domingo, 9 de junho de 2013

Voo


Havia magia no ar. Sentia-se a cada inspiração. O céu vermelho. A brisa constante que estacou subitamente. Os chilreios inaudíveis. Sentia-se parte de um quadro, só não identificava qual… Reconhecia cada detalhe. Mais um esforço de memória e nada. Sentia que estava a ser testado. O silêncio que o acompanhava normalmente nas mais estranhas situações não faltava, dando-lhe uma sensação de segurança. Inspirou fundo. Fechou os olhos. Começou a reconstruir cada detalhe. Como chegara ali. Que estranha sensação de bem-estar lhe chegava desde o chão, o calor subia ruborizando as faces. Caminhara tanto para ali chegar. Ultrapassara tantos obstáculos. Desligou os sentidos, numa tentativa para isolar-se da envolvência. E foi então que compreendeu. Sorriu. Voltou a abrir os olhos. Pássaros de todas as cores e tamanhos irromperam num esvoaçar ébrio, em todas as direções sem nexo algum. Chilreios, grasnados, pios. Estava no ponto mais alto do céu. Escolheu a presa. Inspirou fundo, fechou as asas e iniciou voo picado, rápido atingiu os 300 km/h, não havia fuga possível. Quando o pobre pombo foi atingido, nem se tinha apercebido ainda da presença do mais rápido voador natural do planeta. O “Falco peregrinus”, falcão peregrino tranquilamente voava em direcção ao ninho, onde era aguardado efusivamente pelos filhotes…

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