sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Portagens

Países sem sistema de portagem

Na actualidade são poucos os países completamente isentos de portagens. Exemplo de países totalmente livres de portagens são a Finlândia, Alemanha, Suécia, Bélgica e Holanda (embora possam ter pontualmente uma ou duas portagens, por exemplo em pontes ou túneis). Existem também países com uma quantidade muito baixa de portagens, por exemplo o Reino Unido e o Canadá, seguidos da Dinamarca,Austrália, Noruega, Turquia.

De um modo geral a ausência de portagens é compensada com maior carga fiscal de impostos.

Os países do sul e leste da Europa, a par do Chile e do Japão são dos países com maior número de portagens por número total de vias principais.

Segundo alguns críticos, as portagens são sistemas muito ineficientes porque:

§ Obrigam ao abrandamento de marcha e paragem de veículos, as portagens manuais representam um desperdício de tempo e aumentam o custo operacional dos veículos

§ As despesas com funcionários, máquinas etc absorvem até um terço das compensações financeiras pagas pelos utentes, enquanto que o furto dessas compensações é relativamente fácil.

§ Existindo vias alternativas sem portagem estas poderão tornar-se mais congestionadas, aumentando a despesa pública na reparação dessas vias e a diminuindo a eficiência de circulação.

Além destas críticas, existem críticas de fundo ao uso excessivo de portagens, como a o direito à liberdade de circulação (não havendo alternativas não há essa liberdade) e a penalização das indústrias transportadoras de mercadorias e de passageiros, que representam um sector importante para a economia.

In Wikipedia

Como vemos acima existem poucos países completamente isentos de portagens, e são todos países atrasados, maus exemplos portanto. Finlândia, Alemanha, Suécia, Bélgica e Holanda.

Podemos ver também um argumento contra as ditas, as vias alternativas tornam-se vias mais congestionadas, aumentando a despesa pública na reparação dessas vias e diminuindo a eficiência de circulação.

Claro que isto para os nossos “grandes líderes” não conta nada. De qualquer modo já passaram a batata quente das vias “alternativas” para as câmaras...

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Mitos e Realidades

O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo
.

Fernando Pessoa in Ulisses

Mito - narrativa fantástica que pretende explicar a origem e causa das coisas

Realidades – Há atualmente correntes que defendem a teoria da existência de universos paralelos, onde existem realidades ligeiramente diferentes, mas diferentes o suficiente para alterar a história.

Mito – O governo deste retângulo apregoa o princípio do utilizador - pagador, como panaceia para todos os males que enfermam as contas públicas.

Realidade - Como princípio até estou de acordo. O diabo dos princípios é a aplicação prática, a casos concretos.

Mito - As famigeradas Scut’s devem ser pagas por quem as utiliza. Porque deve um cidadão deste país, que até não tem automóvel, pagar com os seus impostos uma infra-estrutura que não utliliza?

Dito assim até não parece estranho, ou será que falta aqui algum prato nesta balança?

Realidade 1 – Com a introdução de portagens os utilizadores destas estradas pagarão o custo das mesmas. Logo o “tal” cidadão desautomobilizado não pagará algo que não utilizará. Certo? Errado. O valor das portagens não só não paga a despesa das estradas como aumentou o custo das mesmas. Confuso?

Realidade 2 – As Scut’s têm perfil de Autoestrada. Certo? Errado. As Scut’s Têm de fato duas faixas para cada lado, mas a velocidade base utilizada para o cálculo dos projetos é inferior ao das Autoestradas “De Fato” da Brisa.

Realidade 3 – As Scut’s têm alternativas. Certo? Errado. As Scut’s foram construídas para ser “Sem Custos” logo não houve o cuidado de preservar as estradas pré-existentes, em grande parte do traçado foram construídas “Por Cima” das anteriores. E porque não houve protestos aquando da construção de estradas sobre estradas? Mesmo os ecologistas acharam correto tal desiderato, pois deste modo o impacto foi bastante minorado e daí não adviria mal aos cidadãos.

