Após quatro dias de boa vida em Bamako, chegou a aguardada deslocação para o local onde iremos passar dois anos. A viagem correu bem, os cerca de 400 km foram percorridos em seis horas. Podemos dividir a viagem em várias fases, os primeiros 30 km foram para sair de Bamako, a cidade é enorme. Desta vez deu para ver o movimento caótico do trânsito principalmente constituído por motorizadas chinesas, aqui ninguém dá a vez a ninguém e nos cruzamentos pode ser necessário algum sangue frio. Depois a paisagem mudou para um terreno ondulado com algumas colinas, afastámo-nos do Rio Níger. Pagámos a primeira portagem, não se trata de nenhuma auto-estrada nem SCUT, apenas uma estrada igual a tantas por aqui, com a diferença que tem portagem. Logo após entrámos numa zona de floresta protegida. Aqui durante umas dezenas de quilómetros vemos árvores até onde a vista alcança, muitas de grande porte. Depois entramos na região de Ségou. É uma região de pouca actividade agrícola. Ségou tem uma variante com duas vias em cada sentido com uma extensão de quatro ou cinco quilómetros, não entrámos na cidade. Uns dez quilómetros depois cruzámos de novo o Níger, desta vez para norte, numa ponte açude que representa o inicio do Canal do Sahel. Este com uma extensão de perto de 200 km, permite a cultura de milhares de hectares de arroz. A nossa estrada começa bem no final destes campos imensos. Até lá só vemos água e arroz. Como o clima aqui é quente todo o ano podemos ver arroz em todas as fases de crescimento, desde a sementeira à colheita. Em Niono, principal povoação do Canal, termina o asfalto e esperam-nos uns simpáticos militares, que nos irão acompanhar por todo o lado, Não por ter havido problemas por aqui, mas para que não os haja. As povoações seguem-se umas às outras, de terra batida e junto ao canal. Por aqui ou se cultiva arroz ou se parte em busca de sorte diferente. Uma outra companhia recupera estes quilómetros de estrada, da estrada de Tombuctu. Pensei algumas vezes, por que carga de água haveria um hotel por aqui. Que hotel seria? Num misto de curiosidade e apreensão chegámos. As primeiras impressões são francamente positivas. Um espaço arborizado. Piscina envolta por um relvado. Flores. Um bar. A fome era muita pois não comíamos desde o pequeno-almoço. Umas entradas frias. Caprichadas. Um bife tenro e suculento. Uma cerveja Castel gelada no bar. As sombras imensas refrescando um pouco a canícula. Grasnidos desconhecidos, vindos de pássaros estranhos. Um hotel procurado por caçadores. No que resta de uma propriedade colonial. Quando as casas se faziam para durar. Muitos patos mudos, as mães cuidando de suas ninhadas. Gente calma. Um ambiente de final de verão. Sitio perfeito para quem queira carregar as baterias para mais um ano de vida desgastante na grande cidade. Estamos a uma vintena de quilómetros do começo da nossa obra, onde termina o Canal do Sahel, em Goma Coura. Estamos no reino de sua majestade o arroz. Todos os canais que abastecem de água estes campos estão prenhes de peixe. Para os miúdos é uma festa. Banhoca todo dia e peixe fresco à distância de um pouco de fio e um anzol. Esta será a nossa casa até termos a nossa base terminada. Resta-nos esperar pela chegada dos equipamentos. E começar a trabalhar. Enquanto isso à boa maneira africana esperamos pelo destino…
Estes escritos representam acima de tudo estados de espirito. Dia a dia de um português em Portugal
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