Dezassete
Nevoeiro na Serra
Na lezíria estio abafado
Acontecimento na terra
Leves fatos de gala
Jovens sorridentes
Flores na sala
Dia inolvidável
Sardinha assada
Todos com ar saudável
Família em coro
Cantou-se o fado
Bailou-se com decoro
Dia assim não voltou
Conta o que sentes
Quem assim amou
Tantas agruras passadas
Alegria infindável
Situações delicadas
Estes escritos representam acima de tudo estados de espirito. Dia a dia de um português em Portugal
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Tudo bem, ou nem por isso.
10 de Agosto de 2009, segunda-feira. Hoje foi um dia marcante para mim. Por um lado estou contente porque o trabalho correu bem. A terraplanagem está em bom ritmo. O betão anda bem. Está tudo em velocidade de cruzeiro. Não é pelo que fazemos agora que a obra está atrasada. Devido às grandes chuvadas do dia 30 de Julho, alguns problemas ficaram expostos. Com a chegada do Sr. Niang, praticamente tudo ficou esclarecido. Aceitou quase todas as nossas propostas. Significa que eram boas… Vi hoje um espectáculo impressionante. A transumância em todo o seu esplendor. Regressaram a Gouraye cerca de 500 vacas. O que tem isso de especial? Apenas o facto de terem que atravessar o rio Senegal. A nado. Com alguns homens a nadar lado a lado com o gado. Também alguns barcos ladeavam o conjunto. Só visto. Segundo me informaram, todos os anos gado mauritano é deslocado para o Senegal e Mali na época da seca, regressando durante a chuva. Este dia fica também marcado pela notícia que o Peace Corps vai encerrar as suas actividades na Mauritânia. Se este facto poderia ser antecipado, pelo facto de não haver novos voluntários este ano. Pelo problema dos vistos para os cidadãos norte-americanos. Pelo assassinato de um americano em Nouakchott, durante o mês de Julho. Pelo acto eleitoral aqui vivido também no mês passado. A gota de água terá sido o atentado suicida frente à embaixada francesa na capital mauritana. Foi com surpresa que soube, pelos meus amigos da sua evacuação para Dakar. Senti aquilo que sentiu um grupo de jovens que abandona tudo, para vir para uma terra distante, em condições bastante difíceis, que é confrontado com uma situação para a qual em nada contribuíram, mas que serão eles a sofrer as consequências. Tinham ainda um ano pela frente e aparentemente de forma abrupta, terminaram aqui a sua estadia. Também eu deixo de poder conviver com um grupo que me ia ajudando na minha estada. Bem-haja, Shelby, Emily, Tim, Tabatha, Sari e John. Vamos ver o que isto vai dar.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Verde e água
6 de Agosto de 2009, quinta-feira. A metamorfose sofrida por esta terra nos últimos dias foi qualquer coisa que mesmo para um “veterano” impressiona. Vêem-se campos pintados de verde, em vários tons, desde o claro-quase-amarelo da erva recém cortada, ao verde-turquesa e mesmo o verde-oceano de pastos a perder de vista. Juntam-se nesta sinfonia verde as árvores, cada qual com o seu verde. Não deixa de ser curioso numa terra situada na entrada do deserto poder apreciar tantos verdes como não sabíamos existir. Este êxtase verde vai ainda durar até perto do final de Setembro. Por essa altura toda a paisagem repentinamente altera a cor, como se tudo fosse combinado. O outro factor aparentemente fora de contexto nesta paisagem é a presença de água. Existe tanta e por todo o lado. Os sinais de sua presença extravasam no entanto os locais onde ela resta tranquila, pois a forte chuva que caiu nos últimos dias deixou marcas. Vedações derrubadas, postes de telefones caídos, estradas rasgadas como se foram papel. Estivemos isolados da Mauritânia entre quinta-feira e terça-feira, altura em que Garfa mostrou quão impressionante pode ser, não deixando ninguém passar. É por estes dias que os nómadas deixam o Guidimaka e voltam às suas terras, não sei se é mais impressionante ver no séc. XXI, pessoas partirem de burro e camelo com toda a tralha às costas, ou ver a quantidade de animais que “fazem parte da família”. Hoje vi-me no meio de uma manada de vacas com uns milhares de cabeças, parecia que estava no faroeste, num filme de cowboys.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
É tão doce, a vida
É tão doce, a vida
Existe lá algo mais doce que um chocolate?
Mais doce que uma ginginha?
Mais doce que uma fatia parida?
É tão verde, a vida
Existe lá algo mais verde que um prado?
Mais verde que um jardim?
Mais verde que a esperança sentida?
É tão bela, a vida
Existe lá algo mais belo que uma criança?
Mais belo que o mar?
Mais belo que uma tela colorida?
A vida acorrenta e liberta
É quente e fria
Deixa sempre uma porta aberta
É noite e é dia
É amor e desamor
É tudo e é nada
É espinho e é flor
É bruxa e é fada
Existe lá algo mais doce que um chocolate?