Realidade 4 – Pelo menos o dinheiro das portagens servirá para amortizar o montante de impostos a pagar por todos nós. Certo? Errado. O volume de tráfego nestas estradas, nomeadamente na A23, nunca gerará receitas para pagar o valor dos investimentos.

Realidade 5 – Alguém ganhou algo com toda esta história. Certo? Certo. Os fabricantes dos pórticos. Dos dispositivos eletrónicos de matrícula. Os concessionários das Scut’s.

Os concessionários das Scut’s?

Sim. Porque antes da introdução de portagens recebiam um determinado valor por cada viatura utilizadora. Com a crise instalada seria previsível uma diminuição do tráfego. Logo o risco para os concessionários estava a chegar ao vermelho. Com esta solução “milagrosa” o risco passou TODO para o estado. Onde é que já vi isto?

Mas os governantes são TODOS atrasados mentais. Certo? Errado, mais uma vez. Nem todos. Alguns, ANTES de serem do governo trabalhavam e alguns desses até estavam fora da esfera pública. DEPOIS de saírem do governo TODOS eles são considerados excelentes gestores, tendo por isso à sua espera lugares que nem nos melhores sonhos tinham cabimento.

Realidade 5 – Se os autarcas das zonas de influência das Ex-Scut’s são todos contra a introdução de portagens porque não apresentaram a demissão em bloco? Deste modo estariam ao lado dos munícipes. Certo? Certo. Mas largar um tacho é algo por definição impossível. Caso estivessem na política para defender princípios, regiões, populações, aí teríamos visto uma demissão em bloco.

Realidade Portuguesa – Para que diabo serviu então a introdução de portagens nas famigeradas Scut?

Simplesmente como taxa moderadora. Tal como na saúde as taxas moderadoras irão acrescentar cerca de 100 milhões de euros aos depauperados cofres do estado, quando o orçamento da saúde é de mais de 3.000 milhões e sempre acima dos 100 milhões de derrapagem, servirão para afastar o mais possível os ricos (leia-se detentores de rendimentos superiores a 600 euros mensais) dos serviços de saúde. Nas Scut’s a pagar, o único efeito será o de taxa moderadora. Esse efeito é bem visível, infelizmente, no volume de tráfego que circula diariamente nas mesmas. Digo infelizmente pois assim sobra muito mais para eu pagar com os meus impostos e deste modo o princípio do utilizador – pagador tão caro aos nossos nóveis liberais governantes, não sai do papel...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Pesadelo

Acordei sobressaltado. Inquieto. Olhei o relógio. Duas e meia. Intrigado com os pensamentos que mesmo depois de acordado pareciam lapas. Não era possível. Ninguém desce tão baixo. Pus-me a matutar no que me impedia o repouso.

“O Eng. Coiso esperava inquieto que o futuro Primeiro o recebesse. Andava para trás e para a frente a proferir palavras irreproduzíveis. Impaciente. Finalmente foi chamado. Não perdeu tempo com os preliminares. Direto. Preciso. Conciso. Isto não dá. Vocês meteram-nos nesta alhada. Temos que rever isto. Do que está a falar? Questionou o futuro Primeiro. As porcarias das Scut’s estão-nos a lixar a vida, vociferou. Calma. Calma. Respondeu em tom apaziguador. Explique lá tudo. Que as rendas não cobrem os encargos. Que os tugas são uns tesos e não andam de carro. Que agora até querem acabar com os camiões nas estradas e fazer linhas de comboio para levar as mercadorias para a Europa, onde é que já se viu. Tem alguma ideia concreta? Retorquiu o futuro. Temos que arranjar um modo de rever os contratos. Não podemos correr tantos riscos. Os bancos só emprestam dinheiro às empresas públicas. O que tem em mente? E se explicássemos que os Portugueses são todos iguais. Uns não podem utilizar as auto-estradas sem pagar e os que nada têm, nem sequer um carrito, é que as pagam com os seus impostos. O célebre princípio do utilizador - pagador. Eu sempre fui a favor desse princípio. Desde pequenino. É da mais elementar justiça. Os pobres é que saem sempre prejudicados. Este governo é que cria injustiças. O que é verdadeiramente justo é cada um pagar os serviços que utiliza. Calma, calma. Esta conversa nunca existiu. Até porque eu sou do partido do governo e parecia mal, saber-se lá fora. Claro. É evidente.”

