A
noite passou urgente. O céu clareou enxuto de nuvens prometendo
calorias. Pela primeira vez ia sair. Conhecer chão. O grupo cumpriu
horário. Asfalto negro esperava-nos. Verdes horizontes prometiam
vistas. Breve passámos Kiamanfulo e a Terra Nova. O desconhecido
abria as portas. Munenga convidava um ida a Calulo, outro dia seria,
desta vez o destino era outro. Poucas Aldeias, esparsas. Capim bué
alto. Depois das montanhosas terras de beira-kwanza, chão fértil
alberga modernas fazendas agrícolas. Próximo destino a Quibala.
Viragem à direita direção Gabela. Cada vez mais aldeias, maiores,
mais juntas, fazendas tipo “Dallas”. Serra da Gabela, tudo
cultivado. Bonito chão vermelho. Muito milho. Um arbusto belo chama
a atenção. Vendas, beirando a estrada. Descemos para as salinas. A
cor muda. Ocre. Cactos. Espinhosas. Cachoeiras. Ruidosas. Uma ponte
onde as cinco quinas ainda teimam. O tramo central partiu faz tempo.
Foi a loucura da guerra. Água. Muita água. Lança-se intrépida
cachoeira abaixo. O vapor refresca as quenturas do sol. Um verdejante
palmeiral bordeja tranquilo rio no remanso do percurso final atá ao
mar oceano. Um belo restaurante, prometendo frescuras. Vistas
deslumbrantes. Passamos primeiro a pé, na ponte esventrada, depois
de carro na vizinha nova. Placa antiga, “Parque das Cachoeiras”,
um ancião pede para assinarmos o livro das visitas, onde podemos
testemunhar nomes familiares. Nomes estranhos. Nomes prováveis.
Nomes exóticos. Risos. Frondosas árvores continuam a testemunhar a
alegria das crianças a banhar-se em quentes águas. Tranquilas
águas, depois do inebriante descenso. Dezenas de indianos. Não
deixou de nos surpreender. No regresso à verdejante e fresca Serra
da Gabela, tempo de provar in-situ o melhor ananás de Angola,
segundo dizem. Não conheço outro, se não é o melhor, não
interessa, superou as expectativas. Papaias, abacates, maracujás,
fruta pinha, cana de açúcar. Além de bananas diversas, batata doce
e tantas outras cores. Seguimos, voltámos a ver o arbusto
desconhecido. Fazenda espectacular. Casario de sonho. Instituto
Nacional do Café. O mistério resolveu-se. O tal arbusto é o
cafezeiro. Na Quibala, cometi um sacrilégio, entrei na Casa do
Benfica. É verdade. Bebi lá uma Sagres e comi um prego no pão. Não
sou perfeito. Eu sei. Tem um mapa desenhado na parede, desde Luanda a
Benguela, maravilha, os nomes das cidades, Nova Lisboa, Novo
Redondo...
Estes escritos representam acima de tudo estados de espirito. Dia a dia de um português em Portugal
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
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