Estes escritos representam acima de tudo estados de espirito. Dia a dia de um português em Portugal
domingo, 30 de dezembro de 2012
2012 - Assim em jeito de balanço
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
Natal
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Por este rio acima
sábado, 7 de abril de 2012
Farsas e Idiotices
O FMI, aparentemente indignou-se quando a taxa de desemprego atingiu os 15% em Portugal. Diz que mais austeridade não irá resolver o problema, pois tal apenas irá aumentar ainda mais o desemprego e aumentar a dívida, o FMI... Os deuses devem estar loucos portanto. O governo cá do burgo diz abertamente que quer ir além da troika. A troika, pelos vistos começa a achar que o risco de matar o doente, com a “cura” é cada dia mais provável. Há aqui algo que eu não entendo. O governo “sabe” que o desemprego vai subir MUITO até ao final do ano, as construtoras estão quase todas falidas, a venda de carros vai a 50% do ano passado, que foi o pior dos últimos vinte anos, a restauração já quase não respira, os funcionários públicos e pensionistas desesperam a cada intervenção governamental, agora a reposição dos subsídios “desaparecidos” já só irá ser reposta “gradualmente” a partir de 2015... Há alunos a desistir das universidades a cada dia, por falta de meios. No ano transato 150.000 portugueses piraram-se daqui para fora. Um número que ainda não ouvi e daria mais noção da situação real por que passamos é referente à quantidade de postos de trabalho existentes hoje e em 2008, assim teríamos uma visão mais abrangente do tsunami que se abateu por terras lusas. É que se 150.000 saem daqui todos os anos e o desemprego está em 15%, caso não saísse ninguém o desemprego já representaria uns 30%...
Deste modo o conselho governamental para os portugueses saírem da sua zona de conforto e abandonarem o país, destina-se a maquilhar os números do desemprego. A estupefação do FMI pode ser devida à lentidão com que estamos a abandonar o barco, digo eu.
Segundo o Medina Carreira, mesmo que a economia portuguesa cresça, em 2018 a despesa do estado português apenas poderá ser idêntica à deste ano. Assim a devolução dos “salários perdidos” dos funcionários públicos e pensionistas será o novo mito luso, e tal como o do sebastianismo, só voltará num dia de nevoeiro...
Num planeta que apenas atingiu o bilião de habitantes no séc. XIX e que já rebenta com uns inimagináveis 7 biliões, custa ouvir dizer que a europa tem um problema de natalidade. Se a europa velha e cansada, não tem empregos para os poucos jovens e em Portugal 35% deles não consegue chegar ao mercado de trabalho, em Espanha são já 50%, como é que temos falta de natalidade?
sábado, 31 de março de 2012
Mali
Nos primeiros dias de 2011 saí do Mali. Por um lado a proposta de trabalho vinda de Portugal, representava uma oportunidade única de valorização profissional. Até então nunca tinha trabalhado numa barragem. O desafio soou aliciante, irresistível até. Por outro lado o Mali impressionou-me bastante. Proporcionou-me o contacto com vastas e ricas civilizações, gentes e cidades tão ricas, que nunca as conseguirei apagar da memória. Estudei um pouco da história oeste-africana, soube de riquezas passadas fabulosas. Conheci gentes unidas por laços, que agora sei o frágeis que eram, de amizade e companheirismo que me tocaram.
No entanto, havia algo no ar. Era, para mim, palpável que a história maliana não estava escrita, mas em curso. Aleguei junto dos companheiros de situação que um véu me tolhia os estares. Informei os responsáveis em Lisboa que não era correto enviar gente para tais bandas sem, previamente lhes prestar juízos sobre o que os esperava.
Quando apenas um ano passado, os acontecimentos ultrapassaram os meus piores receios. A guerra civil está aí para durar. Como todas não terá vencedores, apenas perdedores. A juntar a isso, um golpe de estado.
O povo que tão mal passava, pior passará nos tempos mais próximos. Tenho o coração partido. Tenho amigos dos dois lados do conflito. No entanto nada posso fazer. Sei que um país pobre com mais de cinquenta povos diferentes, com história de conflitos passados, necessita de grandes líderes, que ponham o coletivo à frente do interesse pessoal.
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Elites
Até ao seculo XII, Al-Usbuna era uma das cidades mais populosas e cosmopolitas da europa. Já tinha cerca de cem mil habitantes. O comércio, bastante desenvolvido, beneficiava duma localização geográfica ímpar e de um porto natural sem rival. A coabitação entre os três povos do livro – cristãos, judeus e muçulmanos, não sendo perfeita, permitia a liberdade de culto e de vida a todos eles. A nível cultural beneficiava da proximidade a Córdova e Sevilha, por esses tempos os guardiães da tradição greco-romana e muçulmana.
Com o episódio exemplar da tomada da cidade pelos cristãos ficou dado o mote para o futuro do recém-criado reino. Os cruzados em trânsito para Jerusalém obtiveram o direito de saquear a cidade e os seus habitantes. O nosso jovem-rei Afonso, o primeiro dos borgonhas a governar o nóvel reino, analfabeto e completamente subjugado aos interesses da igreja de Roma, só entraria na cidade após uma semana de saque por parte dos “nobres” cruzados.
Dinis, o sexto da linhagem a tomar conta dos destinos do “al-garb” europeu, foi no entanto o primeiro dentre estes a não precisar de assinar de cruz, porquanto era mestre na arte de manejar a pluma, que era assim que se escrevia nesses tempos. Claro ser culto motivou desentendimentos com os interesses da santa sé em terras lusas.
