Hoje tive a confirmação
confirmada. Sou um bicho-de-mato. Bicho mesmo. Há já algum tempo que faltava
completar um levantamento de uns terrenos que vão ficar submersos. Fui. O
pessoal estava desconfiado. Como só me viam no gabinete, pensavam que eu era um
brancolas de cidade. Fomos buscar o Soba da Terra Nova. E descemos para as
lavras. O caminho foi complicando. A partir de determinada altura as catanas
tiveram que entrar em acção. Encontrámos um trabalhador que estava a cortar
mato numa lavra de mandioca, foi connosco. Seguimos pela margem do rio, em
precários equilíbrios. Depois o mato fechou até ficar intransponível. O Soba
continuou rio adentro, água pela cintura, eu segui-o, os outros ficaram de boca
aberta e foram dar uma grande volta. Tive que esperar quase meia hora pela sua chegada.
Já me olhavam com outros olhos. Completámos o trabalho. Transpirei como um rio.
Já nem sabia distinguir o molhado do transpirado. Comi massangue, parecido com
o gib-gib da Mauritânia, dendém e mamão. Encontrei bissap, que aqui se chama
ozélia, hibiscus sabdariffa L. Já não
via isto desde a Mauritânia, gosto muito, é agradável e ainda por cima faz
muito bem, baixa a pressão arterial e tem muitas vitaminas e antocianinas. Cheguei
a casa quase às três da tarde. O refeitório estava fechado. Fui a casa mudar de
roupa e tomar um duche. Não havia água. Fui ao escritório e acabei o desenho.
Desci para jantar com um sorriso nos lábios. Há dias felizes!
Estes escritos representam acima de tudo estados de espirito. Dia a dia de um português em Portugal
segunda-feira, 27 de maio de 2013
domingo, 26 de maio de 2013
Sol e Sombra
Tal como temos dias luminosos a
raiar o sagrado e outros nebulosos, como os dias vividos por tantos nestes dias.
Tal como vemos a natureza numa explosão de vida, após umas boas chuvadas e um
pouco ao lado vemos a destruição que as mesmas podem provocar, especialmente entre
os mais despreparados ou desatentos. Tal como o fogo destrói e permite a
regeneração após a sua passagem, de tal forma que é uma técnica utilizada há
milhares de anos, para permitir a obtenção de pastos verdes em contra estação
ou o cultivo agrícola. Tal como as estações se sucedem, neste nosso planeta
azul, após cada subida vem uma descida e vice-versa. A vida é feita de ciclos.
O nosso papel é cuidar de entender esses ciclos e tentar prolongar as subidas e
amortecer as quedas.
Quem já teve oportunidade de
apreender, nem que seja por um breve instante, a luz, o ar, a vastidão, a
mobilidade, do deserto, compreende que mesmo em circunstâncias difíceis a vida
está lá e aproveita todas as oportunidades para se desenvolver. Assim os tempos
difíceis sejam aproveitados para jogar para estibordo as bugigangas que
transportamos nas nossas vidas, convencidos que transportamos valores
incalculáveis. É precisamente quando estamos numa encruzilhada que tomamos as
decisões que moldarão presentes futuros.
Só há sombra quando há sol. É a
distância que acrescenta saudade. É a doença que nos faz querer saúde. Rezamos
quando deparamos com dificuldades inesperadas. Porque não aproveitar estes dias
tão longos para debater, seriamente, que sociedade queremos deixar aos
próximos? Em nove séculos já tivemos vários paradigmas, conquistar terra,
glória, fama, riqueza. Aumentar o território, descobrir novos mundos.
Evangelizar. Viver aventuras. Miscigenar o nosso sangue com todos os sangues do
planeta. Manter a independência. Declarar de novo a independência. Manter
territórios. Obter reconhecimento. Promover o desenvolvimento. Promover a
integração europeia, num regresso a “casa”. Integrar o pelotão da frente do
euro…
Durante séculos os “mais velhos”
foram respeitados. Foram os garantes da tradição oral, da passagem de
testemunho. Considerados sábios. Escutados e não apenas ouvidos. Criámos então
uma sociedade sem espaço para os mais velhos. Conseguimos uma evolução
tecnológica tão rápida, que os mais novos é que passam conhecimento aos mais
velhos. E achamos normal. Embriagados pelas facilidades da tecnologia, desrespeitamos
as leis da natureza. Se alguma coisa devíamos ter aprendido é qua a natureza
tende sempre para um equilíbrio. Por mais que façamos, por mais que a
tecnologia evolua, não podemos alterar as leis da natureza, apenas as dos
homens. Como o caminho só se faz caminhando, porque não voltar a respeitar as
leis da natureza e voltamos a escutar os mais velhos?
Cacimbo
O céu plúmbeo ameaça desaguar
rios sobre as nossas cabeças. Finalmente conheço o cacimbo. Tanto lhe ouvi, em
passados de outras eras. Tanto imaginei. Estou a experimentar por fim, a
diferença do ouvido e do vivido. Manhãs frescas, agradáveis. Sol a chegar tarde,
como se houvesse abusado na véspera. Chega devagarinho, para não assustar. À
tarde dá um ar da sua graça e parte, tranquilo. O orvalho matinal vai mantendo
alguma verdura, embora o verde, dominante desde a minha chegada, esteja a
ceder. As queimadas. Pintalgam as noites, quais estrelas. Métodos mal
repassados, dão maus resultados.
Semana triste e complicada.
Lembra-nos que devemos estar sempre prontos para partir. Tudo deve estar sempre
pronto. A nossa vez pode estar aí. Não devemos tomar nada como garantido. Bem
hajam, os que já foram. Boa sorte para os que ficaram.
E no entanto, começara tão bem…
Mais uma ida a Luanda, mais uma estada com amigos. Um brinde aos amigos!
domingo, 12 de maio de 2013
Casino
Segundo parece, o principal trunfo do Vitinho foi recuperar
a credibilidade internacional de Portugal, o que quer que isso seja, e permitir o regresso aos mercados e emitir dívida
sem recorrer à troika. Não entendo muito de mercados, mas acho estranho que um
país que destruiu a sua economia, reduziu um em cada cinco cidadãos ao estatuto
de desempregado, ao qual retirou o subsídio na maioria dos casos, esteja em
melhor posição que antes, quando o défice continua teimosamente na ordem dos 5%
e não mostra sinais de querer baixar. Acho estranho que a nossa imprensa tão
bem informada, não note que por exemplo o Ruanda faça a primeira emissão de
dívida da sua história a uma taxa similar à Portuguesa… Acho estranho que não
faça notar que outros países africanos que nunca tiveram acesso aos mercados,
este ano tenham iniciado esse processo, com sucesso. Será que não notaram que
essa poderá ser a nova bolha a rebentar? Será que é normal Portugal depois do
Processo de Destruição em Curso, consiga melhores condições que antes?
Quando é que começam a fazer o trabalho de casa e percebem o
que está em jogo? Vivemos uma economia de casino. O Vitinho é um simples peão.
O Passos irá ser recordado como o maior incompetente que alguma vez chegou ao
poder em Portugal. Infelizmente serão necessários muitos anos para ultrapassar
tanta incompetência.
O que faz a esquerda portuguesa? Age como se nada se
passasse e continua o seu caminho indiferente à implosão social, à destruição
da sociedade. Qual D. Quixote a lutar com os moinhos de vento. Para quando um
pouco de visão e solidariedade para com quem, supostamente querem proteger?
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