segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Um Ano na Mauritânia

18 De Agosto de 2007
6:00 am – Tocou o despertador. Acordei para um dia completamente inesperado apenas duas semanas antes. O dia da minha viagem para a Mauritânia. Foi o dia em que mais me custou levantar e despachar em muitos anos. A Guida fez-me dar um beijo ao Xavier, coitado estava de tal modo a dormir que não deu qualquer sinal, quando o agarrei para o beijar. A Inês, como sempre aparenta maior autocontrolo e deseja-me boa viagem.
18 de Agosto de 2008, 2ª Feira. Faz hoje um ano. Que estou nesta terra. Parece mentira. Fazendo uma retrospectiva. Hoje choveu loucamente. Quando cheguei a Nouakchott, só me apeteceu apanhar o avião de volta. O primeiro choque é brutal. Não há nada que nos prepare. Não sei se as pessoas que mais gosto. Alguma vez. Aceitarão. Compreenderão. Não sei se alguma vez. Estarei preparado para esta terra. Liberta-nos. Amarra-nos. Sei que estou a passar ao lado da vida. Dos meus. Hoje tive uma queda brusca da temperatura. Corporal. Não parava. De tremer. Tive que vestir um polar! Tive que colocar. O ar condicionado. No quente. Se qualquer dia é bom para uma retrospectiva. Os números redondos. São-no mais. Após um ano em África. Dou mais valor à amizade. As dificuldades trazem ao cimo. O melhor. O pior. Das pessoas. Os amigos são os do berço. E. Os que em tempos difíceis. Nos fazem acreditar. Que ainda é possível. Os meus filhos. Sentindo a minha falta. Perdendo cumplicidades. Estando tão longe. A minha esposa. Sentindo-se só. Espero que. Alguma vez. Sentados à lareira. Apreciemos cada dia. Juntos. Que não haja. Sombras. Entre nós. Neste caso. A distância. Faz-me apreciar cada vez mais. O que tenho em casa. Na 4ª Feira. Dia 13. Fizémos 16 anos. De casados. Com todas. As situações. Dificuldades. Voltava a casar. Hoje. A sinfonia. Das rãs. Rodeia-me. É inacreditável. São milhões. Para a semana. Regresso a casa. Até já. Embora. Só tenha vindo à um mês. As saudades. Apertam. Hoje. Compreendo. Aceito. Muito mais. A diferença. Acho que estou. Mais rico. Nada como ver. Outras gentes. Outras culturas. Para perceber. Quão fúteis. São a maioria. Das nossas querelas. De ocidentais. Aburguesados. De barriga. Saliente. A religião. Que nos é. Apresentada. Com tantas certezas. Com tantos dogmas. É preciso. Escutar. O mundo. A política. A diferença.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Golpe de Estado

6ª Feira, 8 de Agosto. O pessoal que foi de férias, saiu daqui na 2ª Feira às 11 da noite. Apanharam uma tempestade pelo caminho, que lhes partiu três vidros do jipe e os deixou encharcados. Passaram uma noite no caminho pois a estrada estava cortada. Apanharam um golpe de estado, quando esperavam o avião. O aeroporto foi encerrado. Já saíram, quando escrevo, mas só chegam à Madeira no domingo. Há dias de sorte… Por aqui hoje tive que trabalhar, pois betonaram-se duas placas de um radier, e tive que as ir marcar. Durante a semana passaram-se aqui algumas curiosidades. A saber. No domingo, fomos beber uma bejeca aos chineses e foi engraçado ver que estavam numa sala quatro pessoas, uma portuguesa, uma marroquina, uma brasileira e uma chinesa. Se repararmos era um cidadão europeu, outro africano, um americano e ainda um asiático. Só faltou mesmo um australiano… Na 2ª fui a Bakel com o Messias e o Hassane, para o ravitaillement…, pois o Messias fazia 44 anos e estava seco. À tarde os médicos chineses vieram ver a nossa horta e lavaram, alfaces, couves, pimentos e pepinos. Ficaram encantados pois nesta altura não há verduras para comprar. Na 3ª recebi finalmente a minha carrinha, um mês e meio depois da avaria. Na 4ª houve um golpe de estado. Na 5ª chegou finalmente o aguardado cimento. Na 6ª trabalhei. (Aqui a 6ª é dia de descanso).

Tem os que passam

Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...