Estes escritos representam acima de tudo estados de espirito. Dia a dia de um português em Portugal
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Hortas e Filosofias
8 de Outubro de 2009, quinta-feira. É curioso, hoje comemos bananas da nossa horta. Temos uns dez cachos nas bananeiras a crescer. As papaieiras estão carregadas de papaias. Os bissapeiros estão cheios de bissap (o bissap é a parte carnuda que envolve as sementes, tem cor vermelha e faz uma bebida refrescante muito apreciada por aqui). As beringeleiras continuam a produzir beringelas. Pepinos são colhidos cada dia. A Tavinha (também conhecida por Petit Penda) ontem viu-me curiosa a mondar a horta. Hoje arrancou uns dez pés de milho e dois pés de pimento. Os gafanhotos são bastantes e fazem estragos. A “hivernage” pertence definitivamente ao passado. Os dias voltaram a pertencer exclusivamente ao deus Sol. O mercúrio encosta de novo aos 40ºC. O omnipresente pó está de volta. Amanhã vou começar os estudos para a execução do projecto da estrada entre Gouraye e Diagili. Talvez lá para a Páscoa seja possível terminar a obra. Depois de um período complicado a nível pessoal voltei a sorrir. Porquê? Porque temos (finalmente) trabalhado bastante. Quando assim é resta menos tempo para o disparate. O pouco tempo livre tem que ser ocupado com qualidade. Nada melhor que sorrir. Agradecer poder apreciar tantos cheiros, tantos sentimentos, tantas cores. Cores, estamos numa fase em que as cores que nos envolvem variam a cada dia. O verde diminui em detrimento do prateado e do dourado. Como parecem longe os comícios e as palavras de ordem que fazem os dias em Portugal. Mais umas eleições à porta. Mais uma vez não vou poder votar. Até hoje só não votei por ausência do país. Este ano pela terceira vez não irei colocar a cruzinha no quadradinho. Não irei participar do acontecimento mais desejado por quem o não tem. Mais vilipendiado por quem a ele tem acesso. Porque será que só valorizamos o que nos é vedado? Porque será que a épocas históricas em que heróis se imolam para permitir uma existência “normal” à esmagadora maioria da população, se seguem épocas de desinteresse, de astenia generalizada. A ganância ganha terreno. A tentação da opulência torna-se generalizada, ofuscando nobres sentimentos. Tornando tudo e todos em seres acéfalos quais formigas que lutam arduamente para terem tudo o não faz falta, esquecendo os ideais dos nossos ancestrais. Todas as lutas do passado para que pudéssemos ser cidadãos e tudo o que queremos ser é consumidores!
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