segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Quatro Anos

Após quatro anos angolares, com a inauguração da Hidroeléctrica fixada para 4 de Fevereiro, data importante por estas terras, simbolizando o início da luta armada contra a ocupação portuguesa, o regresso a casa volta ao horizonte.
Angola, onde a terra vermelha se entranha na alma de tantos que a demandaram, uns em busca de riquezas, outros degredados, uns lograram compreende-la, outros sempre a viram como uma maldição.
Sempre vista como terra de riquezas sem fim, primeiro o cobre e a prata preencheram as mentes ávidas de recompensas, logo os lucros imensos do tráfico de escravos para as plantações do novo continente americano, depois os diamantes, o café e finalmente o petróleo, toldaram o discernimento de tantos que nunca aceitaram que a verdadeira riqueza deste solo eram as pessoas que foram caçadas, exploradas, formatadas, assimiladas em prol dos ditames de recém-chegados, tantas vezes completamente equivocados nos seus juízos…
Angola com seus rios saltando inúmeras cachoeiras em direcção ao oceano, com seus monólitos quais guardas planálticos, com seus embondeiros sem folhas como guardiães de florestas encantadas, com suas praias atlânticas de águas prenhes de lagostas, com suas lagoas comportando tantos cacussos que só por si alimentam um povo inteiro, com seus desertos de plantas únicas, com suas montanhas icónicas quais postais ilustrados, com suas florestas de madeiras enfeitiçadas.
A vida que por estas bandas nunca foi fácil, virou bastante difícil nos tempos recentes, adiando esperanças.
Da nossa parte estamos na fase de embelezar a casa para receber os ilustres visitantes, a geração de energia está aí, em pleno. A maioria dos colegas que tornaram possível esta realização já partiram para as suas terras. Umas mais perto outras longínquas.
Bem hajam todos.

Feliz 2017.

domingo, 18 de setembro de 2016

Abismo

O abismo fascinou os homens desde que começaram a caminhar erectos. Se conseguiram contrariar a natureza e ser bípedes, viver sempre num equilíbrio instável, porque não desafiar a Mãe em todas as actividades? Nesta era antropocénica em que vivemos, quase completamente desligados do meio ambiente, em que celebramos a vitória hominídea incondicional sobre o pequeno calhau a que chamamos terra, o ambiente está como a economia, depois dos avanços incríveis até ao final dos anos oitenta, entrámos aos solavancos pela beira do abismo e hoje ninguém sabe o que se vai passar amanhã, acabaram as garantias, as certezas, a estabilidade.
Afinal a doença da Terra, hoje atinge milhões de pessoas que habitam em locais mais sensíveis, amanhã deverá atingir muitos mais, se hoje atinge especialmente zonas desfavorecidas, amanhã chegará às zonas mais desenvolvidas, se hoje atinge especialmente zonas tropicais, amanhã poderá corromper as grandes metrópoles ocidentais.
A juntar à situação ambiental, com as suas alterações climáticas, vem a instabilidade política auto-infligida numa UE que olha apenas para os seus pequenos umbigos nacionais, esquecendo os ideais que levaram à sua criação; a instabilidade política do médio oriente, que não se antevê ter fim próximo, juntando à guerra inter-religiosa em curso desde há séculos, nova guerra fratricida intra-religiosa entre as várias facções de seguidores do profeta árabe. África continua adiada, sem cumprir seu ideal, como diria o poeta, deixando cada vez mais cidadãos sem esperança. Os pólos a derreter, cada dia mais rápido. Extinção em massa que atinge cada vez mais espécies.
Estes diagnósticos que já todos conhecem, começaram a ser apresentados por ambientalistas “fanáticos” há quatro décadas, hoje a imprensa “mainstream” divulga com naturalidade. O que mudou? Infelizmente muito pouco, falamos disto como falamos do preço da sardinha ou dos fogos no verão. Algo inevitável. Fatalista. É o destino.
Provavelmente será mesmo o destino, não por estar escrito, mas sim por ser este destino que estamos a escrever todos os dias.

Tanta dissertação e no entanto “Eppur si muove” a população do concelho de Torres Novas não conseguindo suportar mais a incúria, o desleixo, o compadrio, a vergonha (e acima de tudo o mau cheiro) das autoridades locais, regionais e nacionais, a propósito da ribeira da Boa Água (curioso nome tem este pequeno curso de água que tão maltratado tem sido nos últimos tempos), começou a manifestar-se. Talvez tenha sido atingido o ponto em que o copo transbordou e não haja mais passividade para permitir o abuso continuado de um bem público, que é o ar que respiramos, pelo menos nos termos deploráveis utilizados por empresários sem escrúpulos, políticos sem vergonha, serviços sem meios, população amolecida pelos “Big Brothers” anos a fio…

domingo, 15 de maio de 2016

Cambambe

Cambambe proporciona imagens fantásticas, quase todos os dias. 
No canhão do rio Kuanza, em Cambambe, as águas alterosas do período de cheias, dão lugar às águas calmas da estiagem.

Como o homem é um aprendiz de feiticeiro, manobrando a natureza a seu bel prazer, estas duas situações extremas ocorreram com um intervalo de uma semana, quando o normal seria com cerca de três meses de diferença.

Ilustrando a colocação das comportas do vão central da novel/vetusta barragem de Cambambe, temos o "nosso" arco-íris, companheiro fiel de todos os dias.

