A questão do copo meio cheio ou
meio vazio. Uns passam a vida a queixar-se como se todas as infelicidades do
mundo lhes tocassem exclusivamente. Outros maravilham-se com cada dia, com o
nascer do Sol, com a felicidade de por alguns momentos terem partilhado o caminho
com alguém maravilhoso.
A vida é uma aprendizagem contínua,
ainda bem que assim é, nada mais pavoroso que estar cá sem nada para aprender,
para apreciar, para degustar, para escutar.
Tive o prazer de partilhar o
caminho durante 18 anos com uma pessoa maravilhosa, que apenas desejava ser
feliz, viver cada momento como se fosse o último, “Carpe diem”, que sabia o caminho que desejava percorrer.
A Inês era contagiosa, ninguém
podia ficar indiferente às suas loucuras, tantas vezes ingénuas, às suas
coloridas visões, à sua música, à sua boca torta tantas vezes referida, ao seu
sorriso genuíno. Nunca vou esquecer a primeira vez que ouvi um solo seu, num
concerto do Phydellius na Igreja dos Salesianos no Estoril, nem o estremeção
que tal me provocou.
Esta madrugada completam-se 11 meses
da sua prematura partida, é cedo para recordar um ano, mas como evitar um mar
de lágrimas perante o aproximar desse marco que será a Terra estar a 30 dias
apenas de completar uma órbita completa sem a Inês.
A vida é um caminho, maior ou
menor, mas sempre com altos e baixos, pode sempre ser melhor, pode sempre ser
pior. Embora por vezes só me apeteça rasgar o peito para extrair o coração
dorido, outras sou capaz de sorrisos genuínos. A felicidade não é um estado
permanente, é constituída por momentos, que há que saborear até ao fim, como
quando chupamos os dedos após a degustação de algo extremamente saboroso.
Mesmo que esteja tudo predestinado
independentemente da nossa vontade, quero continuar a pensar que a minha
vontade conta, que a minha actuação é importante, que as minhas escolhas são na
realidade feitas por mim. Sejam elas boas ou más. Sou o responsável pelos
caminhos, bons ou maus, que tenho trilhado ao longo da minha vida. Quero
continuar a desempenhar esse papel. E sei que a Inês me vai sempre acompanhar
nesse trajecto.
A vida nunca mais poderá ser a mesma sem a Inês, mas a verdade é que tem que continuar. Um abração!
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