domingo, 30 de dezembro de 2012

2012 - Assim em jeito de balanço


No ano de 2012 pudemos assistir à aproximação da alma lusa à tragédia helénica. Cada vez estamos mais próximos... Isto ainda vai acabar mal!

As ânsias que os nossos (des)governantes têm em parecer os alunos bem governados levam-nos, inclusive a participar em soluções de contabilidade criativa, modo eufemístico de transformar aldrabices em verdades, tal qual os seus homónimos gregos durante a década precedente. Só para dar um exemplo, a despesa com salários na administração pública desceu 14%, tal desiderato seria bom, não fora a despesa com aquisições de bens e serviços ter subido... 14%! Lá está enganam-se os papalvos e fazem-se negociatas. Isto ainda vai acabar mal!

O Sócrates continua a estudar em Paris...

Mais uns 100.000 portugueses saíram de Portugal, o desemprego já vai nuns inacreditáveis 1.400.000, a economia caiu uns 3,5%, mas até já exportamos mais que importamos, por este ponto de vista até podemos baixar mais uns “pozes” nos salários, deste modo adquirimos menos produtos importados e ainda damos lucro! Isto ainda vai acabar mal!

Os bancos voltaram aos lucros, não emprestam às empresas, porque estas têm que trabalhar com meios próprios, mas compram dívida pública a 7%, contando com meios inesgotáveis do BCE a 1%, isto ainda vai acabar mal!

As famosas ppp's vão continuar a “render” cerca de 14% aos bancos financiadores! Isto ainda vai acabar mal!

O José Luís Arnault foi o advogado escolhido pelo estado para aconselhar na privatização da TAP e o advogado da Vinci na privatização da ANA... Isto ainda vai acabar mal!

Os amigos do Presidente deixaram de pagar as dívidas ao BPN, cujo “buraquito” parece ir em cerca de 9.000.000.000 de euros, qualquer coisa como 900 euros por cada português. Isto ainda vai acabar mal!

O secretário de estado da saúde, veio dizer que temos de ter uma vida mais saudável para não inviabilizarmos o SNS. É pena podia ter dito que devíamos comer menos hidratos de carbono e mais vegetais, menos gordura e mais proteína, por uma questão de saúde e que para tanto o seu governo não devia baixar tanto os salários... Isto ainda vai acabar mal!

A segurança social está à beira do abismo, segundo o (des)governo, que tem patrocinado a recepção de fundos de pensões descapitalizados, da PT, da Banca entre outros. Que tem apoiado as reformas antecipadas, que mais não são que despedimentos colectivos disfarçados, sem necessidade de indemnizações por parte das empresas... Isto ainda vai acabar mal!



E pur si muove”, ainda não está tudo perdido, ainda é possível travar esta autêntica descida aos infernos. Como? Através da consciencialização que não podemos dar tantas liberdades e simultaneamente tantas garantias aos bancos, para tudo na vida continuo favorável ao lema “máxima liberdade, máxima responsabilidade”, ou seja um contrato claro com esse sector, querem ter liberdade para tudo? Ok. Não há resgates para ninguém. Não há efeitos dominó, nem nada. Se a coisa correr mal serão julgados. Quanto aos políticos, advogo que o seu estado de saúde é de interesse público. Necessitamos de políticos sãos. Também eles devem ser responsabilizados pelo que fazem, para o bem e para o mal.



Será possível que isto não acabe mal? Creio que sim, mas os interesses são muito fortes as forças são desiguais, quando o desequilíbrio é tão notório, entre o que quer um povo e o que quer um pequeno grupo, isto só pode mesmo acabar mal!


terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Natal


Pela segunda vez africanizo os meus natais. Se há dois anos tal não significou presença em quentes terras por mais que breves semanas, desta vez se quero arrefecer só com ar condicionado ou alguma EKA.

Nesta paragem celebrativa sobra tempo para colocar o relógio biológico em “modus africanus”. Uma forma mais apreciativa das envolvências. As noites aqui (por enquanto) são espectaculares. Agradáveis, quão podem ser após os abrasivos dias. Convidativas de lunares descobertas conversativas. Aqui empancados, tal qual eu, estão equatorianos, peruanos, colombianos, dominicanos, brasileiros e angolanos, cada qual à descoberta das tradições, vocábulos, crises alheias. Cada qual obluviando suas máguas, contabilizando os dias em falta até voar até junto de quem lhes quer bem.

Dias de descoberta de cheiros, provenientes dos vários capims e das árvores só de nome conhecidas, cajueiros, jacas, dendéns...

E as montanhas lá continuam chamativas...

