sábado, 1 de outubro de 2011

Um Soluço

A aposta foi ganha quando um dos residentes num dos três lares da Santa Casa da Misericórdia da Golegã se levantou e em voz trémula e decidida disse “Só Vos desejo que um dia. Quando forem da nossa idade, tenham alguém, a fazer por vocês o que estão a fazer por nós.”

Dia primeiro de Outubro, Dia Internacional da Música, um bando de miúdos, armado ao pingarelho, quais saltimbancos de outras eras, irrompe pelo lar adentro com uma energia, uma amizade e uma genuína vontade de proporcionar àqueles, que no ocaso da vida ainda soltaram uma lágrima marota, sensações julgadas perdidas.

“Ora estamos aqui no jardim infantil, não é?!” Resposta clara e audível, “Não!”, por momentos rostos voltaram a iluminar-se, voltaram a sentir-se importantes.

Quando uma dezena de miúdos decide que a melhor forma de passar uma tarde esplendorosa de sábado, é a mimar, com música, malabarismos, palhaçadas e palavras doces, uma plateia constituída por seniores, alguns já com autonomia bastante restrita, desconhecidos. E isto numa época em que tantos denominaram os jovens de geração “rasca”...

São os jovens quem desmente tal acusação. Provando que se as abelhas picam, também produzem mel. Talvez sejamos nós que não sabemos colher esse néctar...

No final, ainda ouvi os miúdos comentar “Assim vale a pena” ou “podem contar comigo”.

Por um dia não ouvi falar de mercados, ratings, dívidas, recessões.

A solidariedade ainda vai ter um papel importante, como já teve.

Este tempo é um soluço. Cabe-nos parar com os soluços.

Quando era miúdo dizia-se “ soluço vai, soluço vem, m**** p’ra quem o tem...

domingo, 11 de setembro de 2011

Não tem que ser assim...

Hoje dia 11 de Setembro de 2012, impõe-se um balanço do que se passou neste último ano.
Cerca de metade da população portuguesa sobrevive graças à sopa dos pobres, a igreja católica tem tido ação destacada nesta espinhosa missão. Já se verificaram três aparições de Nossa Senhora, num ano marcado pelas dificuldades extremas e em que só uma forte fé separa os cinco milhões de pobres portugueses do abismo do desespero. Os anúncios de novos impostos sucedem-se. A economia está em queda vertiginosa. A contração do PIB atingiu uns inacreditáveis 10%, atirando o malfadado défice para cerca de 9%. A cada anúncio de aumento de impostos segue-se o encerramento de milhares de empresas. Os cinco milhões de “remediados”, os que ainda não engrossam as filas da caridade, já só compram em lojas chinesas, o magro pecúlio não permite mais...
A chanceler Merkel, defensora acérrima dos eurobonds, voltou a tentar persuadir os parceiros europeus a aceitarem os títulos de dívida europeia, mas os governantes europeus continuam a lançar pacotes de austeridade, já se chegou ao cúmulo de dois terem sido lançados no mesmo dia, para ver se os mercados reagiam...
A pressão sobre Passos Coelho para que este dê inicio aos trabalhos do TGV intensifica-se, pois a fábrica alemã que iria fornecer os comboios e os equipamentos para a linha, está sem encomendas e começou a despedir funcionários.
A economia alemã, de tanto sucesso na última década baseia-se na exportação essencialmente para a Europa. Com todo o continente a pão e água, a comprar apenas aos chineses, as encomendas de carros caíram para os níveis mais baixos de que há memória...

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Curiosos tempos

Curiosos tempos. As más notícias pioram a cada dia. O que era mau ontem, já não é assim tão mau hoje. Amanhã haverá notícias piores.

Nestas terras atrás-dos-montes são horas de festa. Os emigrantes estão de regresso para mais um mês de nostalgia. As festas sucedem-se. As temperaturas são tropicais. A cerveja corre em torrentes por gargantas ressequidas. Atordoando cérebros de esperança perdida. Dança-se num rodopio, de pés, de sonhos. Nada é o que parece. Tempos de vacas magras, é que dizem os entendidos, nos seus comentários pagos principescamente, em televisões falidas, num país falido, num continente à deriva, qual jangada de pedra. O Saramago enganou-se, não é a península ibérica que está à deriva, é todo o continente.

