domingo, 29 de janeiro de 2012

Sou Grego, com muito Orgulho!

Vivo num País onde já se não nasce. Onde o Presidente da República, precisa de tradutor para que compreendamos o raciocínio. Vivo num País febril com as taxas moderadoras. Ele é taxas moderadoras para a saúde. Ele é taxas moderadoras para as estradas. Ele é taxas moderadoras para a educação. Vivo num País em que os governantes se desdobram em discursos a anunciar a boa-nova, a recuperação está aí ao virar da esquina. Esquina essa que ninguém consegue descortinar. Vivo num País de malabaristas de palavras, que se candidatam em atos eleitorais defendendo exatamente o oposto daquilo que alguma vez porão em prática, caso sejam eleitos. Vivo num País que desistiu de ter futuro. Por inação, deixámos de nos reproduzir, por ação, impedindo os poucos que têm visto a luz por estas bandas de participarem em atividades laborais, por omissão, impedindo os idosos de terem uma morte digna. Desde o início deste ano da desgraça de 2012, já foram encontrados 12 idosos mortos nas suas casas, alguns mais de um mês depois da alma abandonar a carne.

Sou Grego, com muito orgulho! Ninguém quer compreender que somos indesejados nesta Europa, gorda, anafada, ensimesmada. Ninguém admite que vamos ser empurrados para fora da mesa, para longe da vista. Vamos ser os “velhos” portugueses que estamos a empurrar para uma morte solitária. Os dez-por-cento de portugueses que irão ser privados de televisão,com a chegada da tdt, vão ser os idosos. Sem poder de compra para poderem ter televisão paga. Achamos isso normal. Ouçam rádio. Não podem pagar aos bombeiros pelo transporte de ambulância, chamem um táxi. Abandonados!

O pior que pode acontecer a alguém não é ser posto à margem, é voluntariamente ir fazendo tudo o que nos exigem, sabendo que a cada exigência que respondemos, outra e outra se seguirão. Aqui a questão não é cumprir, aqui a questão é ser-se desejado. Claramente não o somos. O que podemos fazer é manter o nosso orgulho e mostrarmos solidariedade com o povo grego. Porque estamos no mesmo barco. A diferença, já são só seis meses. Pelo menos não ficaremos sós, quando chegar a nossa vez. Porque não consigo imaginar nada pior que morrer só e abandonado. Ninguém dar pela nossa falta, senão apenas um mês depois da última caminhada. É incomensuravelmente preferível dar as mãos e fazer o caminho em conjunto.

Outros se seguirão, se quiserem aproveitam o exemplo, senão suportarão um fardo maior sobre os então tristes e cansados ombros.

Tem os que passam

Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...