sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Visita ao Outro Lado

O novo colega chegara à pouco. Ainda não se ambientara. O Mais Velho ligou-me. Se podiam vir passar o fim-de-semana. Claro. Já está tudo preparado para vos receber. Vieram. O jantar fumegante, apetitoso, chamava todos. Contaram-se histórias. Quase todas engraçadas. Como acontece nestas ocasiões, o álcool baixa fácil. Ficamos todos mais ouvintes. As palavras saiem fáceis. O encontro de amigos é sempre um ponto alto. No dia seguinte fomos ao Outro Lado. O Mais Velho não trazia passaporte. “Não é necessário” disse-lhe. Lá foi mas duvidando do que lhe dissera. Pois se aquela era uma das fronteiras “difíceis”. Quando o apresentei como o Mais Velho, meu grande amigo, teve tratamento VIP. Ninguém pediu documentos. Já no Outro Lado igual modo de receber amigos. Dirigimo-nos ao “Maria Joana” sempre em animada discussão. Quando o novo colega e o Mais Velho receberam as suas louras, pondo termo a uma secura já de idade razoável, beberam o primeiro golo e fizeram o primeiro “AHHHHHH”, percebemos todos, que valera a pena. Mais bazucas se seguiram. A conversa seguia animada. Surgiu então o “Homem Esqueleto”. Sempre que fui ao “Maria Joana” vi lá o dito. Sempre me pareceu que fazia parte da mobília. Por várias vezes o vi ler as pedras a clientes da casa. Desta vez estava longe de idealizar os bons momentos, que nos iria proporcionar. Começou a ler as pedras ao Mais Velho. Ninguém estava a contar com o que veio depois. O Mais Velho pediu as pedras ao Homem Esqueleto e lançou-as. E depois começou a falar, como se toda a vida tivesse feito isso. O Homem Esqueleto, mexeu-se no banco. Primeiro inquieto. Depois começou a sorrir. Um após outro. Todos os clientes se chegaram. Todos queriam ver o Toubab que sabia ler as pedras. Que leu as pedras ao Intocável Homem Esqueleto. E que este com um sorriso mais amarelo que normalmente, confirmou tudo o que o Toubab dissera. A Magrinha, empregada da casa, foi a primeira. A cada revelação do Mais Velho, seguia-se um “AH” de aprovação. A determinada altura, o Mais Velho parou e disse “A partir daqui só a pagar” e mais não revelou à prestável Magrinha. Todos os clientes da casa rodeavam já a nossa mesa e todos queriam saber o que a vida lhes reservava. Um deles em particular, o Sr. Ilustre, pessoa desconhecida por nós, forasteiro concerteza, pediu para o Mais Velho lhe revelar o que se iria passar essa tarde. O Mais Velho olhou-o de alto a baixo e de baixo a cima. Lançou as pedras e dirigiu-se àquele forasteiro bem vestido, “Esta tarde vai ser a mais importante da tua vida nos anos vindouros”. O forasteiro retrucou “Que mais me dizes?” Nova mirada às pedras e lá veio “Vais fazer um negócio de muito valor” “E como vai correr?” “A partir de agora só a pagar” toda a gente ficou intrigada, quem seria o Mais Velho? Como era possível um Toubab saber ler as pedras que apenas o Homem Esqueleto sabia interpretar? As loiras desciam velozmente. Ainda hoje mais de um ano após esta visita a Magrinha me pergunta pelo meu amigo. Que nunca ali entrou um Tuga tão simpático. “E sabia ler as pedras!”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Tem os que passam

Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...