É curioso ver como os liberais estão prestes a saborear a mais amargadas vitórias. No poder em quase toda a Europa. Falida. A cortar em toda a linha. A escarnecer na história da Europa dos últimos 65 anos. Vitória atrás de vitória até à derrota final…

Curiosos tempos. De mudança. Dolorosos. Difíceis.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Até sempre

Dois anos atravessaram o tempo como um rolo compressor, levando tudo à sua frente.

Há dois anos o despertar foi penoso, como nunca o deveria ser. Como nada o fazia prever.

Há dois anos levei um soco tão violento, que ainda hoje custa a aceitar. O modo como via aquelas paisagens acabou há dois anos. A inocência, como nos deslocávamos, nada nos podia tocar, acabou de forma abrupta.

Há dois anos subitamente desejei sair da Mauritânia, o que fiz logo que foi possível. Só não lamento lá ter estado, porque herdei memórias incríveis dos (poucos) momentos que passámos juntos. Essas memórias são minhas. De mais ninguém!

Dei hoje rebuçados a uns miúdos que encontrei!

Até sempre,

Amigo.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Contradições

Novamente “apanhado” pelo calor, um misto de contradições apanhou-me de chofre, sem dar qualquer possibilidade de responder, por impreparado. Assoberbado por um volume de trabalho crescente, as (poucas) horas livres têm sido utilizadas para repor baterias, não tenho dedicado tempo algum à organização escrita das vontades que sempre vão surgindo.

É com surpresa que apreendo que a última entrada neste espaço dista quase dois meses. Vale que tenho aproveitado cada final de semana para apreciar a possibilidade de estar junto de quem me quer bem. Os trabalhos seguem em ritmo crescente, a obra começa a tomar forma. Tudo correria pelo melhor não fora a catadupa de notícias anunciando o final de uma era. Uma era de ilusão. Uma temporada em que quisemos acreditar que éramos europeus, tal qual os outros. Em que por breves instantes o nosso país serviu de porto a uns milhares desafortunados. A realidade pode nem sempre ser palpável, mas quando quer pode ser brutal.

Voltámos a partir, às centenas, aos milhares. De encontro ao nosso destino, de descobridores de oportunidades, de terras, de sonhos.

É esse misto de contradições que me oprime o peito, como estar feliz, pelo regresso, quando tantos têm que partir, quando tantos têm cada vez menos. Quando os sonhos se esgotam. Quando temos umas eleições à porta e vemos as perspetivas cinzentas do que serão os nossos governantes. Onde estão os heróis quando tanta falta fazem?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Primavera

Contra todas as expectativas, neste ano da graça de 2011 a Primavera voltou. A vida renasce após cada ciclo. É feita de altos e baixos. A cada noite sucede sempre um dia. Na história do nosso planeta, sempre houve ciclos. A história do nosso País está repleta de exemplos que corroboram o descrito. Só falta saber se já batemos no fundo. No pior dos cenários ainda não atingimos o final da descida. Em qualquer dos casos a subida está à espreita e vai chegar. Basta ter a oportunidade de não desesperar.

O papel dos governos deveria ser o de regular, promover nos períodos de necessidade, corrigir as contas nos tempos de “vacas gordas”, infelizmente, nem para isso servem…

segunda-feira, 21 de março de 2011

Banksters

 

Como otimista tenho alguma dificuldade em identificar-me com o espírito de velho do Restelo vigente desde há séculos no retângulo. Somos excelentes no escárnio e maldizer. Somos ainda melhores a condenar tudo o que se faz, não importa o quê. Não conseguimos aprender com os erros, não temos atitude proativa. Vamos sempre a reboque. Desde a entrada para a UE, passámos de 100 km de auto-estrada para 4000km, não se passa nada. Temos das auto-estradas menos circuladas do mundo, não se passa nada. Não conseguimos recuperar na totalidade a linha do norte, não se passa nada. Desde há décadas que o caminho-de-ferro só é notícia devido ao encerramento de mais um ramal. Cai o Carmo e a Trindade e toda a gente fica chocada quando se tenta iniciar a construção de uma linha moderna em bitola europeia, que pode ser o investimento mais importante e estruturante feito por cá desde a Auto-Europa. A Europa tem uma rede fantástica de caminhos-de-ferro e nós orgulhosamente sós, não aderimos à bitola europeia, que poderia acabar com o anacronismo de fazermos as nossas trocas quase apenas por camião. Os nossos portos não são explorados no seu potencial porque não estão ligados à Europa por caminho-de-ferro. Toda a gente embarca nas notícias interesseiras transmitidas cá pelo burgo, com apoio dos beneficiários desta triste situação.