Em Cambambe visitei um forte que lembra o seguinte logo na entrada“ESTE FORTE MANDOV FAZER O S D.JOÃO D LENCASTRO Q E CAPO DESTES RENOS ANO D 1691”, este encavalita-se no promontório mais perto do céu destas bandas, para além que permite avistar o rio cuanza até às cercanias do Dondo, permitindo antecipar qualquer tentativa para surpreender os ocupantes. As pedras utilizadas são as existentes no local, Grés vermelho como o de Silves. Lá dentro uma igreja onde só os tectos e os estuques se foram, continuando altaneiramente a marcar o lugar, que diga-se de pasagem se encontra bem cuidado, limpo das herbáceas que nesta época são omnipresentes. Ainda lá se encontra uma lápide com a seguinte inscrição “AQUI JAZEM OS RESTOS MORTAES DE ANTONIO DE MOURA SOARES E ANDRADE QUE NASCEO EM 12 DE OUTUBRO DE 1786 E FALLECEO EM 2 DE MAIO DE 1846 FOI CAZADO COM D. MATHILDE DA SILVA TEIXEIRA A QUAL EM SIGNAL DE GRATIDÃO E SAUDADE LHE MANDOU ERIGIR ESTA CAMPA PARA ETERNA LEMBRANÇA”.

Por lá ainda está um canhão da época, perdido no chão.

Fora do forte há mais ruinas, que por ora estão cobertas por capinzal com três metros o que não permite cuidada visita, terei que voltar noutra estação.

Segundo li este forte não foi o inicial, pois em 1604 os tugas chegaram a estas paragens tendo construido um forte, não longe deste, no entanto ainda não visitei.

A vila de Cambambe corresponde ao casario construido na época da barragem para alojar os trabalhadores da mesma. As casas com meio século continuam orgulhosas na fantástica paisagem e bastam umas pinceladas, mais umas trocas de janelas para parecerem novas, não se vislumbram rachas, nem defeitos construtivos. Bem haja quem tão bom construtor por estas terras andou, os “patos-bravos” que inundaram Portugal de prédios bem que podiam ter aprendido alguma coisa...


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Por este rio acima


Os rios fazem parte integrante da minha vida.

Se na infância foi o Almonda a despertar a consciência, para as questões ambientais, com a “porcaria” que levava lezíria abaixo, logo depois veio o grande Tejo, mais a Praia dos Tesos. Já espigadote conheci o Zêzere com a imponente barragem do Castelo de Bode, o parque de campismo e agradáveis tardes nas solarengas praias. Seguiu-se o Vouga com a bela Ria e os maravilhosos mercados de peixe da Costa Nova. O mondego, velho bazófias que nos ia comprometendo a obra quando secou, ali prás bandas de Gouveia. Virei depois internacional e nadei no Senegal entre dois países, a Mauritânia e o Senegal, seguiu-se o grande Níger com uma história tão longa que não acaba. Regressei a casa e fui para o Douro, lindo de morrer, terra mãe de vinhos fantásticos e da famosa “Posta”.

Fiz as malas mais uma vez, desta feita para as margens de outro rio fantástico, o Kwanza.

Devo confessar que as paisagens por aqui são de cortar o fôlego e nesta altura do ano, pleno verão, com tudo verde, são incríveis.

O rio Kwanza é sui generis, pois não sendo o maior rio que passa por Angola é o maior rio “exclusivamente” angolano. São 980 km do nascente até à foz. É navegável do mar até ao Dondo, onde me encontro e onde está feita há 50 anos a barragem de Cambambe, que agora estamos a subir, de acordo com o plano inicial, vinte metros no coroamento, de molde a aumentar-mos um “pouquinho” a produção de energia. Até ao ano passado a capacidade desta barragem encontrava-se nos 90 Kva, com a primeira fase das obras já realizadas, passará no final de 2012 a disponibilizar 180 Kva. Em 2015 já fornecerá 960 Kva, nessa data será a maior produtora de energia de Angola.

Quando o plano de aproveitamento do Kwanza estiver implementado, sairão daqui aproximadamente 10.000 Kva, o que proporcionará energia suficiente para todo o país e ainda para exportar para os países vizinhos.

Se no Douro me encontrava numa terra mãe de vinhos, aqui vim dar comigo a habitar uma casa que dista cerca de duas centenas de metros de uma fábrica de cerveja, a fábrica da EKA.

A única coisa que posso dizer é que neste clima a EKA escorrega muito bem, sem espinhas.

Em Cambambe existem ruinas de um forte português construído na época em que o 1º Dezembro ainda não era feriado em Portugal, pois em 1604, reinavam aí os Felipes. Também existem ruinas de uma igreja, ainda do Séc.. XVII. A vila é tudo o que não esperaríamos encontrar. Casas fantásticas com mais de 50 anos e uma arquitetura ainda atual. Uma Pousada com vista para o Kwanza de criar lágrima.

As montanhas que vislumbramos no horizonte, já no Kwanza Sul, prometem passeios fantásticos.

Tem os que passam

Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...