terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Mentalidade de Toubab

17 de Fevereiro de 2009, terça-feira. Há coisas que não mudam facilmente. Continuamos sem antena parabólica. Já tenho a televisão. Já dá para olhar para ela e imaginar como será quando funcionar. Os trabalhos da estrada chegaram a Gouraye. Já é do rio Senegal que tiramos água para as obras. As deslocações são agora muito grandes. O Xapi está a ficar muito grande. Adora ir para a horta fazer rali. Ontem caçou uma rola. Já o vi várias vezes com rãs na boca. Há que fazer pela vida. O Pedro Baptista esteve aqui vários dias, foi connosco a Bakel, na sexta-feira, foi um espectáculo. Parecia um daqueles dias, como inicialmente, boa companhia, muita Flag, muita energia. Comemos chibujine (prato local, com arroz, peixe e muito picante, come-se de um recipiente grande e único, à mão) e umas sandes de ovo. O Hassan fartou-se de dizer que a americana (esposa) do Pedro devia ir mais vezes a Dakar, para ver se ele vinha mais vezes a Selibaby. Ficou a promessa de voltar mais amiúde. A nossa bananeira grande, que todos diziam ser “macha” tem um cacho de bananas de tipo “XL”. Aqui tudo dá. Finalmente sete meses depois da nossa proposta, de fazer dalots “in situ” começou-se finalmente o betão do primeiro. Mais vale tarde que nunca. Na minha mentalidade de Toubab, há uma coisa que não irá entrar nunca, a falta de capacidade de antecipar situações e prever o que fazer para não se tenha que parar por falta de equipamento ou materiais, ou mesmo água… Estou a ouvir Jason Mraz, está-me a saber bem, condiz com o meu estado de espírito actual. Parece-me finalmente que as coisas em casa estão a ganhar caminho e a razão de ter vindo sobrepõe-se a tudo o que perdi. Mesmo em situações que à partida parecem não acrescentar nada, é sempre possível ganhar algo único. Nunca mais serei o mesmo, que saiu de Portugal à 18 meses. É verdade. Já passaram 18 meses. O tempo aqui passa diferente. Não digo mais rápido ou mais lento. Apenas diferente. Se por um lado parece que foi ontem, por outro foi à uma vida. As condições extremas predispõem-nos para atitudes mais intensas, por um lado surgem amigos improváveis por outro, aparecem uns indivíduos que nunca conseguirão ser Homens com agá grande.

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