com a ajuda da população de uma aldeia vizinha, retirar a viatura da água. Tentámos então começar a análise das obras de arte a partir dali, debalde. Não havia evidência da localização do eixo. Voltámos à base.
2ª Feira, 10 de Setembro. Fomos ver as obras de arte entre Selibaby e Garfa. Correu tudo bem. À excepção da falta de comida.
3ª Feira, 11 de Setembro. Voltámos a tentar o eixo Selibaby – Gouraye, desta vez com o auxilio do GPS da “Mission de Controle”, Fomos até ao km 28, vimos a zona do Pk 20 onde tínhamos ficado dois dias antes, só malucos… Durante o almoço tive uma discussão filosófico – religiosa com o Houari e o Kalid, o Luís Filipe assistiu a tudo com vontade de rir. A temperatura subiu muito depois do almoço estava a ficar insuportável. O céu começava a ficar ameaçador. De repente o dilúvio abateu-se sobre as nossas cabeças. O Sr. Niang, conhecedor desta zona, voltou imediatamente para trás, ou corríamos o risco de ficar isolados. As estradas de minutos antes desapareceram, dando lugar a rios alterosos, por várias vezes tive que sair do carro para testar a altura da água… quando chegámos a Selibaby, respirámos de alívio. Quando chegámos ao escritório, o Jorge Ferreira, ligou-me, queria um topógrafo em Kaédi. Falei com o Rodrigo. Vai ele. Eu fico em Selibaby.
4ª Feira, 12 de Setembro. Fui com o Kalid e o Luís Filipe até Mbout, mais o Sr. Niang, para vermos as restantes obras de arte. Fiquei atascado num oed, o Kalid puxou-me para trás e voltei a tentar e desta vez passei. No regresso já sabia que ia voltar a ficar pois a margem esquerda é muito íngreme. Coloquei logo os cabos e um camião puxou-me. Cheguei a Selibaby em duas horas. Voltei a ter que sair da carrinha dentro de água, começa a ser um hábito. O Hamady vai com o Rodrigo para Kaédi e o Sy fica comigo. O Rodrigo vai deixar comigo a sua carrinha, vai receber uma nova. Vou ficar sozinho com o Houari. Grande obra. E o Houari vai a casa no Ramadão, que começa amanhã.
5ª Feira, 13 de Setembro. Começou o Ramadão. O Rodrigo ficou no escritório a calcular os elementos para a marcação em Kaédi. Fui com o Sy o Hamady e o nosso jovem ajudante que nunca consigo recordar o nome, iniciar a marcação do eixo para Gouraye. Até ao meio dia marcámos 1km. O pessoal quer um horário diferente durante o Ramadão. Querem trabalhar directo das 8 às 16h. Se calhar também tenho que jejuar… Reparámos que estamos quase sem estacas, liguei ao Filipe para encomendar em Kaédi, pois aqui é impossível. De tarde levei metade das estacas que restam e marquei mais 500 metros. A temperatura subiu muito e começou a formar-se uma parede de nuvens espectacular. E eu esqueci a máquina fotográfica em casa… Afinal não choveu aqui, foi uma tempestade de areia.
6ª Feira, 14 de Setembro de 2007. Gastei as estacas todas e fiquei despachado às 11h, depois de levar o Hey ao hospital, pois o gajo trabalha de chinelos e uma farpa do guilho espetou-se no pé dele. Levei-o ao hospital, pagámos 300 Ouguias de consulta, mais 2700 de medicamentos, que aqui o doente paga todos os medicamentos. E os pontos que levou foram aplicados a sangue frio. Tivemos a mostra do que pode acontecer em caso de acidente neste fim de mundo. Fez-nos pensar na segurança da obra, completamente inexistente. Esperamos que a sorte esteja connosco, pois caso contrário estamos lixados. O Houari já reclamou por escrito, vamos a ver o que vai dar. Este pessoal quase não trabalha, é do Ramadão. O trabalho é uma chatice. Uma pessoa, não pode rezar descansada todo o dia. Não sei se são mesmo crentes ou se apenas dá jeito. O Rodrigo acabou de preparar os elementos, com medições incluídas. Vai amanhã para Kaédi.
Sábado, 15 de Setembro. Logo pela manhã o Rodrigo sai para Kaédi com o Hamady, por volta da uma hora chegam lá, a viagem corre bem. Vou dar uma volta com o Sy. Vamos ver as obras do aeroporto, penso que são os chineses que lá estão. Fomos a casa do Hey, está bem. Bebo um chá que a sua mãe prepara, estava bom. Fomos buscar a minha roupa. Estava pronta pelas 16 h. A lavandaria funciona numa barraca feita com chapas de zinco, o ferro de engomar é a carvão! O Sy janta comigo e com o Houari. Ligou-me a Guida, o Cá Tó faz anos e ela vai lá, leva azeitonas e vinho, e eu aqui a beber chá.
Domingo, 16 de Setembro. Vou a Gouraye com o Sy. Duas horas para cada lado. Gouraye é uma pequena aldeia, cuja importância vem de ficar em frente a Bakel, na outra margem do Senegal. Falamos com a polícia local, que nos deseja uma boa estadia na Mauritânia. Vimos um pequeno macaco pelo caminho, bem como um lagarto.
2ª Feira, 17 de Setembro. Vou à obra com o Sy, procurar marcos. O Houari liga-me a dizer que vai a Kaédi, para a reunião de planeamento, volta 5ª Feira. Agora sim estou mesmo sozinho em casa… Parece que isto tem peste, toda a gente foge daqui. Se pelo menos eu tivesse estacas, sempre fazia alguma coisa, o tempo passava mais depressa. O Rodrigo disse que se hoje não viesse ninguém trazer as estacas, vinha ele traze-las, amanhã. Fui ao mercado com o Sy e o cozinheiro, para comprar uns cabides, tarefa complicada em Selibaby. Depois fui levar o Sy a casa e encontrámos um tipo que nos procurava, trazia comida para nós de Kaédi.
3ª Feira, 18 de Setembro. Vou ao estaleiro, Hassan, o encarregado veio falar comigo. Segundo ele, e acho que com toda a razão, a areia que lhe tinham levado não prestava. Tinha que ir buscar outra melhor. Lembrei-me de lhe perguntar se não haveria estacas em Selibaby. Disse-me que não, mas, havia em Bakel. Ficou de perguntar ao perfeito de Gouraye se podíamos ir buscar as estacas a Bakel, pois é no Senegal. Fui a casa e liguei para o Filipe. Disse-me que tinha enviado as estacas para Mbout, pelo Messias um encarregado brasileiro. Parti para Mbout. Lá estavam 600 estacas, para mim. Mais o meu bastão. O Messias queria que eu lhe arranjasse cerveja. Também eu. O Sy comprou peixe em Mbout, a 200 Ouguias o kg. Barato, e o peixe tinha um aspecto esplêndido. Fiquei com um para o jantar. Comi um peixe de Foum Gleita, grelhado. Soube bem.
4ª Feira, 19 de Setembro. O Haiba já veio trabalhar. Marcámos 1 km de eixo. Depois, ele mais o Sy foram para o estaleiro pintar estacas. O Sy comprou um carneiro, por 5000 Ouguias. Agora quer mandá-lo para a mulher e precisa de um transporte. Estamos sem rede de telemóvel desde 2ª Feira. Está novamente a trovejar, isto aqui repete-se, de manhã está o céu limpo e agradável. Por volta do meio-dia já está um calor difícil de suportar. Começam a formar-se nuvens, pelas 5 horas ameaça chover. Às 6, há trovões por todos os lados. Por vezes chove, outras, vai chover para outro lado. Parece-me que a “Hivernaje” está a acabar. Hoje o Sporting joga com o Manchester e eu ainda não sei se algum canal destes gajos dá o jogo.

