terça-feira, 16 de abril de 2013

A Barra do Dande


Chegou finalmente a hora da partida. O dia amanheceu chuvoso. E veio a dúvida, vamos ou não. Claro que fomos. E ainda bem. A distância em termos angolanos não é grande, apenas 230 km. Três horas de viajem. As estradas carregam as marcas da estação das chuvas. Tem buraco que engole carro. O terreno segue em suaves ondulados. Capim de três metros, verde brilhante. Quase engole a estrada. Pedimos direcção à BET (Brigada Especial de Trânsito) que solicitamente nos indicou caminho. Os embondeiros começaram a rarear. Luanda lá estava imensa. Cidade sem fim. Descemos para Cacuaco, depois a Barra do Bengo. Acabaram as árvores. Depois só palmeiras e erva seca e rasteira. Como tudo muda em tão poucos quilómetros. Finalmente a Barra do Dande. A animação ia alta. Entrámos na povoação. Não podia ser assim tão mau e ter umas seis ou sete esplanadas, grandes. Algo se passava ali. Fomos fazer reconhecimento. Atravessámos a ponte, prá outra margem. Praia linda palmeiras até 10 metros da água. Baía linda. Ondas de 30 cm. Água quentinha. O dia prometia. Voltámos. Muito peixe a secar, como na Nazaré. Fomos ao morro da administração. Horizonte sem fim. O Atlântico sempre lá. Mas o que primeiramente ali nos levara, fora a promessa do peixe mais fresco que já viramos. Baixámos à povoação. Abancámos na esplanada que mais nos encheu os olhos, que embora não comam, sempre comandam alguma coisa. Começámos com umas gambas, assim tipo camarão tigre sem listas, grelhadas. Atacámos a garoupa, que festim para as papilas gustativas, que tão maltratadas têm sido. Olhámos para umas lagostas lindas de morrer. Passámos a uns linguados, que para caber na travessa tiveram de ser cortados ao meio. Terminámos com uns chocos divinais. Acompanhamentos à altura, mandioca, banana, feijão de dendém e farinha. A Sagres e a Cuca fizeram as honras às cervejas e o Casal Garcia matou a sede a quem o quis beber. Como é hábito nestas terras, um scotch com muito gelo ajudou a simultaneamente baixar e subir a temperatura. O restaurante encheu mais de uma vez. Os clientes quase todos portugueses. O preço, uma agradável surpresa. A anfitriã simpatiquíssima. O quizomba animou os espíritos. O dia afinal terminou radioso. Há caminhos que têm de ser percorridos. A Barra do Dande (ainda) não é um luxo, mas a frescura do peixe que se lá come é!

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