domingo, 9 de janeiro de 2022

Demografia

 

É hoje consensual que Portugal enfrenta uma crise demográfica, por muitos denominada de Inverno demográfico. Tem Portugal uma das populações mais idosas do planeta. A pirâmide etária portuguesa está já invertida, com mais idosos que jovens. Para os partidários do crescimento económico estamos perante uma espécie de suicídio colectivo, com uma traição das novas gerações à história de um dos mais antigos países da Europa. Os economistas liberais, consideram que a segurança social só pode funcionar com uma pirâmide etária real, ou seja, cada grupo etário deveria ser sucedido de um com uma base maior. Os humanistas que consideram que o homem subjugou a natureza, entendem que mais uma vez o homem conseguirá arranjar uma solução para aumentar a produção de alimentos de forma a proporcionar alimentação digna para quantos vierem. Os cristãos consideram que é uma obrigação bíblica o “crescei e multiplicai-vos”…

O interior (hoje já é interior quase todo o território, à excepção das áreas metropolitanas, Braga, Aveiro, Algarve litoral e pouco mais) está ao abandono. As terras restam incultas. Grassam pinhais e eucaliptais um pouco por todo o lado, mais as matas densas de acácias resultantes dos fogos que se vão sucedendo nos verões cada vez maiores e mais quentes.

Convém recordar aos saudosistas que o período áureo de Portugal (século XVI) foi cumprido com uma população de cerca de 1 milhão de pessoas…

Os estudiosos da demografia, apontam que a população residente irá diminuir (o processo já começou, veja-se o resultado dos censos de 2021), para entre 9 e 7 milhões, consoante os cenários, até 2050 (daqui a 28 anos). Todos os políticos se dizem bastante preocupados com a situação…

No entanto a população humana ultrapassou o primeiro milhar de milhões no século XIX, hoje somos já 8 mil milhões, em escassos 150 anos multiplicámos por 8.

É sabido que a diáspora madeirense é mais numerosa que a residente no arquipélago, tal como a açoriana e a cabo-verdiana e tantas outras de pequenas ilhas ao redor do planeta. Assim podemos dizer que pequenas ilhas não suportam crescimento indefinido da população humana a longo prazo.

A população europeia cresceu bastante no século XIX com os avanços dos cuidados de saúde, que resultaram em menos mortes de crianças e suas mães, isso levou a ondas massivas de emigração europeia uma vez que a disponibilidade de alimentos não acompanhou o crescimento populacional. Os europeus fixaram-se um pouco por todo o globo, com especial enfoque no Novo Mundo, América do Norte e do Sul.

Em 1900 existiam 1,6 mil milhões de seres humanos, na China seriam cerca de 300 milhões e na Índia 200 milhões. No Brasil 17 milhões, em Portugal habitavam 5,7 milhões, na Etiópia 4 milhões e em Angola 2,4 milhões.

Em 2021 somos 7,8 mil milhões, na China são cerca de 1,41 mil milhões e na Índia 1,38 mil milhões. No Brasil 213 milhões, em Portugal habitam 10,1 milhões, na Etiópia 115 milhões e em Angola 33 milhões.

O crescimento populacional no planeta foi tão grande desde a revolução industrial que hoje vivem em simultâneo cerca de 15% de todas as pessoas que já existiram. 1 em cada 8 homens está vivo hoje.

O homem e os animais domésticos representam cerca de 96% de todos os animais que vivem em terra, os animais selvagens são 4%...

A economia, como tudo no planeta terra teve comportamentos cíclicos até há 200 anos e existiu equilíbrio entre os humanos e suas actividades e o planeta. Desde o início da exploração dos combustíveis fosseis a economia tem tido um crescimento quase constante, acompanhado por um crescimento populacional ainda mais crescente, o que tem levado a que o PIB per capita não tenha tido um crescimento tão significativo. À medida que os povos do hemisfério sul se vão integrando na economia de mercado e tendo acesso aos bens de consumo que estiveram reservados a uma minoria, os níveis de poluição têm crescido a um ritmo sem paralelo. Podemos dizer que o crescimento da economia é proporcional ao consumo de combustíveis fósseis, pudemos verificar isso com a paragem global efectuada no início de 2020 com os confinamentos provocados na sequência do alastrar da pandemia de COVID, os efeitos visuais, de níveis de poluição verificados nas cidades, de qualidades das águas, foram tão espectaculares que surpreenderam tudo e todos, por não ser repetível uma situação como a vivida há dois anos.

