Estes escritos representam acima de tudo estados de espirito. Dia a dia de um português em Portugal
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Renascimento
20 de Outubro de 2009, terça-feira. Renascimento! O dia 19 de Outubro de 09 vai ficar registado como o dia do meu renascimento. Ontem cerca das 7 e meia da manhã, dirigia-me eu, mais o Rafa, para Garfa, quando tudo sucedeu. O que se segue durou cerca de um segundo. Poderei dizer que se tratou de um segundo interminável. Já muitas vezes ouvira dizer que em determinadas situações, a vida, nos passa toda pela frente, em poucos momentos. Pude confirmar que tal facto infirmei. Dizia então que me dirigia a Garfa, ao chegar ao cimo de uma lomba da “estrada” deparo-me com um “monstro” branco, que velozmente se dirigia contra mim. O tal monstro era um Toyota Land Cruiser, transportava onze pessoas no seu interior mais cinco no tejadilho. Bem como toda a bagagem desses viajantes. Eu encontrava-me na minha mão, o problema era que o monstro também… A minha cara, não sei como aparentava embora imagine, a do condutor do monstro era de puro terror. As dos passageiros do tejadilho essas então eram de meter medo. Consegui observar todos os pormenores do monstro. Lembrei-me dos meus filhos em Portugal e de como estava iminente um fim inglório para a minha estada aqui. Vi perfeitamente o acidente que ocorreu. Vi os meus avós a olhar para mim. Percorri os factos ocorridos nestes últimos anos e que me trouxeram aqui. Vi-me ainda pequeno a brincar em casa dos meus pais. Vi a grelha do monstro a rir-se de mim. Um branco que encheu todo o campo visível. Senti cada músculo do Rafa a comprimir-se. Pensei, “Então é assim que tudo acaba”. De repente o monstro ataca os últimos metros em duas rodas, inclina-se para a esquerda, duma forma que só podia tombar. De repente o tempo estica-se e tenho o carro parado, estamos inteiros. Estou cansado. Custa-me a respirar. Olho para trás e vejo o monstro a voltar à verticalidade. Volta às quatro rodas. Imobiliza-se também. Está a cerca de cem metros de mim. Percebi que continuo neste mundo. Tenho um nó na garganta. Falar está a revelar-se difícil. Engreno a primeira e parto para Garfa. Ouço o Rafa dizer que temos vidas como os gatos. Ouço-me a responder, que isso é bom, mas se ter vidas de reserva é bom, gastá-las não é bom…
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