quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Avarias

24 de Setembro de 2009, 5ª Feira. Depois de terminado o Ramadão pensei que iríamos começar a trabalhar a sério, pura ilusão. Nem sequer tenho carro para ir à obra. As viaturas ligeiras estão quase todas na oficina. A minha por falta de travões, diferencial dianteiro e semi-eixo dianteiro, também não tem ar condicionado, embora tal não impeça a viatura de andar. Tal como eu, outros estão, clientes fiéis da oficina. O Mário é que parece não estar muito satisfeito com tantos clientes… A chuva apenas folgou nos dias de festa, eu acho que se toda a gente estava a festejar o final do Ramadão, é natural que Ele tenha propiciado três dias sem chuva, para que as mulheres e crianças pudessem exibir as suas novas vestes. Festa terminada, água molhada. O Xapi por estes dias está mais calmo, penso que o período das cadelas saídas deve ter terminado. Para ele ficaram bastas recordações, tem uma colecção de cicatrizes, que parece ter participado numa qualquer guerra. Do cachorro gordo, da primavera, nada resta, está um cão alto, magro, musculado. Tornou-se completamente independente. Embora de quando em vez, tenha uma recaída e apareça a solicitar uns carinhos. Na horta aquilo que desperta imediatamente a atenção, são as papaieiras, são bastantes e carregadas de frutos. As bananeiras exibem os cachos, quais troféus de verdura. Estou a começar a temer os próximos tempos, pois já temos o que eu chamo de infestação de gafanhotos. E eles comem tudo…

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Equinócio

21 de Setembro de 2009, 2ª Feira. O rei morreu. Viva o rei. O Verão acabou, viva o Outono. Isso por aí, que por aqui as estações são outras. Aqui estamos na “hivernage”, a estação das chuvas. Este ano os céus têm estado generosos por estas bandas. Aliás desde os anos noventa do século passado que tal se vem verificando. A quantidade média de chuva em Selibaby é a mais alta de toda a Mauritânia, e é de cerca de 480mm. Nos últimos anos tem-se situado nos 600mm. Pelas minhas contas este ano deverá ultrapassar os 800mm. Assim quando falarem de alterações climáticas, juntem-lhe este dado: As alterações climáticas não são OBRIGATORIAMENTE más. Dependentemente da zona do globo terrestre, podem ser inclusive positivas. Claro que o director da obra que nos mantém aqui, não tem forçosamente que ter a mesma opinião que eu… Ontem festejou-se aqui a festa d’elid elfitr, ou seja, o final do Ramadão, em português, quando o pessoal pode voltar a comer durante o dia. Eu, o Zé Manel e o Rafa fomos festejar. Passámos o dia com o Djaló. Visitámos algumas das suas tias, mai-las muitas primas, tias avós e restante família. Comemos que nem uns esfomeados. Bebemos chá que nem uns viciados. Sempre deu para um dia descontraído e diferente, leia-se, não pusemos os pés na nossa santa cantina, que de tão boa, podia só servir a administração, de certeza que por aqui ninguém contestaria. Hoje andámos na monda da nossa horta, que as ervas por aqui não descansam. Crescem tão rápido, que se por acaso alguém achar que está embriagado por ver ervas a crescer, lembre-se, aqui isso não é verdade. É possível ver ervas a crescer. Malvadas. Amanhã volta a ser dia de trabalho, significa isso que, quase de certeza esta folga da chuva termina hoje… Das coisas que lamento é não ser um estudioso de insectos. Caso fosse, tinha aqui bastante para estudar. Assim tal não se verifica. Também não vou arrancar cabelos por esse facto, principalmente porque os ditos fugiram em tempos idos.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

De viagem!