Pensei, Chiça nem a dormir me largam. É claro que isto só pode ser um pesadelo.

“O Eng. Coiso passou um cheque para ajudar na campanha eleitoral, que se avizinhava. Os jornais do dia seguinte titulavam – PORTAGENS NAS SCUT – mais abaixo lia-se, menos estado na sociedade e ainda princípio utilizador – pagador continuava com equidade fiscal...”

Pensei para comigo, apenas e só – estas coisas só acontecem nos países corruptos de África, ainda bem que estamos na Europa!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O clic do interruptor

Criadores de lagos, incansáveis lançadores de concreto, hora após hora, dias sem fim.

Modeladores de horizontes, humanizam duros rochedos.

Paredões sustêm quilómetros de água.

Quantos cálculos, tantas discussões…

A vontade do bicho homem tudo verga, molda, constrói.

Quando o homem quer, faz acontecer.

Se uma vontade é coletiva, nada se lhe pode opor.

Mas quando a divisão impera, a indecisão lidera, o comodismo reina, o fracasso é inevitável.

A prosperidade traz a ilusão,

os amanhãs que cantam.

A vontade amolece.

Vai-se a tesão.

Nada acontece.

As mãos nada plantam.

O espírito enfraquece.

Tudo foi em vão.

Nada apetece.

Estamos naquelas alturas da existência, em que das duas uma, ou se esboroa o maior império, ou acontece uma reviravolta épica. A diferença entre a escuridão e a luz, é o clic do interruptor…

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O Último Segredo

Quando alguém abandona a sua zona de conforto e afronta, qual David, o gigante Golias, que responde por Cristianismo. Quando um autor de sucesso “esquece” o politicamente correto. Quando uma figura pública diz o que pensa, independentemente das ondas de choque que tal provoque. É caso para tirar o chapéu.

Eu tiro o meu chapéu ao José Rodrigues dos Santos.

Com o seu recente romance expõe a fragilidade da “construção” em que toda a Europa baseou a sua civilização do derradeiro par de milénios.

Independentemente da narrativa ser uma mera “imaginação diabólica” ou algo mais sério, expõe cruamente fragilidades, falsificações, contradições, impossibilidades. Não se esconde atrás de nada, é duro como apenas a razão permite.

Uma instituição que abrange mil milhões de crentes, para se expor deste modo, para permitir tais certezas, tem que basear as suas fundações em pés-de-barro. Não é possível contra-argumentar perante tais acusações, apenas com a (má) fé.

Não sei se para o bem se para o mal, creio que este continente está definitivamente a perder protagonismo, a nível populacional já representa apenas cerca de 10% das almas. A economia está de rastos, de mão estendida a pedir aos chineses ajuda, para evitar o inevitável. A religião que comandou durante séculos (quase) tudo aqui e além, esboroa-se qual castelo de cartas. O sistema económico que vingou após tantas guerras, entrou em autofagia. O sistema político que nos derradeiros vinte anos surgiu como o baluarte dos justos, dá sinais de esgotamento inexorável.

A vida é feita de ciclos. Tudo o que sobe tem forçosamente que descer. Infelizmente no momento em que, pela primeira vez na história, tantos tiveram acesso a tanto, estamos no cimo de uma cascata, sem hipóteses de voltar a trás, donde só podemos, não descer suavemente, senão cair abrutamente!

sábado, 1 de outubro de 2011

Um Soluço

A aposta foi ganha quando um dos residentes num dos três lares da Santa Casa da Misericórdia da Golegã se levantou e em voz trémula e decidida disse “Só Vos desejo que um dia. Quando forem da nossa idade, tenham alguém, a fazer por vocês o que estão a fazer por nós.”