Mais doce que uma ginginha?
Mais doce que uma fatia parida?
É tão verde, a vida
Existe lá algo mais verde que um prado?
Mais verde que um jardim?
Mais verde que a esperança sentida?
É tão bela, a vida
Existe lá algo mais belo que uma criança?
Mais belo que o mar?
Mais belo que uma tela colorida?
A vida acorrenta e liberta
É quente e fria
Deixa sempre uma porta aberta
É noite e é dia
É amor e desamor
É tudo e é nada
É espinho e é flor
É bruxa e é fada
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Aqui estou eu
Aqui estou eu, absolutamente perdido
Espero por um sinal teu
Um olhar, um pestanejar, um sorriso fingido
Para desespero meu
Aqui estou eu, a nadar no deserto
Isolado de tudo
Tudo, tão longe e tão perto
Cada vez mais sisudo
Aqui estou eu, só com minha alma
Escutando todas as cores do mundo
Por mais que mantenha a calma
O meu espírito voa cada vez mais fundo
Aqui estou eu, na companhia das minhas memórias
Ouvindo músicas maravilhosas
Recordando todas aquelas histórias
Especialmente as perigosas
Aqui estou eu, congelando neste calor
Cansado de nada fazer
O coração bate com ardor
A cabeça a doer
Espero por um sinal teu
Um olhar, um pestanejar, um sorriso fingido
Para desespero meu
Aqui estou eu, a nadar no deserto
Isolado de tudo
Tudo, tão longe e tão perto
Cada vez mais sisudo
Aqui estou eu, só com minha alma
Escutando todas as cores do mundo
Por mais que mantenha a calma
O meu espírito voa cada vez mais fundo
Aqui estou eu, na companhia das minhas memórias
Ouvindo músicas maravilhosas
Recordando todas aquelas histórias
Especialmente as perigosas
Aqui estou eu, congelando neste calor
Cansado de nada fazer
O coração bate com ardor
A cabeça a doer
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Liberdade
3 de Agosto de 2009, segunda-feira. E se afinal a vida terrena for tudo o que há. Se quando fecharmos os olhos pela última vez, for mesmo de vez. Se não existir o Éden. Se for esta a vida que temos para viver. Se esta existência for O TUDO. Imaginemos que assim seja. Quantos de nós viveriam a vida que vivem, se fossem sabedores desta verdade? Quantos de nós seriam mais egoístas? Quantos de nós aceitariam os dogmas, que tantos nos impingem? Por outro lado, quantos saboreariam a vida com todos os sentidos alerta, aproveitando o que há para aproveitar? Não sei se a vida seria mais ou menos suportável. Se seria mais agradável. Se seria intragável. Sei que seria vivida com verdade. Cada um sabendo que ISTO é o que há. Não vale a pena esperar por recompensas, perdões, comendas ou ilusões. Se cada um tivesse consciência que este é o nosso paraíso, provavelmente não desperdiçaria energias ouvindo discursos teleguiados, que apenas nos condicionam. Que apenas pretendem controlar o rebanho. Por mais que berrem, que nos queiram iludir, não deixarei de ser livre. Ser livre implica poder escolher o caminho. Mesmo que seja o pior. Dessa liberdade não abdico.
domingo, 2 de agosto de 2009
Vida
A questão que nos todos nos colocamos
Que gostaríamos de ver esclarecida
A resposta que todos ansiamos
Qual é o sentido da vida?
Nas horas de dor
Quando há uma amigo de partida
As dúvidas assaltam-nos com fragor
Qual é o sentido da vida?
Quando um choque nos desperta
Para a realidade sofrida
Olhamos a estrada deserta
Qual é o sentido da vida?
Não há longe nem distância
Nem porta de saída
Quando perguntamos com ânsia
Qual é o sentido da vida?
Alegrias, amarguras, amores, desamores
Sensações de fugida
Pedreiros, engenheiros ou doutores
Qual é o sentido da vida?
Será que se fizermos ao menos um amigo
Daqueles do coração
Como um vulcão em erupção!
Fará a vida sentido?
Que gostaríamos de ver esclarecida
A resposta que todos ansiamos
Qual é o sentido da vida?
Nas horas de dor
Quando há uma amigo de partida
As dúvidas assaltam-nos com fragor
Qual é o sentido da vida?
Quando um choque nos desperta
Para a realidade sofrida
Olhamos a estrada deserta
Qual é o sentido da vida?
Não há longe nem distância
Nem porta de saída
Quando perguntamos com ânsia
Qual é o sentido da vida?
Alegrias, amarguras, amores, desamores
Sensações de fugida
Pedreiros, engenheiros ou doutores
Qual é o sentido da vida?
Será que se fizermos ao menos um amigo
Daqueles do coração
Como um vulcão em erupção!
Fará a vida sentido?
