domingo, 23 de fevereiro de 2014

Partiste sem avisar

Partiste sem avisar,
Ainda recordo o teu olhar
Prenhe de felicidade,
Com a recém-adquirida maioridade.

A recente ida para a grande cidade preencheu a tua vida,
Disseste que nunca voltarias
Apenas não sabias
Que o reencontro serviria de irrevogável partida.

A dor que ficou,
As lágrimas vertidas,
As vidas sofridas,
São aquilo que restou.

Tantas questões por responder
Quantas cores para ver
Tantos livros por ler
Quantas viagens para fazer.

Às cores presentes na música, respondias
Com a textura dos sentimentos, mal sabias
Que silêncios eternos viriam, reclamar
Subitamente o teu lugar.

A minh’alma sofrida, com a beleza
Deste mundo se espanta, com tanta certeza
Assumida, tantas palavras de conforto proclamadas
Com aspereza escutadas.

Partiste sem avisar,
Querias voar,
Deixaste a tristeza a pairar,
Sobre o nosso lar.
A tua voz vejo, sem cessar
Qual passarinho a chilrear,
As tuas cores, escuto sem parar

Qual eco do mar.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Como posso explicar

Como posso explicar a dor causada por um ferro em brasa? Que palavras utilizar para exprimir o que sentimos, quando somos atingidos por um raio num dia de sol, quando nem uma nuvem cruza o horizonte?
Como posso explicar o que me vai na alma, quando 300000 portugueses saem da “zona de conforto” e partem em busca de sustento no exterior e ilustres governantes se congratulam pela descida do desemprego? Quando outros 300000 deixam de “procurar activamente” emprego e deixam de contar para a estatística?
Como posso explicar se não tenho palavras. Como pôr sons no papel? Como explicar as cores sem tintas? Como explicar os cheiros sem perfumes?
Como posso explicar um sorriso, numa alma dilacerada? Como me posso sentir único e, agora, saber que tantos atravessaram o mesmo deserto escuro, o mesmo dilúvio grosseiro, o mesmo abismo sanguinário?
Como posso explicar que a dor de um ferro em brasa é nada. Que um raio nem necessita de sol para nos atingir.
Como posso explicar que os portugueses podem escolher partir ou ficar, manter tudo igual ou mudar. Que podem procurar activamente a verdade ou esperar pelas “verdades” das agências de comunicação.
Como posso explicar que um olhar vale mais que mil palavras. Que os sons são colocados no papel. Que as cores estão todas no arco-íris. Que as flores valem mil perfumes.
Como posso explicar que um sorriso é um bálsamo para uma alma sofrida. Só me posso sentir único no meio da multidão, de outro modo estarei apenas só.
Só posso explicar, compreendendo. Só posso compreender, conhecendo. Só posso conhecer, aceitando. Só posso aceitar, explicando.
Só posso amar, amando. Só posso caminhar, caminhando.

A lua ameniza a escuridão da noite, lançando abraços de prata.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Pico

"A nossa maior glória não reside no facto de nunca cairmos, mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda."
Confúcio

Quando caímos num abismo da altura do mundo, primeiro pensamos que tudo acabou,
[Negro]
Quando percebemos que a terra continua a girar, por maior que seja a queda,
[Cinza]
Por maior que seja a nossa perca, é apenas um grão no infinito.
[Prata]
Um rasgão na pele, sabemos que cicatrizou,
[Amarelo]
Fica a marca, como uma linha na paisagem, qual vereda
[Laranja]
Qual caminho para o pôr-do-sol mais bonito.
[Vermelho]
Prometendo amanhãs de esperança, como os dias após um fogo que tudo queimou
[Rosa]
Visitados por chuvas mães de riachos, cheios de vida, qual tela
[Verde]
Observada a partir do mais alto Pico.

[Branco]

Tem os que passam

Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...