15 de Setembro de 2009, 3ª Feira. De volta a África. Breves dias em casa permitiram recarregar baterias. Necessárias para mais uma etapa, desta feita até ao natal. Por terras lusas momentos de finais de Verão, quentes, alegres e a cheirar ao Outono, que já espreita. Passeio a Trás-os-Montes, com estadia em Ladrugães, Montalegre. Região de excessos. Em primeiro lugar de beleza. Depois de verde, de água, de montanhas, de aldeias, de fogos… O Parque Nacional do Gerês continua lindo, apesar de alguns tudo apostarem em o destruir. Em casa armei-me em bom e causei pesadelos, não apenas a mim. Uma tarefa fácil, substituir a torneira do duche por uma coluna com torneira termoestática, com quatro opções para um banho de sonho, (o objectivo era tornar o duche utilizável pelo Xavier, que ainda é pequeno para chegar à posição do duche para os adultos, evitando utilizar duas casas de banho) rapidamente me apercebi qual a razão para haver especialização de tarefas. Aquilo que parecia simples, obrigou a várias deslocações para comprar acessórios, faltava sempre um… Tudo montado. Experiência. Ficou a pingar. Voltei a colocar tudo como estava. Depois da viagem nortenha, pensei, desta vez vou impressionar todos. Fui a casa do meu pai, pedi umas chaves de canalizador e entusiasmado lancei mãos à obra. Parti o tubo de água quente e finalmente percebi o óbvio. Não nasci para trabalhos manuais! Procurar um canalizador, mais um pedreiro, partir azulejos, telefonar umas trinta vezes, ouvir a querida esposa, voltar a telefonar, ir a casa do pedreiro implorar, voltar a telefonar, o canalizador vem já, ainda não, é agora, está quase, ainda não. Três dias nisto. Quando parti no domingo ainda faltavam pormenores. Acho que ainda não está a funcionar. Já nem tenho coragem de perguntar. O meu disco externo não funciona porque o adaptador avariou. Não dá para comprar um da concorrência porque fizeram um tão único, que ninguém se deu ao trabalho de copiar. Fui à loja de computadores, não há problema, disseram-me. Uma caixa nova, é tudo o que necessita. Dura apenas meia hora. Custa vinte e seis euros. Pensei, nem tudo é mau. Levei o disco e pedi a substituição da caixa. Estavam esgotadas. Dentro de uma semana teremos novas. Eu estarei longe dentro de uma semana. Depois de muito pensar, no último dia comprei um disco novo. Chegado ao paraíso, liguei-me de novo ao mundo, claro que o novo disco não funcionou. NUNCA devemos comprar um disco externo, viajar 4.000 km e DEPOIS experimentá-lo. Quanto à viagem, nem sei bem como começar. A parte do avião até correu bem. Chegámos a Dakar à hora. Trouxe uns quilitos a mais e com um sorriso, o funcionário, apenas me chamou a atenção. Cinco estrelas. Em Dakar, vi-me dentro de um carro que em Portugal não poderia circular, por falta de condições. Perguntei ao condutor se “aquele” era o nosso transporte para 700km, que sim, o carro é muito bom respondeu-me. Tudo bem, mas, sair do aeroporto às 2 e meia da manhã, num carro sem ar condicionado – quem precisa disso? - Sem cinto de segurança – se não vamos ter um acidente, para quê o cinto? – Como iluminação apenas o equivalente aos mínimos, num carro vulgar. Aqui confesso que me assustei. O condutor era bom, mas fechei os olhos durante muitas curvas! Senti o coração apertado. Nunca desejei tanto o nascer do sol. Sol que nunca vi em todo o dia, apenas nuvens e mais nuvens. Nuvens, que descambaram sobre nós na região de Tambacounda, mostrando outro problema do carro. Chovia no interior. Felizmente não em todo o interior. Apenas na zona do pendura… Para variar cheguei a Bakel e fui informado que chovera tanto, que estavam com dificuldades para me ir buscar. Enfim cá cheguei. Pronto para mais uma etapa. Quando estava a atingir o estaleiro telefonaram-me de Portugal, a certidão do médico para fazer as análises estava pronta, podia ir buscar. Agradeci. Sou bem-educado. Afinal de contas o mundo não acaba hoje!

Tem os que passam

Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...