“Que possas viver em tempos
interessantes”
A Europa ao longo dos tempos foi
palco de inúmeras invasões. Já foi invadida, já invadiu. Foi
conquistada,
conquistou. Foi subjugada, subjugou. Foi palco de mortandades, por guerras, por
doenças, por alterações climáticas. O que sucedeu poucas vezes foi viver tempos
de acalmia, paz, prosperidade, de valorizar a cultura, as artes, a história.
Esses tempos de tão raros são celebrados.
“Ai, esta terra ainda vai cumprir
seu ideal”
A Europa do século XIV era o
continente mais pobre. Quase despovoado, fruto de incessantes guerras, pestes,
atraso cultural de um povo manietado por poderes espúrios. Este ano assinala-se
a passagem de seis séculos da aventura iniciada por um pequeno país, que
contava apenas 1 milhão de pessoas, na sua esmagadora maioria de parcos
recursos, materiais, técnicos, alimentares. Ceuta, foi um marco na vida
europeia. Com esta conquista teve inicio um período de expansão, ocupação,
conquista. A Europa pilhou riquezas por todo o globo, transportando-as de
volta. Acumulando impérios, domínio sobre tantos povos, umas, (poucas) vezes
consentido, outras, (tantas) forçado. Acumulou um excesso populacional, que
espalhou pelo globo, mestiçando populações, mesclando culturas, alimentos, interferindo
de forma (quase) irreversível na extinção de tantas espécies, na hegemonia de
outras. Este sucesso fez-nos atingir um nível de bem-estar material nunca antes
alcançado, acompanhado de uma quebra de valores apenas observada nos tempos
finais dos impérios.
Os tempos actuais fazem lembrar os
do século V, com a Europa unida numa estrutura política invejável e invejada,
com povos bárbaros vindos de leste em busca das terras prometidas. A Roma da
altura, abandonara a expansão seguida durante tantos anos e fechara-se sobre si
própria, tentando negar aos bárbaros do leste a entrada. Sabemos como foi. Mil
anos de escuridão, de degenerescência, de subjugação, mas também de miscigenação
e de aculturação dos recém-chegados.
De novo, após mil e quinhentos
anos, conseguiu-se unir a maioria dos povos europeus numa estrutura política
invejável e invejada, acossada por povos do leste.
Faz lembrar uma roda, ao rodar
sobre o seu eixo vai permitindo a deslocação do veículo ao longo do caminho, no
entanto relativamente ao eixo está sempre a repetir o percurso.
Como sou mais pró-positivo, encaro
esta situação como o pôr do sol, sabemos que um dia será o último que poderemos
apreciar, mas hei-de apreciar todos os que puder ver, sempre voltado para
ocidente, até ao último, se puder ser com um copo de gin na mão, tanto melhor.