Na colecção de curiosidades/raridades que só Cambambe oferece, temos um mini-tornado na entrada do túnel de acesso.

Para fechar o dia, nada como o fabuloso pôr-do-sol de Cambambe.

domingo, 8 de maio de 2016

Só há uma vida para viver!

Só há uma vida para viver!
Por mais que me custe a crer
No mais recôndito do meu ser
Por mais que os meus olhos se recusem a ver.

Que maior desperdício,
Quedar-se por aqui lonjuras de tempos assim
Sem saborear qualquer vício
Desviver noites com ausências sem fim

E se um dia de paixão, dor, lágrima, partida
Valer mais que uma existência longamente celebrada
Apenas existida, mas nunca vivida

Só chegada

domingo, 17 de abril de 2016

Curioso

Vivemos num mundo curioso, sabemos que os offshores servem para alguns (poucos) fugirem às tributações elevadas (segundos os tais poucos) dos países de origem. Apenas os que têm muito dinheiro podem usufruir destes alçapões cuidadosamente preparados em leis devidamente estudadas. Deste modo os detentores das maiores fortunas quase não pagam impostos e a classe média empregada tem a seu cargo o grosso da despesa do estado social. Periodicamente uma amnistia fiscal permite a legalização da situação mediante um imposto simbólico previamente acordado. Creio que no lugar de lutar contra os moinhos de vento, qual D. Quixote, seria preferível baixar os impostos para todos de tal sorte que não justificasse driblar as leis. De qualquer modo quem está sujeito às maiores taxas não paga nada…
O islão foi uma religião tolerante durante séculos, excepto alguns núcleos fanáticos isolados e sem expressão, a sede de petróleo no século XX favoreceu a expansão, paga a peso de ouro, desses fanáticos intolerantes de modo a estarmos no limiar de uma coisa qualquer bastante feia e que terá custos incalculáveis para os ocidentais. Não será a altura certa para apostarmos de vez nas energias alternativas, demonizadas por supostos liberais que vendem as suas opiniões a quem mais paga?
O período dos descobrimentos, durante tanto tempo enaltecido, ultimamente escarnecido, correspondeu a um tempo definido, com personagens conhecidos, a história não é um comício político, é o estudo dos eventos ocorridos e a sua compreensão. O seu conhecimento permite antecipar muitos eventos futuros. Foi uma epopeia, para uns; um desígnio, para outros; uma desgraça, para tantos; uma oportunidade, para uns quantos; uma jogada perdida, dirão aqueles; uma violência, dirão aqueloutros. Racismo, violência, ganância, religião, política, impostos, finanças, usura, aventura, oportunidade. As opiniões divergem em função da origem e do objectivo dos opinadores, é por isso mesmo que é importante o seu estudo. Um rio não é só nascente e foz, tem todo um percurso que lhe permite ser o que é.
O rio Kuanza e as suas míticas minas de prata, foram o engodo para a presença portuguesa em Angola. Quatro séculos depois Cambambe mostrou que a riqueza estava lá, embora à época não fosse compreendida desse jeito, mais meio século e Cambambe está quase a cumprir o seu desígnio humano, o restante do médio Kuanza está a caminho de transformar a prata em verdadeiro ouro, assim seja devidamente aproveitado.
Ao longo da história os líderes sucedem-se, uns despóticos, outros loucos, uns sem ambição, outros com ambição desmedida, uns com consulados breves, outros parece que sempre estiveram lá. Uns que parecem honestos, outros crêem ser reencarnações de divindades. Só não há nenhum que dure para sempre…
Longe estava de me encontrar à beira de uma década a “fazer pela vida” nas lonjuras tropicais do velho continente. A mostrar que a vida nos reserva surpresas a cada oportunidade. Talvez seja tempo de “emalar a trouxa e zarpar” rumo a paisagens dantes quasi ignoradas e hoje tão amadas. As saudades podem ser um íman poderoso…

Curiosamente o convívio com gentes tão diversas, com culturas tão diferentes, climas tão diferenciados, faz-me sorrir de pena de todos os que exibem certezas absolutas, verdades inquestionáveis, caminhos únicos. Se alguma coisa aprendi é que amanhã é outro dia e eu quero vivê-lo. Sem dogmas, sem garantias de sequer chegar vivo ao final. 

quarta-feira, 9 de março de 2016

Mulheres

Mulheres,
Nascido de uma,
Aparado por outra,
Mimado, beijado, amado.
Mulheres,
Amadas, rejeitadas, agredidas,
Avó, mãe, filha!
Lindas!
Mulheres,
Quem as não ama?
Na cama, no chão, na alma,
Exageradamente, ou com calma,
Mulheres,
Cara metade ou desconhecida,
Branca, preta ou colorida,
Por uma noite ou por toda a vida.
Mulheres,
De todas as que havia na partilha
A mais linda é a minha filha!
Mulheres,
São como o sal no mar,
Como a paisagem do Gerês,

E a mais bela é a minha Inês!
 Parabéns!

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Dúvida

Dúvida. Dúvidas. Como preferir certezas, verdades insofismáveis, dogmas, quando temos as dúvidas para nos encher a alma, os pulmões, o coração? A sensação de andar no arame, do limbo, vale mais que todas as verdades absolutas. Os exemplos, os mitos têm quase sempre pés de barro, uma história escondida, um segredo de estado.

Os caminhos em linha recta não têm história, são deslocações, nunca viagens.

Tem os que passam

Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...