Pela
segunda vez africanizo os meus natais. Se há dois anos tal não
significou presença em quentes terras por mais que breves semanas,
desta vez se quero arrefecer só com ar condicionado ou alguma EKA.
Nesta
paragem celebrativa sobra tempo para colocar o relógio biológico em
“modus africanus”. Uma forma mais apreciativa das
envolvências. As noites aqui (por enquanto) são espectaculares.
Agradáveis, quão podem ser após os abrasivos dias. Convidativas de
lunares descobertas conversativas. Aqui empancados, tal qual eu,
estão equatorianos, peruanos, colombianos, dominicanos, brasileiros
e angolanos, cada qual à descoberta das tradições, vocábulos,
crises alheias. Cada qual obluviando suas máguas, contabilizando os
dias em falta até voar até junto de quem lhes quer bem.
Dias
de descoberta de cheiros, provenientes dos vários capims e das
árvores só de nome conhecidas, cajueiros, jacas, dendéns...
E
as montanhas lá continuam chamativas...
Em
Cambambe visitei um forte que lembra o seguinte logo na entrada“ESTE
FORTE MANDOV FAZER O S D.JOÃO D LENCASTRO Q E CAPO DESTES RENOS ANO
D 1691”, este encavalita-se no promontório mais perto do
céu destas bandas, para além que permite avistar o rio cuanza até
às cercanias do Dondo, permitindo antecipar qualquer tentativa para
surpreender os ocupantes. As pedras utilizadas são as existentes no
local, Grés vermelho como o de Silves. Lá dentro uma igreja onde só
os tectos e os estuques se foram, continuando altaneiramente a marcar
o lugar, que diga-se de pasagem se encontra bem cuidado, limpo das
herbáceas que nesta época são omnipresentes. Ainda lá se encontra
uma lápide com a seguinte inscrição “AQUI JAZEM OS RESTOS
MORTAES DE ANTONIO DE MOURA SOARES E ANDRADE QUE NASCEO EM 12 DE
OUTUBRO DE 1786 E FALLECEO EM 2 DE MAIO DE 1846 FOI CAZADO COM D.
MATHILDE DA SILVA TEIXEIRA A QUAL EM SIGNAL DE GRATIDÃO E SAUDADE
LHE MANDOU ERIGIR ESTA CAMPA PARA ETERNA LEMBRANÇA”.
Por
lá ainda está um canhão da época, perdido no chão.
Fora
do forte há mais ruinas, que por ora estão cobertas por capinzal
com três metros o que não permite cuidada visita, terei que voltar
noutra estação.
Segundo
li este forte não foi o inicial, pois em 1604 os tugas chegaram a
estas paragens tendo construido um forte, não longe deste, no
entanto ainda não visitei.
A
vila de Cambambe corresponde ao casario construido na época da
barragem para alojar os trabalhadores da mesma. As casas com meio
século continuam orgulhosas na fantástica paisagem e bastam umas
pinceladas, mais umas trocas de janelas para parecerem novas, não se
vislumbram rachas, nem defeitos construtivos. Bem haja quem tão bom
construtor por estas terras andou, os “patos-bravos” que
inundaram Portugal de prédios bem que podiam ter aprendido alguma
coisa...
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