segunda-feira, 8 de abril de 2013

Sinto-me incompleto


Incompleto

 

 

Sinto-me incompleto.

Perguntareis por certo por que me assomou tal sentimento.

Que ideia será essa de se sentir incompleto?

Perguntais bem. Não é usual tal sentimento dominar alguém, a ponto de se destacar, a ponto de merecer honras de título.

Mas como poderei expressar o que me vai na alma, se de facto incompleto é como me sinto.

Li algures que “Podes ir longe só com as pernas, mas se usares a cabeça podes ir mais longe”. Concordo em absoluto.

Quando vemos a civilização que a europa construiu nestes últimos séculos, prestes a ruir quando estava tão próxima de conseguir o que apenas tinha sido imaginado. Quando o sistema democrático está a pontos de ser implementado em quase todo o planeta, por pressão europeia, vemos que em apenas duas ou três gerações a degeneração dos líderes políticos atingiu um grau inimaginável. Quando atingimos uma sociedade “quase” laica, após séculos de jugo religioso, vemos meio mundo prestes a iniciar uma guerra religiosa. Quando a tecnologia chega a quase todo o mundo, permitindo a realização de tarefas quase impossíveis há poucos anos, meio mundo deixa de ter acesso a ela por ter perdido o emprego. Quando os bancos, após quarenta anos a subornar os políticos, conseguem a “desregulamentação” dos mercados, de um modo quase absoluto, como sempre desejaram, destruíram a economia como na grande depressão. Quando os jovens têm acesso à educação, não conseguem emprego. Quando conseguem, ganham o salário mínimo. Quando temos finalmente acesso à saúde, os hospitais começam a fechar.

“Que vida é esta, amigo?”

Só me faz lembrar que estamos a cozinhar o jantar que sempre sonhámos e quando já cheira, a mesa está posta, a conversa está maravilhosa, ouvimos alguém dizer “acabou o gás!”

Sinto-me incompleto.

Ou será Anacleto?

Talvez analfabeto…

É mesmo incompleto!

Quando sabemos que os offshores vampirizam por completo a economia e não os fechamos…

Quando os bancos ganham mais a especular que a financiar a economia e os deixamos continuar…

Quando os políticos não são responsabilizados pelo resultado das suas ações…

Quando temos um País à míngua e deixamos nomear milhares de “Boys”…

“Quando Vemos, Ouvimos e Lemos, não podemos ignorar!”

E é aqui que queria chegar!

Quando tantos têm acesso a tanto e deixamos tudo ir pelo cano abaixo, algo não bate certo. Só pode ser porque embora tenhamos acesso a tanto, não usamos a cabeça para pensar. Não é à toa que a moda é ouvir os comentadores. Nunca houve tantos comentadores. Ele é comentadores na TVI, na SIC, na RTP, nos jornais, nas rádios. Pagos a peso de ouro. Para nos dizerem aquilo que queremos ouvir. Ou aquilo que pensamos que queremos ouvir. Ou aquilo que querem que pensemos que queremos ouvir.

Porque sempre as conversas de escárnio e mal dizer fizeram sucesso no nosso retângulo, ouvimos os comentadores zurzirem em todos que contam e nós batemos palmas.

Os comentadores têm tanto mais audiência quanto mais pauladas afinfarem. Quanto maiores as audiências mais eles ganham. Mais palmas nós batemos.

 

Sinto-me incompleto!

É paradoxal como o sentimento de segurança corrompe as pessoas. Enquanto temos algo a perder não damos um passo. Depois de perder tudo vamos à guerra. Quando vivemos em ditadura arriscamos a vida pela democracia, quando vivemos em democracia, preferimos a novela e o futebol.

Se tivéssemos aprendido algo com a natureza, seria que nunca devemos baixar a guarda, nunca podemos contar com nada garantido.

“Inquietação, Inquietação”

Ficámos moles, só queremos jogar, somos crianças velhas. Ou velhos crianças. Como quiserem.

Sinto-me incompleto!

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