terça-feira, 18 de março de 2014

Desabafo

Somos razão. Somos emoção. Somos altruístas. Somos egoístas.
À compreensão (que não aceitação) do que se passou, seguem-se momentos de impotência, de desespero. Fraquejam as pernas. Fica um nó na garganta. A lágrima assoma no canto do olho.
Foi só um momento. Vários momentos.
Dou por mim a pensar como poderia ter sido. Que raiva, não poder voltar atrás…
Que faço agora?
Eu sei que tenho que seguir em frente. Isso é o óbvio.
Que faço agora?
Choro? Fecho-me ainda mais? Imploro? Solto uns ais?
Porquê?
Somos amigos. Somos inimigos. Somos bons. Somos maus.
Pensamos em nós como o centro do mundo. Mas o mundo não sabe. Nem sequer desconfia. Irrelevantes. Grão de areia no deserto. Gota de água no oceano.
Como conciliar sol e sombra? Água e sede? Frio e calor? Bem e mal? Amor e ódio? Dia e noite? Vida e morte?
Tudo isto existe, tudo isto está à nossa volta. Como é tão fácil perceber o conceito e tão difícil aceitar a realidade?
Como posso rir chorando? Como posso ir caminhando sabendo que me estou a afastar? Como posso não ir caminhando? Que faço?
Tremo de frio nesta quentura, qual navio numa aventura, não sei se tenho estrutura, nem sequer desenvoltura.
Temo que esteja a andar em círculos, para me não afastar. Como posso me afastar? Não sei para onde vou, só sei que tenho que andar. Um dia vou encontrar a direcção, um dia vou escutar meu coração, um dia vou ouvir a razão, um dia…
Yin e yang, preto e branco, bem e mal, razão e coração?

Contradições, quem as não tem? Não estou tão mal assim. Só  precisava desabafar.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Aniversário

Hoje é o teu primeiro aniversário sem ti.
Virão depois, a primeira Páscoa sem ti.
O primeiro natal sem ti.
O dia 10 de Março de 1995 foi, sem qualquer dúvida o mais feliz da minha vida, não o trocaria por nada, foi quando pela primeira vez chorei copiosamente de felicidade. Quando deixei de ser eu e passámos a ser nós. Quando deixei de me sentir no centro do mundo. Quando passei a ter receio por aquilo que pudesse acontecer a outro.
Em Agosto de 1995, ficava tudo espantado, como uma pirralha assobiava tão bem e andava, tão pequenina, na praia da Salema. A primeira surpresa que nos reservaste numa passagem de ano foi logo na primeira, em casa do Tomé, resolveste andar sem ninguém a ajudar. Ficaste independente aos nove meses, nunca mais deixaste de o ser.
Em 2000 disseste-me que fumar fazia mal, como qualquer viciado retruquei que comer chocolate também fazia, no dia seguinte o avô disse-me que a Nocas estava doente, perguntei porquê, respondeu que pela primeira vez tinha recusado o chocolate. Custou-me na altura, mas orgulho-me de dizer que deixei de fumar porque a minha filha de cinco anos me pediu.
Ficaste desapontada por ter nascido um irmão e não uma mana, os rapazes são uns chatos…
Em 2003 surpreendeste-nos quando quiseste entrar na escola de música da banda, a tua primeira grande paixão estava encontrada, era o clarinete.
Faz hoje 9 anos que tiveste a tua primeira audição de clarinete, no auditório do Phydellius.
Entraste para o coro, um bocadinho obrigada pela mãe, mal sabias que a tua segunda grande paixão estava ali, quantas pessoas passam uma vida inteirinha sem saberem o que é a paixão e tu com doze anos já tinhas encontrado duas…
Nunca esquecerei o momento do teu primeiro solo no coral, na igreja dos salesianos no Estoril. Estava a filmar o concerto e de repente ouvi uma voz celestial, foi uma tal emoção que a recordo como se fosse hoje.
E quanto às aulas de canto? Sei que não gostavas que assistisse mas adorava ir um pouco mais cedo para te ir buscar e ficava cá em baixo a ouvir-te.
Recém-descobriste o prazer dos concursos.
Por uma vez foste atrás do teu irmão, quando eu vim para Angola e tocaste com ele na Smooth Vibrations, na Figueira da Foz, ele nunca esquecerá.
Conseguiste entrar na Metropolitana, em clarinete na aula do Nuno Silva, tal como querias, porque ultrapassaste os medos de uma miúda de 18 anos e conseguiste chamar a atenção dele. Que só te aceitou devido à tua coragem e garra.
Conseguiste entrar no Conservatório Nacional, em Canto, a tua verdadeira paixão, pela mesma razão.
Já conhecias todos os alfarrabistas de Lisboa, onde incessantemente procuravas partituras antigas. Começaste em Torres Novas, na loja do Adelino e nunca mais paraste.
Quando os outros faziam a paragem das férias de verão, tu não. Ias para a biblioteca de Torres Novas, onde a Joana te “aturava”, aprender a arte do restauro das queridas partituras. A propósito não chegaste a saber, mas sabes agora, vem aí uma Inês a caminho.
Foi um privilégio ter-te acompanhado ao longo destes curtos anos, tantas vezes ausente, bem sei, mas sempre estiveste no meu coração, sei que também eu estava no teu.
É com orgulho que te digo que amo a tua mãe e o teu irmão e todos nós somos mais ricos por termos partilhado parte do nosso caminho contigo.
Já sabia, mas agora sei-o ainda mais, és rica, só alguém muito rico tem os verdadeiros amigos que tu tens. De todas as idades, por todo o país. Quero agradecer a todos, as palavras sentidas que te têm dirigido.

Um grande bem-haja para todos, estão no nosso coração.

Tem os que passam

Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...