Quando se aproxima a quadra tão ansiada por tantos s(i)ento-me a (di)escorrer banalidades e outros pensares. Pela primeira vez vou natalizar africanamente. Vou imaginar que está frio. Vou decorar uma bananeira. Este período é seguramente o mais agradável para estar no Mali. As noites finalmente refrescam, deixando as almas repousar das quenturas diárias. O tempo seco, calmo, sem tempestades no horizonte, está realmente agradável. Um domingo tranquilo à beira da piscina. Horas a passar mansamente, como se subitamente estivéssemos a habitar uma fotografia. A mente a vaguear. A juntar ao quadro escuto “Fur Elise”.
Dou pelos meus dedos a tocar no teclado como se um piano fora. As palavras brotam qual peça de música. O ritmo varia desde um lento quase parado a um frenético quase orgásmico.
É com uma buganvília rosada a fitar-me e uma ninhada de patos a saborear os raios de luz matinais, que me imagino a teorizar sobre as diferenças entre dois mundos tão diferentes e tão longínquos e no entanto tão iguais e tão próximos.
Uma das grandes questões em discussão na Europa é a natalidade. Por aqui também. Os motivos é que não são exatamente coincidentes. Se os europeus temem a extinção e a incapacidade de cuidar dos seus mais velhos, os africanos tem boas razões para temer a explosão demográfica com a consequente míngua de tapas para as bocas glutonas dos mais novos. Tão próximos do abismo. Uns pela implosão outros pela explosão. Num mundo perfeito (?) estaríamos a falar de plosão. Nem im nem ex. Equilíbrios tão precários que talvez só literariamente existam. Porque o importante é o caminho. Só caminhando se vai.
É ao som de “One of these days” dos Pink Floyd que observo a apanha de um enorme cacho de bananas. Mostrando que mesmo o mais idílico dos quadros se move. Nada é eterno, tudo é eterno. A batida monocórdica permite o solo da guitarra e os acordes do piano. Para que se possa saborear o caminho há que parar e olhar em volta. São as pausas que nos fazem mover. São os silêncios que nos fazem escutar.
O desemprego aqui é espantoso. Embora ao sair para a obra veja mais de duzentas pessoas, a quem repetimos diariamente que não necessitam de ali estar, basta entregar currículos e contactos, que chamaremos os que necessitarmos, quando necessitarmos, eles não arredam pé. Agarrados a uma esperança efémera de que afinal pode ser possível…
Os silêncios permitem-nos escutar chilreios variegados. A luta pela vida é incessante, batalhas acontecem a todo o instante. Os lagartos andam por aqui como se estivéssemos ausentes, deglutindo esperneantes insectos.
O sol alteou mudando o verde das árvores, mostrando matizes ausentes há ,minutos. Uma brisa aromatiza narizes.
O Natal tão perto e tão longe. Prioridades que parecem estranhas. Banalidades. Natalidades.
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