terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Palavras


Voltou diferente. Ninguém percebia isso. Como explicar um horizonte sem fim. Decerto lhe desconsiderariam se lhes falasse do inebriante cheiro depois da chuvada. Seguramente de louco não passaria se tentasse colocar em palavras a sensação de tranquilidade que a vista daquele rio lhe transmitia, como se a casa retornasse. Isso era o mais estranho, como se pode viajar meio mundo e sentir que se está de volta a casa, como o filho pródigo. A vontade de gritar aos quatro ventos que a sua alma estava em casa, a milhares de quilómetros. O reconhecer aquilo que nunca se viu, como um bebé que dá os primeiros passos, dava-lhe vontade de rir. Como explicar o prazer de reconhecer um cajueiro à primeira vista sem qualquer referência anterior. As palavras são a maior invenção do homem, mas ainda assim vivências inexplicáveis não são fáceis de contar por palavras. Talvez o problema não seja destas, mas dos ouvidos que (des)ouvem, numa época que perdemos o contacto com o que nos rodeia. Com toda a certeza o maior erro do homem é a falta de respeito pela natureza, que se traduz nas agressões que diariamente lhe infligimos. Curiosamente essa mesma falta de respeito inibe-nos de usufruir do que está à nossa volta. Um mea culpa e um regresso à vida sustentável são desejáveis e quanto mais cedo chegarem melhor.

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