Dia primeiro de Outubro, Dia Internacional da Música, um bando de miúdos, armado ao pingarelho, quais saltimbancos de outras eras, irrompe pelo lar adentro com uma energia, uma amizade e uma genuína vontade de proporcionar àqueles, que no ocaso da vida ainda soltaram uma lágrima marota, sensações julgadas perdidas.

“Ora estamos aqui no jardim infantil, não é?!” Resposta clara e audível, “Não!”, por momentos rostos voltaram a iluminar-se, voltaram a sentir-se importantes.

Quando uma dezena de miúdos decide que a melhor forma de passar uma tarde esplendorosa de sábado, é a mimar, com música, malabarismos, palhaçadas e palavras doces, uma plateia constituída por seniores, alguns já com autonomia bastante restrita, desconhecidos. E isto numa época em que tantos denominaram os jovens de geração “rasca”...

São os jovens quem desmente tal acusação. Provando que se as abelhas picam, também produzem mel. Talvez sejamos nós que não sabemos colher esse néctar...

No final, ainda ouvi os miúdos comentar “Assim vale a pena” ou “podem contar comigo”.

Por um dia não ouvi falar de mercados, ratings, dívidas, recessões.

A solidariedade ainda vai ter um papel importante, como já teve.

Este tempo é um soluço. Cabe-nos parar com os soluços.

Quando era miúdo dizia-se “ soluço vai, soluço vem, m**** p’ra quem o tem...

domingo, 11 de setembro de 2011

Não tem que ser assim...

Hoje dia 11 de Setembro de 2012, impõe-se um balanço do que se passou neste último ano.
Cerca de metade da população portuguesa sobrevive graças à sopa dos pobres, a igreja católica tem tido ação destacada nesta espinhosa missão. Já se verificaram três aparições de Nossa Senhora, num ano marcado pelas dificuldades extremas e em que só uma forte fé separa os cinco milhões de pobres portugueses do abismo do desespero. Os anúncios de novos impostos sucedem-se. A economia está em queda vertiginosa. A contração do PIB atingiu uns inacreditáveis 10%, atirando o malfadado défice para cerca de 9%. A cada anúncio de aumento de impostos segue-se o encerramento de milhares de empresas. Os cinco milhões de “remediados”, os que ainda não engrossam as filas da caridade, já só compram em lojas chinesas, o magro pecúlio não permite mais...
A chanceler Merkel, defensora acérrima dos eurobonds, voltou a tentar persuadir os parceiros europeus a aceitarem os títulos de dívida europeia, mas os governantes europeus continuam a lançar pacotes de austeridade, já se chegou ao cúmulo de dois terem sido lançados no mesmo dia, para ver se os mercados reagiam...
A pressão sobre Passos Coelho para que este dê inicio aos trabalhos do TGV intensifica-se, pois a fábrica alemã que iria fornecer os comboios e os equipamentos para a linha, está sem encomendas e começou a despedir funcionários.
A economia alemã, de tanto sucesso na última década baseia-se na exportação essencialmente para a Europa. Com todo o continente a pão e água, a comprar apenas aos chineses, as encomendas de carros caíram para os níveis mais baixos de que há memória...

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Curiosos tempos

Curiosos tempos. As más notícias pioram a cada dia. O que era mau ontem, já não é assim tão mau hoje. Amanhã haverá notícias piores.

Nestas terras atrás-dos-montes são horas de festa. Os emigrantes estão de regresso para mais um mês de nostalgia. As festas sucedem-se. As temperaturas são tropicais. A cerveja corre em torrentes por gargantas ressequidas. Atordoando cérebros de esperança perdida. Dança-se num rodopio, de pés, de sonhos. Nada é o que parece. Tempos de vacas magras, é que dizem os entendidos, nos seus comentários pagos principescamente, em televisões falidas, num país falido, num continente à deriva, qual jangada de pedra. O Saramago enganou-se, não é a península ibérica que está à deriva, é todo o continente.

