sábado, 20 de julho de 2013

RX


Já fui e voltei. Aconteci. Esquentei. Absorvi.
De volta ao fresco africano, após uns dias a queimar em Portugal. Tive a felicidade, na breve permanência caseira, de poder assistir à estreia do documentário “RX” do João Luz. Despretensioso. Despojado. Mesmo sem objectivos estéticos, como o realizador assinalou, assinala um problema cada vez mais premente: Riachos tem futuro?
O presente é muito cinzento, em todo o entorno de Riachos e também no seu interior, companhias que nos habituámos a conhecer, fecham todos os dias arrastando famílias para situações que não estariam nas previsões ainda recentemente, nos tempos áureos do “Centro do Progresso”.
Se o motivo do João foi uma reação à notícia da publicação pela CM Torres Novas da lista das obras do Rodrigues, mostrando o que não foi feito em Riachos, a resultante pode ser maior que o esperado. Se é verdade que o João é candidato à Assembleia de Freguesia pelo BE e com a honrosa excepção do José Luís Jacinto (PSD) e António Mário (PCP) os restantes mostraram falta de “fair play”, para dizer o mínimo, também manda a verdade dizer que lançou uma questão que não pode ser escamoteada, Qual o futuro de Riachos? Ao que eu acrescentaria, Será que Riachos tem futuro?
Vejamos apenas factos. A Escola Chora Barroso, quando abriu, há cerca de duas décadas tinha meio milhar de alunos, hoje terá pouco mais de duas centenas e um futuro muito nublado a prazo. Ruas há em Riachos com menos de uma dezena de habitantes, em que o mais novo terá sete dezenas de primaveras. Se é verdade que os riachenses sempre procuraram sustento fora de portas, isso significava há algumas décadas, Torres Novas, Entroncamento, Alcanena, Lisboa, embora muitos conterrâneos tivessem encontrado porto seguro em Paris, Amesterdão, Londres, Luanda, Lourenço Marques, Macau. O que os novos navegadores têm à sua espera são os destinos longínquos, os tradicionais que permitiam a vida caseira, já não têm essa capacidade. O problema de Riachos então é similar, talvez mais pronunciado, às localidades vizinhas, apanhadas num remoinho voraz que tudo suga. Se sempre partimos, porque é isso agora um problema? Talvez porque ontem muitos saiam e muitos ficavam. Hoje muitos saem e alguns ficam. Amanhã talvez muitos saiam e poucos e velhos fiquem. Esse filme que parecia longínquo, já o vimos em milhares de terras desse interior, completamente abandonado. Temos um país tão pequeno e deixamos metade ao abandono…
Voltando ao “RX”, valeu pelo alerta, pelas entrevistas, pelo empenho. Houve alguém que entendeu que a sua terra merecia uma reflexão, isso nos dias de hoje já é alguma coisa. Não sou do BE, não vou votar nas eleições autárquicas, pois estou em Angola, mas tenho de reconhecer ao João a pedrada no charco. A vontade de provocar a discussão, que tão arredia tem andado dos nossos hábitos, hoje por hoje mais voltados para nós próprios, mais parecemos náufragos no meio do oceano, desejosos de ser ouvidos mas incapazes de ouvir.

Tenho para mim que se é importante embelezar a terra para aumentar a autoestima. Se as festas são tantas vezes aproveitadas pelos “navegadores” para matar saudades e ver caras conhecidas. Riachos só terá futuro se conseguir prover os seus. Como alguém já disse há muito tempo, “it’s the economy stupid”. Ou ter a sorte de algum dos seus vizinhos conseguir esse desiderato…

Tem os que passam

Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...