segunda-feira, 8 de junho de 2009

Saudades e eleições

8 de Junho de 2009, segunda-feira. Estou a cinco semanas de regressar a casa. É ainda muito tempo, mas simultaneamente prenuncia o regresso mais uma vez ansiado. Quando as saudades começam a apertar fica um nozinho na garganta que custa a engolir. Este fim-de-semana os meus putos deram-me uma grande alegria. Num concurso de instrumentistas, ambos se qualificaram para a segunda fase. A Inês em clarinete e o Xavier em violino. As notas de ambos estão bem e recomendam-se. Aí por Portugal pelos vistos o tempo é que nunca mais aquece, porque de resto é um ano de notícias que não param, embora a maioria por razões menos boas. Aqui ao contrário nunca mais arrefece. As novidades sendo menos são no mínimo curiosas, senão vejamos: Em Agosto de 2008, houve aqui um golpe de estado, com deposição do Presidente. O general golpista, que não foi reconhecido por muitos países, resolveu plebiscitar a sua posição como chefe de estado. Em Abril marcou eleições no prazo mínimo que a lei permite, 45 dias. Para poder concorrer teve que abdicar do cargo de Presidente e do de CEMGFA. Tudo muito bem. Colocou pessoas de confiança nestes cargos, curiosamente dois Pulares – etnia minoritária no país – e começou uma campanha devidamente preparada. A maioria da oposição nunca aceitou concorrer por considerar que o dito não poderia concorrer por inferir uma norma da UA a que curiosamente a Mauritânia havia ratificado em Abril de 2008 pelo presidente deposto, que dizia que quem fizer um golpe de estado não se poderá apresentar nas eleições seguintes. Também devido ao pouco tempo dado para se organizarem. Houve pressões de todo o lado. O homem não se comoveu. Três dias antes das eleições uma comissão que incluía elementos afectos ao presidente mais elementos da oposição, reunida em Dakar, acordou em adiar as eleições para 18 de Julho. Mais para este se poder candidatar havia que anular o golpe de estado. Como é que isso se podia fazer? Voltando a colocar no poder o Presidente deposto quase um ano antes, com a condição que o único acto do seu mandato seria pedir a demissão! Assim se fez. Moral da história: O tio do candidato golpista – que afinal já não é – candidatou-se também. Dir-me-ão, qual é o problema? O problema é que o tio foi quem fez o anterior golpe de estado em 2005. É também militar. Partilha os mesmos apoios. Pertence à mesma família, de facto e politica. Para além do mais é tio, né? Os oposicionistas também se vão candidatar. De repente o plebiscito já o não é. Aqui muitas pessoas apoiam quem pensam ir ganhar, desta forma poderão sentar-se à mesa da partilha. Onde é que eu já vi isto? Mas de qualquer modo aqui isto é mais verdade. A equação está muito complicada. Já não se fazem prognósticos. Em relação à meteorologia, podemos dizer que nunca mais chove. Começou cedo, a 13 de Maio, mas só repetiu a 15 do mesmo mês e daí para cá, nadinha de nada. Já vi vacas a comer os restos mortais de um burro! Comem cascas de árvores! Comem os seus próprios excrementos! A água é uma miragem. Para a obra está bem, os trabalhos avançam finalmente com um rumo próprio de quem quer acaba-la. Para a população local contudo perspectivam-se dias cada vez mais difíceis, se isso é possível. Por mais estranho que possa parecer a minha horta continua a fornecer frescos. Alface, rúcola, rabanetes, cebolas, beterrabas, beringelas, quiabos, chicória, salsa, hortelã, menta, alhos-franceses, tomates…

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