Hoje é o teu primeiro aniversário sem ti.
Virão depois, a primeira Páscoa sem ti.
O primeiro natal sem ti.
O dia 10 de Março de 1995 foi, sem qualquer dúvida o mais
feliz da minha vida, não o trocaria por nada, foi quando pela primeira vez
chorei copiosamente de felicidade. Quando deixei de ser eu e passámos a ser nós.
Quando deixei de me sentir no centro do mundo. Quando passei a ter receio por
aquilo que pudesse acontecer a outro.
Em Agosto de 1995, ficava tudo espantado, como uma pirralha
assobiava tão bem e andava, tão pequenina, na praia da Salema. A primeira
surpresa que nos reservaste numa passagem de ano foi logo na primeira, em casa
do Tomé, resolveste andar sem ninguém a ajudar. Ficaste independente aos nove
meses, nunca mais deixaste de o ser.
Em 2000 disseste-me que fumar fazia mal, como qualquer
viciado retruquei que comer chocolate também fazia, no dia seguinte o avô
disse-me que a Nocas estava doente, perguntei porquê, respondeu que pela
primeira vez tinha recusado o chocolate. Custou-me na altura, mas orgulho-me de
dizer que deixei de fumar porque a minha filha de cinco anos me pediu.
Ficaste desapontada por ter nascido um irmão e não uma mana,
os rapazes são uns chatos…
Em 2003 surpreendeste-nos quando quiseste entrar na escola
de música da banda, a tua primeira grande paixão estava encontrada, era o
clarinete.
Faz hoje 9 anos que tiveste a tua primeira audição de
clarinete, no auditório do Phydellius.
Entraste para o coro, um bocadinho obrigada pela mãe, mal
sabias que a tua segunda grande paixão estava ali, quantas pessoas passam uma
vida inteirinha sem saberem o que é a paixão e tu com doze anos já tinhas
encontrado duas…
Nunca esquecerei o momento do teu primeiro solo no coral, na
igreja dos salesianos no Estoril. Estava a filmar o concerto e de repente ouvi
uma voz celestial, foi uma tal emoção que a recordo como se fosse hoje.
E quanto às aulas de canto? Sei que não gostavas que assistisse
mas adorava ir um pouco mais cedo para te ir buscar e ficava cá em baixo a
ouvir-te.
Recém-descobriste o prazer dos concursos.
Por uma vez foste atrás do teu irmão, quando eu vim para
Angola e tocaste com ele na Smooth Vibrations, na Figueira da Foz, ele nunca
esquecerá.
Conseguiste entrar na Metropolitana, em clarinete na aula do
Nuno Silva, tal como querias, porque ultrapassaste os medos de uma miúda de 18
anos e conseguiste chamar a atenção dele. Que só te aceitou devido à tua
coragem e garra.
Conseguiste entrar no Conservatório Nacional, em Canto, a
tua verdadeira paixão, pela mesma razão.
Já conhecias todos os alfarrabistas de Lisboa, onde
incessantemente procuravas partituras antigas. Começaste em Torres Novas, na
loja do Adelino e nunca mais paraste.
Quando os outros faziam a paragem das férias de verão, tu
não. Ias para a biblioteca de Torres Novas, onde a Joana te “aturava”, aprender
a arte do restauro das queridas partituras. A propósito não chegaste a saber,
mas sabes agora, vem aí uma Inês a caminho.
Foi um privilégio ter-te acompanhado ao longo destes curtos
anos, tantas vezes ausente, bem sei, mas sempre estiveste no meu coração, sei
que também eu estava no teu.
É com orgulho que te digo que amo a tua mãe e o teu irmão e
todos nós somos mais ricos por termos partilhado parte do nosso caminho
contigo.
Já sabia, mas agora sei-o ainda mais, és rica, só alguém
muito rico tem os verdadeiros amigos que tu tens. De todas as idades, por todo
o país. Quero agradecer a todos, as palavras sentidas que te têm dirigido.
Um grande bem-haja para todos, estão no nosso coração.
Saudades...
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