Já fui e voltei. Aconteci.
Esquentei. Absorvi.
De volta ao fresco africano, após
uns dias a queimar em Portugal. Tive a felicidade, na breve permanência
caseira, de poder assistir à estreia do documentário “RX” do João Luz.
Despretensioso. Despojado. Mesmo sem objectivos estéticos, como o realizador
assinalou, assinala um problema cada vez mais premente: Riachos tem futuro?
O presente é muito cinzento, em
todo o entorno de Riachos e também no seu interior, companhias que nos
habituámos a conhecer, fecham todos os dias arrastando famílias para situações
que não estariam nas previsões ainda recentemente, nos tempos áureos do “Centro
do Progresso”.
Se o motivo do João foi uma
reação à notícia da publicação pela CM Torres Novas da lista das obras do
Rodrigues, mostrando o que não foi feito em Riachos, a resultante pode ser
maior que o esperado. Se é verdade que o João é candidato à Assembleia de
Freguesia pelo BE e com a honrosa excepção do José Luís Jacinto (PSD) e António
Mário (PCP) os restantes mostraram falta de “fair play”, para dizer o mínimo,
também manda a verdade dizer que lançou uma questão que não pode ser
escamoteada, Qual o futuro de Riachos? Ao que eu acrescentaria, Será que
Riachos tem futuro?
Vejamos apenas factos. A Escola
Chora Barroso, quando abriu, há cerca de duas décadas tinha meio milhar de
alunos, hoje terá pouco mais de duas centenas e um futuro muito nublado a
prazo. Ruas há em Riachos com menos de uma dezena de habitantes, em que o mais
novo terá sete dezenas de primaveras. Se é verdade que os riachenses sempre
procuraram sustento fora de portas, isso significava há algumas décadas, Torres
Novas, Entroncamento, Alcanena, Lisboa, embora muitos conterrâneos tivessem
encontrado porto seguro em Paris, Amesterdão, Londres, Luanda, Lourenço Marques,
Macau. O que os novos navegadores têm à sua espera são os destinos longínquos,
os tradicionais que permitiam a vida caseira, já não têm essa capacidade. O
problema de Riachos então é similar, talvez mais pronunciado, às localidades
vizinhas, apanhadas num remoinho voraz que tudo suga. Se sempre partimos,
porque é isso agora um problema? Talvez porque ontem muitos saiam e muitos
ficavam. Hoje muitos saem e alguns ficam. Amanhã talvez muitos saiam e poucos e
velhos fiquem. Esse filme que parecia longínquo, já o vimos em milhares de
terras desse interior, completamente abandonado. Temos um país tão pequeno e
deixamos metade ao abandono…
Voltando ao “RX”, valeu pelo
alerta, pelas entrevistas, pelo empenho. Houve alguém que entendeu que a sua
terra merecia uma reflexão, isso nos dias de hoje já é alguma coisa. Não sou do
BE, não vou votar nas eleições autárquicas, pois estou em Angola, mas tenho de
reconhecer ao João a pedrada no charco. A vontade de provocar a discussão, que
tão arredia tem andado dos nossos hábitos, hoje por hoje mais voltados para nós
próprios, mais parecemos náufragos no meio do oceano, desejosos de ser ouvidos
mas incapazes de ouvir.
Tenho para mim que se é importante
embelezar a terra para aumentar a autoestima. Se as festas são tantas vezes
aproveitadas pelos “navegadores” para matar saudades e ver caras conhecidas.
Riachos só terá futuro se conseguir prover os seus. Como alguém já disse há
muito tempo, “it’s the economy stupid”. Ou
ter a sorte de algum dos seus vizinhos conseguir esse desiderato…
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