A pujança de uma língua vem não de ser estática, mas de responder aos novos desafios. Um língua viva não vive de saudosismos, mas da necessidade e interesse que as pessoas tenham nela. Não podemos pensar que a Língua Portuguesa é só nossa, porque a ser assim a breve trecho nem nós a queremos falar. Uma língua falada por variados povos, deve receber influências de todos os que a falam. Deve contribuir para o desenvolvimento de um sentimento de pertença comum. Tem que ser capaz de se antecipar aos acontecimentos e em caso de necessidade criar novos termos para definir novas ocorrências. Cito como exemplo de língua viva o Inglês que em tempos criou o termos “gangsters” para definir os membros de um grupo violento e fora da lei, agora criou um novo que define bem estes tempos conturbados, “banksters”, creio que define bem o sentimento geral de quem sente na pele as consequências de se ter deixado um grupo tomar conta dos destinos do planeta, grupo esse que é amoral, interesseiro, incapaz de ver para além dos balanços e dos lucros momentâneos. Quando esse grupo tomou conta dos governos de todo o mundo ocidental e formatou as consciências de todo um povo que numa geração, esqueceu a história que lhes permitiu chegar aqui. Quando uma sociedade se afunda, toda a gente vê, ninguém faz nada. Parecemos a orquestra do Titanic, a tocar até ao navio submergir. Quando tanta gente se mostra contra o acordo ortográfico, apenas porque incorporamos novas grafias e deixamos de ser os “donos” da Língua Portuguesa, eu respondo, fiquem com a velha, já agora, à braseira com uma manta sobre os joelhos, a recordar os “bons tempos” nos idos de 50 e 60, quando um célebre beirão ciciava os caminhos da moral e dos bons costumes. Eu por mim apenas digo, já há muito que fazia falta esta pedrada no charco. Eu voto pela língua do mundo, todos iguais e todos diferentes. Ainda me vou rir quando alguns dos “velhos” se afirmarem donos do novo acordo e defenderem que foi a língua que nos tirou do marasmo e nos deu perspetivas de saída para o negrume da tempestade onde entrámos e não conseguimos vislumbrar uma saída…

sexta-feira, 18 de março de 2011

Neve

Contra todas as expetativas antes de decorrido o primeiro mês do ano da graça de 2011, fui agraciado com dois dias de neve. Com efeito sem que nada o fizesse prever transitei da entrada do grande Sahara para o nordeste transmontano. Difícil a primeira impressão. O meu corpo ambientado aos calores africanos estremeceu, a diferença superior a quarenta graus custou a suportar.

Duas semanas depois tudo estava normalizado. Para ajudar muito contribuíram os excelentes restaurantes desta terra. Vinhos aqui são-no com V maiúsculo. Não podemos esquecer que estamos em terras nobres, terras mães dos melhores vinhos portugueses. Aqui desde há séculos que a vinha e o vinho são tratados por gente habituada a trabalho árduo. Foi a primeira região demarcada do mundo.

Depois das temporadas de “lei seca” na Mauritânia e Mali, a estadia atrás-dos-montes não fica a dever nada, antes pelo contrário, aos bons momentos.

Já há algumas semanas que podemos assistir ao espetáculo grandioso das amendoeiras em flor. Só visto.

Terra de rocha dura, de vales cavados, de nevoeiros perenes. Terra de vistas deslumbrantes. Terra da posta mirandesa…

domingo, 9 de janeiro de 2011

Início ou Fim (?)

Ao som dos lendários Emerson, Lake & Palmer, acompanhados pelos muitos grasnidos dos bicos & penas que nos rodeiam. Num escritório ao ar livre, em meio a um jardim frondoso, a uma piscina convidativa, a um bar qual ilha no oceano. Observando patos-mudos comedores de rãs. Com lagartos corredores comedores de insectos, literalmente aos nossos pés. Numa manhã fresca. Impus-me um balanço. Destes (quase) 90 dias, em terras malianas.

Após visualizar todos os dias o imponente aparecimento do Sol, decidi hoje, domingo, registar em imagens a chegada da luz. Às 6h52m, iniciou imparável ascensão rumo ao zénite. Só que entre o Rei e a câmara estacionaram umas nuvens. Sessão semiperdida. Mesmo quando tudo está planeado, nem sempre o desenvolvimento é o desejado.

A claustrofobia começa a fazer-se sentir. Segurança “oblige”.

