segunda-feira, 21 de março de 2011

Banksters

 

Como otimista tenho alguma dificuldade em identificar-me com o espírito de velho do Restelo vigente desde há séculos no retângulo. Somos excelentes no escárnio e maldizer. Somos ainda melhores a condenar tudo o que se faz, não importa o quê. Não conseguimos aprender com os erros, não temos atitude proativa. Vamos sempre a reboque. Desde a entrada para a UE, passámos de 100 km de auto-estrada para 4000km, não se passa nada. Temos das auto-estradas menos circuladas do mundo, não se passa nada. Não conseguimos recuperar na totalidade a linha do norte, não se passa nada. Desde há décadas que o caminho-de-ferro só é notícia devido ao encerramento de mais um ramal. Cai o Carmo e a Trindade e toda a gente fica chocada quando se tenta iniciar a construção de uma linha moderna em bitola europeia, que pode ser o investimento mais importante e estruturante feito por cá desde a Auto-Europa. A Europa tem uma rede fantástica de caminhos-de-ferro e nós orgulhosamente sós, não aderimos à bitola europeia, que poderia acabar com o anacronismo de fazermos as nossas trocas quase apenas por camião. Os nossos portos não são explorados no seu potencial porque não estão ligados à Europa por caminho-de-ferro. Toda a gente embarca nas notícias interesseiras transmitidas cá pelo burgo, com apoio dos beneficiários desta triste situação.

A pujança de uma língua vem não de ser estática, mas de responder aos novos desafios. Um língua viva não vive de saudosismos, mas da necessidade e interesse que as pessoas tenham nela. Não podemos pensar que a Língua Portuguesa é só nossa, porque a ser assim a breve trecho nem nós a queremos falar. Uma língua falada por variados povos, deve receber influências de todos os que a falam. Deve contribuir para o desenvolvimento de um sentimento de pertença comum. Tem que ser capaz de se antecipar aos acontecimentos e em caso de necessidade criar novos termos para definir novas ocorrências. Cito como exemplo de língua viva o Inglês que em tempos criou o termos “gangsters” para definir os membros de um grupo violento e fora da lei, agora criou um novo que define bem estes tempos conturbados, “banksters”, creio que define bem o sentimento geral de quem sente na pele as consequências de se ter deixado um grupo tomar conta dos destinos do planeta, grupo esse que é amoral, interesseiro, incapaz de ver para além dos balanços e dos lucros momentâneos. Quando esse grupo tomou conta dos governos de todo o mundo ocidental e formatou as consciências de todo um povo que numa geração, esqueceu a história que lhes permitiu chegar aqui. Quando uma sociedade se afunda, toda a gente vê, ninguém faz nada. Parecemos a orquestra do Titanic, a tocar até ao navio submergir. Quando tanta gente se mostra contra o acordo ortográfico, apenas porque incorporamos novas grafias e deixamos de ser os “donos” da Língua Portuguesa, eu respondo, fiquem com a velha, já agora, à braseira com uma manta sobre os joelhos, a recordar os “bons tempos” nos idos de 50 e 60, quando um célebre beirão ciciava os caminhos da moral e dos bons costumes. Eu por mim apenas digo, já há muito que fazia falta esta pedrada no charco. Eu voto pela língua do mundo, todos iguais e todos diferentes. Ainda me vou rir quando alguns dos “velhos” se afirmarem donos do novo acordo e defenderem que foi a língua que nos tirou do marasmo e nos deu perspetivas de saída para o negrume da tempestade onde entrámos e não conseguimos vislumbrar uma saída…

sexta-feira, 18 de março de 2011

Neve

Contra todas as expetativas antes de decorrido o primeiro mês do ano da graça de 2011, fui agraciado com dois dias de neve. Com efeito sem que nada o fizesse prever transitei da entrada do grande Sahara para o nordeste transmontano. Difícil a primeira impressão. O meu corpo ambientado aos calores africanos estremeceu, a diferença superior a quarenta graus custou a suportar.

Duas semanas depois tudo estava normalizado. Para ajudar muito contribuíram os excelentes restaurantes desta terra. Vinhos aqui são-no com V maiúsculo. Não podemos esquecer que estamos em terras nobres, terras mães dos melhores vinhos portugueses. Aqui desde há séculos que a vinha e o vinho são tratados por gente habituada a trabalho árduo. Foi a primeira região demarcada do mundo.

Depois das temporadas de “lei seca” na Mauritânia e Mali, a estadia atrás-dos-montes não fica a dever nada, antes pelo contrário, aos bons momentos.

Já há algumas semanas que podemos assistir ao espetáculo grandioso das amendoeiras em flor. Só visto.

Terra de rocha dura, de vales cavados, de nevoeiros perenes. Terra de vistas deslumbrantes. Terra da posta mirandesa…

Tem os que passam

Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...