5ª Feira, 20 de Setembro. Continuámos a marcar eixo, mais 1 km. Continuo sozinho.
6ª Feira, 21 de Setembro. Continuámos a marcar eixo, mais 1 km. Depois de almoço fui dormir uma sesta. Às tantas aparece-me o Sy, tinham chegado pessoas, fui ver que era. Chegaram o Pedro mais o Sérgio do laboratório. O Jamaldine e o Houari, mais um operador de retro madeirense. Fui com o Pedro ver empréstimos, foi até à noite. Bebi uma cerveja ao jantar. Depois um Whisky. Faz-me bem voltar ao contacto com o mundo.
Sábado, 22 de Setembro. Fui para a obra com o pessoal do laboratório. Eles vieram para fazer sondagens. Foi um dia engraçado. O Sy testou a retro, andava tão contente, que, pegou na carrinha para ir junto de uma árvore colocar fita para assinalar um marco e bateu com a carrinha na árvore e partiu a óptica traseira.
Domingo, 23 de Setembro. Acordei às 3 da manhã, muito mal disposto. Levantei-me e fui beber água. Voltei a acordar às 4, ainda pior. Fui vomitar. Coisa muito esquisita. O pessoal do laboratório voltou ao campo para as sondagens e eu sai com o Hassan, para ir a Bakel, fazer o negócio das estacas. Quando chegámos ao km 8, encontrámos o jipe do laboratório atascado, conseguiram ficar na única poça de água em quilómetros. Tive os puxar com a minha carrinha. Segui para Gouraye. Chegámos e fomos falar com a polícia, para saber se podia comprar cerveja. Autorizaram. Partimos para Bakel. Começámos a procurar carpinteiros. Na terceira casa começámos a negociar, estávamos a ir a algum lado. O carpinteiro perguntou-me se era francês, quando respondi que era português. Começou a chorar e chamou-me irmão. Disse-me que era guineense. Foi uma situação emotiva. Chegámos a acordo. Era de Bafatá. Os portugueses foram muito bons para a Guiné. Sabe bem ouvir dizer bem de nós. Fui com o Hassan a casa do seu irmão, trocou-me euros por francos. Comprei cerveja. Passámos para a Mauritânia. Cheguei a Selibaby e fui comer bacalhau. O dia foi produtivo. As estacas ficam mais baratas que em Kaédi.

Tem os que passam

Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...