O processo de desertificação que lentamente foi tomando
conta do país a partir dos anos sessenta do século passado, está a atingir
velocidade e proporções que poucos anteciparam. Se é verdade que durante anos
as zonas atingidas foram os concelhos rurais do interior e isso não pareceu
afectar os fazedores de opinião profissionais, hoje são os grandes centros
urbanos do litoral e o país inteiro, que começam a compreender que o futuro talvez
não passe de uma miragem.
Dos quinze milhões de portadores de BI português cinco estão
espalhados pelo mundo, em busca de oportunidades, que a terra mãe lhes nega. Ao
ritmo actual irão restar os velhos e os de meia-idade. Muitas terras já não têm
escolas, hospitais, tribunais. Os jovens, e os não tão jovens, estão a sair do
rectângulo a um ritmo só visto nos anos sessenta. Então foi o interior que foi
despojado do futuro, hoje é todo o país.
Chegamos então ao paradoxo de vermos um suposto governo
liberal a aumentar os impostos para níveis nórdicos, a fornecer serviços ao
nível africano, a vender empresas públicas a governos estrangeiros. Os discursos
são desmentidos pelos próprios autores, a cada dia. Os factos ultrapassam a
capacidade oratória, fraca diga-se, dos arautos pseudoliberais.
Como estancar a hemorragia? Como inverter politicas
suicidas, autodestrutivas?
Ou começamos a extrair petróleo, ou de uma vez por todas
apostamos na principal riqueza do país, as pessoas. Ou começamos a valorizar
menos o ter e mais o s(ab)er ou continuamos a injectar dinheiro para cima dos
problemas, faltando apenas saber a data do incumprimento.