É curioso ver como os liberais estão prestes a saborear a mais amargadas vitórias. No poder em quase toda a Europa. Falida. A cortar em toda a linha. A escarnecer na história da Europa dos últimos 65 anos. Vitória atrás de vitória até à derrota final…

Curiosos tempos. De mudança. Dolorosos. Difíceis.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Até sempre

Dois anos atravessaram o tempo como um rolo compressor, levando tudo à sua frente.

Há dois anos o despertar foi penoso, como nunca o deveria ser. Como nada o fazia prever.

Há dois anos levei um soco tão violento, que ainda hoje custa a aceitar. O modo como via aquelas paisagens acabou há dois anos. A inocência, como nos deslocávamos, nada nos podia tocar, acabou de forma abrupta.

Há dois anos subitamente desejei sair da Mauritânia, o que fiz logo que foi possível. Só não lamento lá ter estado, porque herdei memórias incríveis dos (poucos) momentos que passámos juntos. Essas memórias são minhas. De mais ninguém!

Dei hoje rebuçados a uns miúdos que encontrei!

Até sempre,

Amigo.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Contradições

Novamente “apanhado” pelo calor, um misto de contradições apanhou-me de chofre, sem dar qualquer possibilidade de responder, por impreparado. Assoberbado por um volume de trabalho crescente, as (poucas) horas livres têm sido utilizadas para repor baterias, não tenho dedicado tempo algum à organização escrita das vontades que sempre vão surgindo.

É com surpresa que apreendo que a última entrada neste espaço dista quase dois meses. Vale que tenho aproveitado cada final de semana para apreciar a possibilidade de estar junto de quem me quer bem. Os trabalhos seguem em ritmo crescente, a obra começa a tomar forma. Tudo correria pelo melhor não fora a catadupa de notícias anunciando o final de uma era. Uma era de ilusão. Uma temporada em que quisemos acreditar que éramos europeus, tal qual os outros. Em que por breves instantes o nosso país serviu de porto a uns milhares desafortunados. A realidade pode nem sempre ser palpável, mas quando quer pode ser brutal.

Voltámos a partir, às centenas, aos milhares. De encontro ao nosso destino, de descobridores de oportunidades, de terras, de sonhos.

É esse misto de contradições que me oprime o peito, como estar feliz, pelo regresso, quando tantos têm que partir, quando tantos têm cada vez menos. Quando os sonhos se esgotam. Quando temos umas eleições à porta e vemos as perspetivas cinzentas do que serão os nossos governantes. Onde estão os heróis quando tanta falta fazem?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Primavera

Contra todas as expectativas, neste ano da graça de 2011 a Primavera voltou. A vida renasce após cada ciclo. É feita de altos e baixos. A cada noite sucede sempre um dia. Na história do nosso planeta, sempre houve ciclos. A história do nosso País está repleta de exemplos que corroboram o descrito. Só falta saber se já batemos no fundo. No pior dos cenários ainda não atingimos o final da descida. Em qualquer dos casos a subida está à espreita e vai chegar. Basta ter a oportunidade de não desesperar.

O papel dos governos deveria ser o de regular, promover nos períodos de necessidade, corrigir as contas nos tempos de “vacas gordas”, infelizmente, nem para isso servem…

segunda-feira, 21 de março de 2011

Banksters

 

Como otimista tenho alguma dificuldade em identificar-me com o espírito de velho do Restelo vigente desde há séculos no retângulo. Somos excelentes no escárnio e maldizer. Somos ainda melhores a condenar tudo o que se faz, não importa o quê. Não conseguimos aprender com os erros, não temos atitude proativa. Vamos sempre a reboque. Desde a entrada para a UE, passámos de 100 km de auto-estrada para 4000km, não se passa nada. Temos das auto-estradas menos circuladas do mundo, não se passa nada. Não conseguimos recuperar na totalidade a linha do norte, não se passa nada. Desde há décadas que o caminho-de-ferro só é notícia devido ao encerramento de mais um ramal. Cai o Carmo e a Trindade e toda a gente fica chocada quando se tenta iniciar a construção de uma linha moderna em bitola europeia, que pode ser o investimento mais importante e estruturante feito por cá desde a Auto-Europa. A Europa tem uma rede fantástica de caminhos-de-ferro e nós orgulhosamente sós, não aderimos à bitola europeia, que poderia acabar com o anacronismo de fazermos as nossas trocas quase apenas por camião. Os nossos portos não são explorados no seu potencial porque não estão ligados à Europa por caminho-de-ferro. Toda a gente embarca nas notícias interesseiras transmitidas cá pelo burgo, com apoio dos beneficiários desta triste situação.

