Estes escritos representam acima de tudo estados de espirito. Dia a dia de um português em Portugal
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Água
15 de Junho de 2009, segunda-feira. Passa pouco da meia-noite. À hora que escrevo estas linhas começou a chover, este facto só por si nada tem de especial, aparte estarmos no sahel, quase deserto. O que torna especial este momento é a capacidade que a natureza tem de construir destruindo!? Antes da chuva tivemos mais de uma hora de tempestade de areia, com uma quantidade de pó no ar, inimaginável. Para não falar da trovoada que já dura há mais de duas horas, primeiro ao longe, sem ruído, mas com uma cadência semelhante ao disparar de flashes quando alguma estrela de cinema se apresta a entrar pela passadeira vermelha numa noite de Óscares. Agora já bastante audível, para que, mesmo aqueles que não mostraram o respeito de ir ver o que se passa, ficarem a saber que a mãe natureza está aí, a fazer das suas. É de facto um espectáculo inolvidável. O ribombar dos trovões ecoa bastante próximo já. É o começo de uma transformação incrível que esta terra vai ter. As ervas vão brotar do chão nu e estéril. Em poucos dias tudo ficará verde. As pequenas colinas, guidimakha, em soninke, que dão o nome a esta região, ficarão com um aspecto maravilhoso. Os animais que sobreviveram à seca, voltarão a ter que comer. As crianças voltarão a nadar e a rir. Esquecerão por três meses, quão árida é esta zona. Por três meses não precisarão de fazer quilómetros para buscar água, pois têla-ão à mão todos os dias. Voltaremos a ver as roupas coloridas estendidas nas árvores para secar após a lavagem, que agora pode finalmente ser feita. É certo que a partir de amanhã teremos a companhia de milhões de insectos, contrapondo o quase vazio da estação seca. Cada dia serão diferentes. Aqui há muitas variedades de efemérides, insectos que estão no seu estágio adulto um simples dia. É verdade. Então num dia teremos milhões de bichinhos pretos, pequeninos e redondos, no seguinte uns maiores, oblongos e castanhos. A seguir serão uns perigosos que deixam uma marca que não se esquece, como uma queimadura. É certo que sair à noite passa a ser complicado, excepto quem não se importar em ter MUITA companhia. É também agora que o mosquito da malária recomeça a fazer das suas. Goste-se ou não é nesta altura que se gera vida para o resto do ano. Claro que vamos ficar isolados durante uns dias. Que iremos ficar atascados nalgum sitio. A lama substitui o pó. Mas os camponeses irão semear os campos. O gado vai engordar. Voltarão a chegar bandos de pardais e toda a sorte de aves. É agora que teremos a oportunidade de fazer aquela foto, tão ansiada. É a água. É a vida!
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