Foi necessário esperar mais um século para termos então outro rei que se distinguia dos pares pelas ideias e não apenas pela força bruta, o mestre de Avis, D. João, o primeiro. E este deve os ensinamentos que obteve, não à educação real, mas a ter sido preparado para dirigir a ordem de Avis e ter sido rei por mérito e não apenas por linhagem. Afortunadamente veio a casar com D. Filipa de Lencastre, uma inglesa que só aceitou desposar um “selvagem” de um país longínquo, trazendo na bagagem uma vasta biblioteca, tutores para os rebentos futuros e a garantia que poderia educar a descendência. Os filhos deste casal atingiram tal notoriedade e foram de tal modo influentes na vida lusa que beneficiaram de uma expressão só a eles reconhecida – Ínclita geração.
Chegados ao vigésimo século d.C., quais fidalgos falidos com ares de importância. Ao arrepio das correntes mais vanguardistas, mantínhamos 85% de analfabetos. Uma subserviência aos mais retrógrados pensamentos católicos. Uma inquisição só formalmente abolida, porquanto qualquer liberdade religiosa era fortemente reprimida.
A revolução republicana, se formalmente apoiada num desejo de livrar o país de elites decrépitas, descambou numa troca simples de governantes. Apenas em 1956 foi instituída a obrigatoriedade da escolaridade até ao quarto ano e apenas para os varões. Só em 60 as mulheres beneficiaram desta situação.
As nossas elites beneficiaram de monopólios durante séculos. Os tiques absolutistas ainda hoje se manifestam, governantes que não aceitam críticas, clérigos pouco dados ao diálogo e a assumir pecados cometidos ao serviço duma instituição que supostamente serviria para venerar a Deus, industriais viciados em trabalho escravo, gestores com a quarta classe, sem dinheiro para retribuir o esforço dos seus assalariados e com bolsos sem fundo para comprar políticos de pacotilha.
Deixámos de ter a ambição de mudar o mundo, para simplesmente querer ter um telemóvel de última geração. Isto aconteceu quando pela primeira vez na nossa história tivemos acesso, como um todo, a instrução. Quando a maioria dos nossos jovens termina o secundário. Quando temos uma quantidade de doutores, engenheiros e arquitetos inusitada. Quando pela primeira vez na história temos um povo preparado para tomar o destino nas mãos, esperamos pelas elites mais uma vez. Infelizmente as elites portuguesas não são uma ínclita geração. Não estão à altura do desafio. Assim sendo, é talvez chegada a altura de deixarmos os telemóveis e a televisão, tomarmos o destino nas mãos, como D. João, o primeiro, o mestre de Avis, que não era suposto ser rei. É que temos tudo, consciência, qualificações, garra, vontade de trabalhar, seria uma pena desperdiçar tudo isto em elites de papel, iguais às que nos (des)governaram durante nove séculos.
domingo, 29 de janeiro de 2012
Sou Grego, com muito Orgulho!
Vivo num País onde já se não nasce. Onde o Presidente da República, precisa de tradutor para que compreendamos o raciocínio. Vivo num País febril com as taxas moderadoras. Ele é taxas moderadoras para a saúde. Ele é taxas moderadoras para as estradas. Ele é taxas moderadoras para a educação. Vivo num País em que os governantes se desdobram em discursos a anunciar a boa-nova, a recuperação está aí ao virar da esquina. Esquina essa que ninguém consegue descortinar. Vivo num País de malabaristas de palavras, que se candidatam em atos eleitorais defendendo exatamente o oposto daquilo que alguma vez porão em prática, caso sejam eleitos. Vivo num País que desistiu de ter futuro. Por inação, deixámos de nos reproduzir, por ação, impedindo os poucos que têm visto a luz por estas bandas de participarem em atividades laborais, por omissão, impedindo os idosos de terem uma morte digna. Desde o início deste ano da desgraça de 2012, já foram encontrados 12 idosos mortos nas suas casas, alguns mais de um mês depois da alma abandonar a carne.
Sou Grego, com muito orgulho! Ninguém quer compreender que somos indesejados nesta Europa, gorda, anafada, ensimesmada. Ninguém admite que vamos ser empurrados para fora da mesa, para longe da vista. Vamos ser os “velhos” portugueses que estamos a empurrar para uma morte solitária. Os dez-por-cento de portugueses que irão ser privados de televisão,com a chegada da tdt, vão ser os idosos. Sem poder de compra para poderem ter televisão paga. Achamos isso normal. Ouçam rádio. Não podem pagar aos bombeiros pelo transporte de ambulância, chamem um táxi. Abandonados!
O pior que pode acontecer a alguém não é ser posto à margem, é voluntariamente ir fazendo tudo o que nos exigem, sabendo que a cada exigência que respondemos, outra e outra se seguirão. Aqui a questão não é cumprir, aqui a questão é ser-se desejado. Claramente não o somos. O que podemos fazer é manter o nosso orgulho e mostrarmos solidariedade com o povo grego. Porque estamos no mesmo barco. A diferença, já são só seis meses. Pelo menos não ficaremos sós, quando chegar a nossa vez. Porque não consigo imaginar nada pior que morrer só e abandonado. Ninguém dar pela nossa falta, senão apenas um mês depois da última caminhada. É incomensuravelmente preferível dar as mãos e fazer o caminho em conjunto.
Outros se seguirão, se quiserem aproveitam o exemplo, senão suportarão um fardo maior sobre os então tristes e cansados ombros.
Tem os que passam
Tem os que passam, de Alice Ruiz "Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados tem os que partem da pedra ao vidro deixam t...
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3 de Novembro de 2009, terça-feira. Dia triste por aqui hoje. Mais um dos nossos colaboradores passou para o outro lado. O Samba era um dos ...
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a. Areia. Está presente em todo o lado. Tempestade de areia. Água. Aprendemos a dar valor à água. Sem ela não há vida. b. Barco. É como pass...