Regresso
2 de Agosto de 2009, domingo. De regresso à Mauritânia e à escrita. Muito se passou desde a última vez que me sentei frente ao meu PC. Voltei a casa, numa altura em que desesperadamente precisava. Felizmente por lá está tudo bem. Cheguei a África na quinta-feira, quando desabou o céu sobre o Guidimaka. Em Selibaby foram 120 mm. A dez quilómetros de Bakel, fiquei retido por cerca de 12 horas. Apenas às 7 da manhã de sexta-feira foi possível atravessar. Se em Julho de 2008, quando regressei de Portugal, tal como agora, uma ponte e uma passagem hidráulica caíram, devido a uma chuvada equivalente a esta e quanto a isso não haverá muito a dizer, pois a quantidade de água é incomensurável e não é fácil conciliar orçamentos de doadores com verdadeiras necessidades no terreno. Não posso conceber que se deixe uma cidade como Bakel completamente isolada do resto do país por um ano inteiro. E isto num dos países onde alguma coisa ainda funciona… Para chegar a Selibaby foi uma aventura, com final feliz. A chuva veio-nos mostrar algumas (poucas) deficiências do nosso projecto, que com um pouco de engenho serão corrigidas e poderemos orgulhar-nos do que iremos aqui deixar. Se os humanos me receberam bem, a grande recepção que me foi dada, foi a do Xapi. Foi impressionante! Não sabia dele. Assobiei. De repente vindo não sei de onde, apareceu ele, enorme. Elegante. Já não é o cachorro que eu conhecia. Agora é um animal adulto, no auge das suas faculdades. No entanto veio ao meu encontro, saltou, como querendo saltar-me para o colo. Chorando, como uma pessoa que abandonámos, que no reencontro tudo perdoou mas… não esqueceu. Fez questão de me demonstrar isso mesmo. A estadia aqui é penosa. Só penso em ir embora. Os acontecimentos do mês passado entraram de rompante na minha vida, sem pedir licença. Fui completamente atropelado. Estou quase a completar dois anos aqui. Até hoje nunca me custou tanto estar nesta terra esquecida como agora. O que vale é que regresso a casa no inicio de Setembro. Mas reparei que tenho uma sombra nos olhos que não irá desaparecer facilmente.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
In Memoriam
Rajadas de vento inesperadas
O ar sufocante a ameaçar trovoadas
Dia de sol envergonhado nas estradas
Rios alterosos de torrentes enlameadas
Invios caminhos para gentes avisadas
Guarda o som das crianças assustadas
Ouve o silêncio das palavras caladas
Barcos cruzam mentes viajadas
Almas tristes e zangadas
Ruas bordejam portas fechadas
Recordações de situações atribuladas
Altas expectativas sonhadas
Dias felizes de estórias engraçadas
Armas em riste preparadas
O ar sufocante a ameaçar trovoadas
Dia de sol envergonhado nas estradas
Rios alterosos de torrentes enlameadas
Invios caminhos para gentes avisadas
Guarda o som das crianças assustadas
Ouve o silêncio das palavras caladas
Barcos cruzam mentes viajadas
Almas tristes e zangadas
Ruas bordejam portas fechadas
Recordações de situações atribuladas
Altas expectativas sonhadas
Dias felizes de estórias engraçadas
Armas em riste preparadas
Salve ó Barradas
domingo, 5 de julho de 2009
Tempestade de Areia
A tempestade de areia que passou por aqui na quarta-feira à noite foi assustadora. Estas fotos foram tiradas a janela do meu quarto. Dão uma ideia do que foi. Primeiro uma nuvem enorme, como uma onda, depois o ar muda de cor, torna-se laranja. Começamos a ficar com uma visão destorcida dos objectos, mesmo os mais próximoa. Temos então uma visão do dia do juizo final, quando o ar ficou vermelho. Na última temos uma ideia da velocidade do vento. De notar que muitas vezes às tempestades de areia segue-se chuva, o que não foi o caso desta vez.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Deserto
Perdido no deserto
Horizontes infinitos
O longe aqui tão perto
E presos e aflitos
Miragens longínquas em qualquer direcção
No sol abrasador
Requerem toda a atenção
Os olhos a perscrutarem tudo em redor
Livre mais livre não há
Aqui não há perto
Vês uma águia acolá
Será aquele o caminho certo?
Podes ir por onde te apetecer
Ninguém te impedirá decerto
Parte! Basta querer
Irás sentir um aperto
Como sempre acontece a quem pode decidir
A (in)certeza mora por perto
Novo alento irás sentir
Perdido no deserto
Horizontes infinitos
O longe aqui tão perto
E presos e aflitos
Miragens longínquas em qualquer direcção
No sol abrasador
Requerem toda a atenção
Os olhos a perscrutarem tudo em redor
Livre mais livre não há
Aqui não há perto
Vês uma águia acolá
Será aquele o caminho certo?
Podes ir por onde te apetecer
Ninguém te impedirá decerto
Parte! Basta querer
Irás sentir um aperto
Como sempre acontece a quem pode decidir
A (in)certeza mora por perto
Novo alento irás sentir
Perdido no deserto
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