A situação de stress provocada por tão intensa actividade por todo o planeta está a provocar uma resposta da natureza, que já estamos a experimentar, verões maiores e mais quentes, degelo dos glaciares, aquecimento dos oceanos, maiores tempestades, mais secas, chuvas intensas em períodos curtos. Estamos a extrair água dos aquíferos a velocidades bastante superiores às da recarga dos mesmos.

Hoje temos ao nosso dispor um conjunto de ferramentas que nos permitem olhar o passado e compreender melhor alguns factos ocorridos em épocas remotas. Assim podemos verificar que a queda do Império Romano está ligada a uma erupção vulcânica ocorrida na Islândia, que emitiu tantas cinzas para a atmosfera escurecendo o céu e provocando o “ano sem verão”, com a consequente diminuição de alimentos disponíveis, maior pressão nas fronteiras por parte de povos desesperados por fome. O rio Reno congelou em grandes extensões, permitindo a passagem em praticamente todo o seu curso aos chamados “bárbaros”, evitando as legiões que controlavam os pontos chave da travessia da fronteira.

O Império Assírio caiu logo após ter atingido o apogeu devido a um período de seca de 60 anos, que atingiu o seu território.

Na Inglaterra deixou de ser possível a cultura da vinha depois do século XV, até há bem pouco tempo, voltou nos últimos anos a ser viável.

A revolução francesa surgiu no século XVIII na sequência de alterações climáticas que conduziram a penúria alimentar uma grande parte da população.

Em 2011 na sequência de más colheitas na China, o governo chinês adquiriu no mercado mundial os cereais em falta, o que provocou um grande aumento do preço do trigo e escassez. Em muitos países o aumento do preço do pão levou a revoltas, ficaram conhecidas por “Primavera árabe” com a queda do regime na Tunísia, na Líbia, no Egipto. A guerra civil na Síria foi consequência da seca de vários anos verificada no território.

Portugal tem uma auto-suficiência de 18% no abastecimento de cereais, tendo por isso uma dependência enorme de fornecimento exterior.

A pegada ecológica portuguesa está estimada em 1,5 – significando que o que consumimos num ano necessita de 1 ano e meio a repor, assim o nosso défice não é só financeiro, é também ecológico. Grande parte da população mundial tem um nível de acesso a bens, inferior ao nosso, à medida que mais pessoas em todo o mundo vão tendo acesso a electricidade, carros, alimentação, a pegada ecológica vai aumentando.

É hoje consenso que a população humana, dado o seu número, está em equilíbrio instável com o meio ambiente, qualquer anomalia climática pode representar a “gota que faz transbordar o copo” com consequências imprevisíveis a prazo.

Assim se é arriscado para o futuro da espécie humana a existência de uma população tão numerosa, como podemos afirmar que é negativo para Portugal que se verifique uma redução da população? Podemos antes verificar a existência de uma oportunidade de recuperar uma parte significativa do território e operar uma renaturalização do mesmo.

Quanto à segurança social, deverá ser iniciada uma transformação do seu financiamento, aumentando a fracção das actividades económicas com menos necessidade de mão de obra e as actividades especulativas.

Com a digitalização, a necessidade de mão de obra vai diminuir, por isso ter menos jovens pode ser uma mais valia.

Também deveríamos iniciar uma melhoria significativa das retribuições pagas aos jovens, para promover o estancar desta sangria que nos leva todos os anos a perder o melhor recurso deste país, os nossos filhos terem que emigrar continuamente.

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