Hoje é dia de referendo no Sudão, maior país de áfrica. O sul vai votar a independência do norte. Pode estar a caminho a 54ª nação independente do continente. Em caso afirmativo mais fronteiras irão mudar. Todas as fronteiras são artificiais, mas algumas são mais artificiais que outras…

Aqui pude confirmar que o melhor de cada país é o seu povo. O pior infelizmente é quem o governa…

Os trabalhos na estrada começam a fazer-se notar, embora ainda longe do ritmo necessário.

Vi hoje a 200 metros da minha habitação um rasto de serpente com uma boa mão-travessa de largo, segundo o militar que me acompanhava, era ainda recente e duma variedade bastante perigosa…

Consigo identificar muitos dos que rodeiam pela etnia a que pertencem, não consigo falar as muitas (mais que na europa) línguas locais. Mas consigo dizer Maiden aos tuaregues, Am-sokhoma aos bambaras, Jamúaili aos pulares, Salam Alekum aos árabes, Ashtarevic aos hassanians, tantas outras há para aprender… Só não sei ainda se as irei aprender…

O Mali é habitado por um dos povos mais dóceis que alguma vez me foi dado a imaginar. A grande maioria é completamente submissa. Mas somos excelentemente recebidos. Há expressões faciais que não podem ser forjadas…

Assim em jeito de conclusão posso afirmar que a minha liberdade é-me cada vez mais querida. De movimentos, de pensamentos, de decisões.

Há momentos perdidos que nunca mais se recuperam, ontem foi o concerto de reis, do Phydellius, estive ausente fisicamente, estive presente em espírito. De certeza que foi uma grande noite. Há trilhos que só podem levar ao sucesso.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Ano Novo!

2010 Morreu. Viva 2011.

Li algures que às 23h59m do dia 31 os portugueses fizeram votos para 2011 ser o melhor ano das suas vidas, às 00h00m e 30s perceberam que 2011 será o pior ano das suas vidas.

Entrei em 2011 aqui no Mali, com um misto de esperança e desilusão. Esperança por melhores dias, desilusão pelo rumo actual das nossas sociedades.

O tempo, por aqui ajuda ao bem-estar, céu nublado, 23 graus de temperatura, a passarada a chilrear…

Em tempo de incertezas, grandes esperanças deverão sobrepor-se à desilusão, sob pena de entrarmos numa espiral de negativismo que só pode acabar mal.

Claro que a continuarem as actuais politicas, só pode mesmo acabar mal…

Por aqui, é engraçado verificar que se uns 90% da população são muçulmanos, não são intolerantes como noutras paragens. Têm um misto de curiosidade, ingenuidade, subserviência. Sentimo-nos bem acolhidos. Somos respeitados.

Uma calmaria idílica, espessa, abraça-nos. Devido aos excessos cometidos no final do ano passado Morfeu entorpece os sentidos. Uma brisa desperta-nos.

2011 Vai ser um ano de excessos, uma grande capacidade de iniciativa e liderança torna-se urgente.

Estamos numa encruzilhada. Se tal significa que temos vários caminhos à escolha, também exige de nós a capacidade de escolher e não apenas de seguir a onda. Não é tempo de politicamente correcto, é tempo de decisões.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Dia de Barbeq

O dia amanheceu radioso. Depois de assistir ao Nascer do Sol tantas centenas de vezes, por estes lados, ainda não consigo deixar de apreciar cada momento. Continuo a perder o fôlego a olhar para aquela bola imensa, vermelha, que começa por inundar o céu oriental e sobe, sobe sem parar, à medida que o vermelho fica laranja, o laranja fica amarelo, a imensa bola de fogo diminui de tamanho, a intensidade da sua luz rápido torna este deleite para os olhos num exercício doloroso. É então tempo para olhar os campos imensos inundados de luz, prontos para mais umas horas de canícula. Escutar os cantos de tantas aves. Ver as pessoas nas suas tarefas diárias. Tudo começa com os primeiros raios de sol de cada dia.

Ontem tivemos a ceia de Natal, caviar, salmão, para iniciar as hostilidades. Um pato deu a vida para nos satisfazer as papilas gustativas. Bom vinho de Bordeaux. Hoje churrasco brasileiro desde manhã cedo. Muita Castel.

💚💔

Carta aos mortos Amigos, nada mudou em essência. Os salários mal dão para os gastos, as guerras não terminaram e há vírus novos e terríveis,...