A pujança de uma língua vem não de ser estática, mas de responder aos novos desafios. Um língua viva não vive de saudosismos, mas da necessidade e interesse que as pessoas tenham nela. Não podemos pensar que a Língua Portuguesa é só nossa, porque a ser assim a breve trecho nem nós a queremos falar. Uma língua falada por variados povos, deve receber influências de todos os que a falam. Deve contribuir para o desenvolvimento de um sentimento de pertença comum. Tem que ser capaz de se antecipar aos acontecimentos e em caso de necessidade criar novos termos para definir novas ocorrências. Cito como exemplo de língua viva o Inglês que em tempos criou o termos “gangsters” para definir os membros de um grupo violento e fora da lei, agora criou um novo que define bem estes tempos conturbados, “banksters”, creio que define bem o sentimento geral de quem sente na pele as consequências de se ter deixado um grupo tomar conta dos destinos do planeta, grupo esse que é amoral, interesseiro, incapaz de ver para além dos balanços e dos lucros momentâneos. Quando esse grupo tomou conta dos governos de todo o mundo ocidental e formatou as consciências de todo um povo que numa geração, esqueceu a história que lhes permitiu chegar aqui. Quando uma sociedade se afunda, toda a gente vê, ninguém faz nada. Parecemos a orquestra do Titanic, a tocar até ao navio submergir. Quando tanta gente se mostra contra o acordo ortográfico, apenas porque incorporamos novas grafias e deixamos de ser os “donos” da Língua Portuguesa, eu respondo, fiquem com a velha, já agora, à braseira com uma manta sobre os joelhos, a recordar os “bons tempos” nos idos de 50 e 60, quando um célebre beirão ciciava os caminhos da moral e dos bons costumes. Eu por mim apenas digo, já há muito que fazia falta esta pedrada no charco. Eu voto pela língua do mundo, todos iguais e todos diferentes. Ainda me vou rir quando alguns dos “velhos” se afirmarem donos do novo acordo e defenderem que foi a língua que nos tirou do marasmo e nos deu perspetivas de saída para o negrume da tempestade onde entrámos e não conseguimos vislumbrar uma saída…

sexta-feira, 18 de março de 2011

Neve

Contra todas as expetativas antes de decorrido o primeiro mês do ano da graça de 2011, fui agraciado com dois dias de neve. Com efeito sem que nada o fizesse prever transitei da entrada do grande Sahara para o nordeste transmontano. Difícil a primeira impressão. O meu corpo ambientado aos calores africanos estremeceu, a diferença superior a quarenta graus custou a suportar.

Duas semanas depois tudo estava normalizado. Para ajudar muito contribuíram os excelentes restaurantes desta terra. Vinhos aqui são-no com V maiúsculo. Não podemos esquecer que estamos em terras nobres, terras mães dos melhores vinhos portugueses. Aqui desde há séculos que a vinha e o vinho são tratados por gente habituada a trabalho árduo. Foi a primeira região demarcada do mundo.

Depois das temporadas de “lei seca” na Mauritânia e Mali, a estadia atrás-dos-montes não fica a dever nada, antes pelo contrário, aos bons momentos.

Já há algumas semanas que podemos assistir ao espetáculo grandioso das amendoeiras em flor. Só visto.

Terra de rocha dura, de vales cavados, de nevoeiros perenes. Terra de vistas deslumbrantes. Terra da posta mirandesa…

domingo, 9 de janeiro de 2011

Início ou Fim (?)

