Hoje tive a confirmação
confirmada. Sou um bicho-de-mato. Bicho mesmo. Há já algum tempo que faltava
completar um levantamento de uns terrenos que vão ficar submersos. Fui. O
pessoal estava desconfiado. Como só me viam no gabinete, pensavam que eu era um
brancolas de cidade. Fomos buscar o Soba da Terra Nova. E descemos para as
lavras. O caminho foi complicando. A partir de determinada altura as catanas
tiveram que entrar em acção. Encontrámos um trabalhador que estava a cortar
mato numa lavra de mandioca, foi connosco. Seguimos pela margem do rio, em
precários equilíbrios. Depois o mato fechou até ficar intransponível. O Soba
continuou rio adentro, água pela cintura, eu segui-o, os outros ficaram de boca
aberta e foram dar uma grande volta. Tive que esperar quase meia hora pela sua chegada.
Já me olhavam com outros olhos. Completámos o trabalho. Transpirei como um rio.
Já nem sabia distinguir o molhado do transpirado. Comi massangue, parecido com
o gib-gib da Mauritânia, dendém e mamão. Encontrei bissap, que aqui se chama
ozélia, hibiscus sabdariffa L. Já não
via isto desde a Mauritânia, gosto muito, é agradável e ainda por cima faz
muito bem, baixa a pressão arterial e tem muitas vitaminas e antocianinas. Cheguei
a casa quase às três da tarde. O refeitório estava fechado. Fui a casa mudar de
roupa e tomar um duche. Não havia água. Fui ao escritório e acabei o desenho.
Desci para jantar com um sorriso nos lábios. Há dias felizes!
Estes escritos representam acima de tudo estados de espirito. Dia a dia de um português em Portugal
segunda-feira, 27 de maio de 2013
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