terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Cachoeiras


A noite passou urgente. O céu clareou enxuto de nuvens prometendo calorias. Pela primeira vez ia sair. Conhecer chão. O grupo cumpriu horário. Asfalto negro esperava-nos. Verdes horizontes prometiam vistas. Breve passámos Kiamanfulo e a Terra Nova. O desconhecido abria as portas. Munenga convidava um ida a Calulo, outro dia seria, desta vez o destino era outro. Poucas Aldeias, esparsas. Capim bué alto. Depois das montanhosas terras de beira-kwanza, chão fértil alberga modernas fazendas agrícolas. Próximo destino a Quibala. Viragem à direita direção Gabela. Cada vez mais aldeias, maiores, mais juntas, fazendas tipo “Dallas”. Serra da Gabela, tudo cultivado. Bonito chão vermelho. Muito milho. Um arbusto belo chama a atenção. Vendas, beirando a estrada. Descemos para as salinas. A cor muda. Ocre. Cactos. Espinhosas. Cachoeiras. Ruidosas. Uma ponte onde as cinco quinas ainda teimam. O tramo central partiu faz tempo. Foi a loucura da guerra. Água. Muita água. Lança-se intrépida cachoeira abaixo. O vapor refresca as quenturas do sol. Um verdejante palmeiral bordeja tranquilo rio no remanso do percurso final atá ao mar oceano. Um belo restaurante, prometendo frescuras. Vistas deslumbrantes. Passamos primeiro a pé, na ponte esventrada, depois de carro na vizinha nova. Placa antiga, “Parque das Cachoeiras”, um ancião pede para assinarmos o livro das visitas, onde podemos testemunhar nomes familiares. Nomes estranhos. Nomes prováveis. Nomes exóticos. Risos. Frondosas árvores continuam a testemunhar a alegria das crianças a banhar-se em quentes águas. Tranquilas águas, depois do inebriante descenso. Dezenas de indianos. Não deixou de nos surpreender. No regresso à verdejante e fresca Serra da Gabela, tempo de provar in-situ o melhor ananás de Angola, segundo dizem. Não conheço outro, se não é o melhor, não interessa, superou as expectativas. Papaias, abacates, maracujás, fruta pinha, cana de açúcar. Além de bananas diversas, batata doce e tantas outras cores. Seguimos, voltámos a ver o arbusto desconhecido. Fazenda espectacular. Casario de sonho. Instituto Nacional do Café. O mistério resolveu-se. O tal arbusto é o cafezeiro. Na Quibala, cometi um sacrilégio, entrei na Casa do Benfica. É verdade. Bebi lá uma Sagres e comi um prego no pão. Não sou perfeito. Eu sei. Tem um mapa desenhado na parede, desde Luanda a Benguela, maravilha, os nomes das cidades, Nova Lisboa, Novo Redondo...

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