domingo, 7 de novembro de 2010

Churrasco

Fizemos hoje o nosso primeiro churrasco maliano. Decidimos que era hora de começar a criar espírito de grupo, nada melhor que um belo churrasco. Comprámos o carvão. Depois para alguns menos experientes o simples acto de comprar uma pouco de carne num “talho” daqui é algo inolvidável. O pessoal só diz que a ASAE está longe. De facto não está nos hábitos portugueses comprar carne num balcão à beira da estrada de terra batida, com cobertura de moscas e pó. Só vos digo que estava divinal. Esta semana começámos os trabalhos de preparação do estaleiro. Os contentores devem começar a chegar no próximo domingo. Já temos 20 km de projecto aprovado. A água não deve ser um problema, o que atendendo à nossa localização não deixa de ser muito positivo.


A deslocação a Nampala foi proveitosa porquanto estive com os topógrafos que estão a fazer o levantamento da obra, conheci a estrada até perto da metade. Apercebi-me melhor do que nos espera. A viagem até foi engraçada, pois os militares que me acompanharam caçaram um grande lagarto, um varano, para o almoço, safei-me porque o Idir, responsável do projecto me ofereceu manjar, caçaram o dito com um pau. Iam mais felizes que crianças com rebuçados.

A temperatura baixou um pouco de noite, já é possível dormir sem ar condicionado. Com um pouco de sorte os mosquitos também irão dar uma volta, pois começa a ser difícil viver com tanta comichão.

Comprei um telemóvel que é uma cópia genuína de um Nokia topo de gama, que isso de cópias clandestinas não é comigo… Este tem site na internet e tudo. Explica lá bem o que é uma cópia genuína, para quem tenha dúvidas.

O que tem de bom ir para um país novo é ficar a conhecer algo sobre o que se passa aí, que nunca nos tinha passado pela cabeça. Por exemplo, os franceses colonizaram quase todo o sahara. Ao contrário do que os portugueses fizeram no Brasil dividiram esta região em múltiplos países. Os tuaregues ficaram divididos em seis países, sendo minoritários em todos eles. Isso originou pelas regras democráticas (?) uma subordinação a outros povos. Como são um povo livre (leia-se nómada) isso gera desconfiança nos gregários. Ou seja passaram de habitantes livres e senhores de um território imenso, quase semelhante à Europa, a desalojados sem casa e cuja causa esbarra nos petróleos desejados por tantos. E por tal desejo, as mais antigas democracias “esquecem-se” da história. Como estes eventos são ainda historicamente recentes a poeira ainda não teve tempo de assentar e as fronteiras são linhas traçadas a esquadro num gabinete europeu. Prevejo que ainda vamos ouvir falar de qualquer guerra por um punhado de areia, que nós europeus civilizados não compreenderemos.

Por falar em guerras, está em desenvolvimento um aumento grande da área de regadio onde estamos. Para arroz. Os pastores que vem do norte em busca de água e pastos para os seus rebanhos imensos não irão achar muita piada. Os pescadores que vivem na região do delta também não irão ver os seus rendimentos aumentar. Mas o aumento incessante da população obriga a reclamar cada vez mais meios para produzir alimentos. Aqui em zonas onde o equilíbrio é precário dá para se aperceber melhor do risco que (todos) corremos.

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