Ao som dos lendários Emerson, Lake & Palmer, acompanhados pelos muitos grasnidos dos bicos & penas que nos rodeiam. Num escritório ao ar livre, em meio a um jardim frondoso, a uma piscina convidativa, a um bar qual ilha no oceano. Observando patos-mudos comedores de rãs. Com lagartos corredores comedores de insectos, literalmente aos nossos pés. Numa manhã fresca. Impus-me um balanço. Destes (quase) 90 dias, em terras malianas.

Após visualizar todos os dias o imponente aparecimento do Sol, decidi hoje, domingo, registar em imagens a chegada da luz. Às 6h52m, iniciou imparável ascensão rumo ao zénite. Só que entre o Rei e a câmara estacionaram umas nuvens. Sessão semiperdida. Mesmo quando tudo está planeado, nem sempre o desenvolvimento é o desejado.

A claustrofobia começa a fazer-se sentir. Segurança “oblige”.

Hoje é dia de referendo no Sudão, maior país de áfrica. O sul vai votar a independência do norte. Pode estar a caminho a 54ª nação independente do continente. Em caso afirmativo mais fronteiras irão mudar. Todas as fronteiras são artificiais, mas algumas são mais artificiais que outras…

Aqui pude confirmar que o melhor de cada país é o seu povo. O pior infelizmente é quem o governa…

Os trabalhos na estrada começam a fazer-se notar, embora ainda longe do ritmo necessário.

Vi hoje a 200 metros da minha habitação um rasto de serpente com uma boa mão-travessa de largo, segundo o militar que me acompanhava, era ainda recente e duma variedade bastante perigosa…

Consigo identificar muitos dos que rodeiam pela etnia a que pertencem, não consigo falar as muitas (mais que na europa) línguas locais. Mas consigo dizer Maiden aos tuaregues, Am-sokhoma aos bambaras, Jamúaili aos pulares, Salam Alekum aos árabes, Ashtarevic aos hassanians, tantas outras há para aprender… Só não sei ainda se as irei aprender…

O Mali é habitado por um dos povos mais dóceis que alguma vez me foi dado a imaginar. A grande maioria é completamente submissa. Mas somos excelentemente recebidos. Há expressões faciais que não podem ser forjadas…

Assim em jeito de conclusão posso afirmar que a minha liberdade é-me cada vez mais querida. De movimentos, de pensamentos, de decisões.

Há momentos perdidos que nunca mais se recuperam, ontem foi o concerto de reis, do Phydellius, estive ausente fisicamente, estive presente em espírito. De certeza que foi uma grande noite. Há trilhos que só podem levar ao sucesso.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Ano Novo!

2010 Morreu. Viva 2011.

Li algures que às 23h59m do dia 31 os portugueses fizeram votos para 2011 ser o melhor ano das suas vidas, às 00h00m e 30s perceberam que 2011 será o pior ano das suas vidas.

Entrei em 2011 aqui no Mali, com um misto de esperança e desilusão. Esperança por melhores dias, desilusão pelo rumo actual das nossas sociedades.

O tempo, por aqui ajuda ao bem-estar, céu nublado, 23 graus de temperatura, a passarada a chilrear…

Em tempo de incertezas, grandes esperanças deverão sobrepor-se à desilusão, sob pena de entrarmos numa espiral de negativismo que só pode acabar mal.

Claro que a continuarem as actuais politicas, só pode mesmo acabar mal…

Por aqui, é engraçado verificar que se uns 90% da população são muçulmanos, não são intolerantes como noutras paragens. Têm um misto de curiosidade, ingenuidade, subserviência. Sentimo-nos bem acolhidos. Somos respeitados.

Uma calmaria idílica, espessa, abraça-nos. Devido aos excessos cometidos no final do ano passado Morfeu entorpece os sentidos. Uma brisa desperta-nos.

2011 Vai ser um ano de excessos, uma grande capacidade de iniciativa e liderança torna-se urgente.

Estamos numa encruzilhada. Se tal significa que temos vários caminhos à escolha, também exige de nós a capacidade de escolher e não apenas de seguir a onda. Não é tempo de politicamente correcto, é tempo de decisões.

Tem os que passam

Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...